La Liga Scouting #37 – Nico Williams (Athletic Bilbao)
De raízes profundamente regionais, o Athletic é certamente um clube único no contexto do futebol espanhol e mundial. Orgulhoso da sua herança basca, no clube de Bilbao só actuam mesmo jogadores nascidos e/ou fortemente identificados com a região do País Basco, que estejam umbilicalmente ligados às mesmas terras que os acompanham, a cada jogo, a partir das bancadas.
Naturalmente, isto leva a que a aposta na formação seja não só uma característica do Athletic como também uma constante. Todos os anos há novos jovens talentos bascos a despontar na equipa principal, lançados para serem os reforços de que a equipa precisa mas que, tantas vezes, não quer ou não pode ir buscar fora, de modo a manter-se fiel à sua identidade e tradição.
Um dos mais recentes talentos a sair da “Lezama” – nome dado à formação do clube basco – é Nico Williams. Nascido em Pamplona, Nico tem, porém, um detalhe distinto de praticamente todos aqueles que o antecederam. A particularidade de, com a sua estreia na equipa principal, já ter realizado um sonho que raras vezes se concretiza no futebol: jogar com o seu próprio irmão.
Foi isso mesmo que aconteceu pela primeira vez a 28 de Abril de 2021, quando Nico e Iñaki Williams – o seu irmão mais velho – saíram ambos do banco para partilhar o relvado do San Mamés, no empate a 2 frente ao Valladolid, num momento certamente invulgar na história do clube.
Iñaki, de 27 anos, leva já mais de 7 épocas na equipa principal e é uma das principais figuras actuais do Athletic, assumindo-se como um avançado consolidado no futebol espanhol. No entanto, a verdade é que o avançado pode nem sequer o maior talento da família, o que por si só diz muito da margem de progressão que Nico possui.
Aos 19 anos e na sua primeira grande temporada entre os mais velhos, este jovem começa agora a atrair os holofotes para si próprio.
O futebol de Nico
Entusiasmante. Dificilmente haverá melhor adjectivo para descrever aquele que é o estilo de Nico Williams. Os ingredientes estão todos lá: a qualidade técnica, a imaginação, o gosto pelo drible e a desfaçatez com que encara naturalmente adversários em situações individuais.
Altamente explosivo e ágil, já se vislumbra algum do seu massivo potencial em acções ocasionais onde cola a bola ao pé direito e arranca em drible pelo campo fora, batendo adversários em “slaloms” imparáveis. Williams é um desequilibrador natural, um “agitador”, e tem tudo para se poder transformar num atleta que muda o ritmo e o sentido do jogo com regularidade.
Pelo facto excepcional de jogar na mesma equipa e sensivelmente nas mesmas zonas do terreno que o seu irmão, as comparações cedo foram inevitáveis. No entanto, Nico e Iñaki são relativamente distintos dentro das quatro linhas. Enquanto Iñaki é um “9“, que claramente pertence à zona central e tem na procura da profundidade e na finalização duas das suas principais qualidades, Nico é mais um desequilibrador que um finalizador.
Capaz de jogar nos 3 corredores, é no centro do terreno que poderá maximizar o seu rendimento pois, à explosão e capacidade de drible que o seu irmão também demonstra, junta-lhe uma capacidade superior em espaços curtos e no passe. Para além disso, é também notório que o jovem basco possui uma maior destreza com ambos os pés em relação a Iñaki, o que consequentemente aumenta o seu leque de recursos técnicos e em momentos de finalização.
As primeiras oportunidades têm surgido no decorrer das partidas e a partir dos corredores laterais, procurando aproveitar os seus já referidos pontos fortes para acrescentar rasgo e fantasia ao futebol “rojiblanco“. Aqui, com a forte concorrência de Álex Berenguer e do mítico capitão Iker Muniain, o espaço de Nico para se impor de forma indiscutível no 11 de Marcelino Toral é para já algo reduzido. Por outro lado, a sua integração progressiva na equipa permite também retirar alguma pressão do seu desenvolvimento e das naturais expectativas criadas.
É pois necessário ter os pés bem assentes no chão relativamente a este jovem talento. Até pela sua tenra idade, há ainda várias debilidades físicas e ao nível da tomada de decisão no futebol de Nico, e talvez essa seja também uma das razões que justifica a sua maioritária utilização como uma alternativa vinda do banco. Porém, estas são limitações que podem ser trabalhadas e que certamente se desvanecerão à medida que o jogador for evoluindo e adquirindo maior consistência nas suas exibições.
No fundo, é bem provável que o futuro nos traga um Nico a criar as oportunidades que Iñaki poderá finalizar, à medida que o futebol de ambos os irmão se complementa, para gáudio de todos no San Mamés e na “La Liga”.