La Liga Scouting #26 – Rafa Mir (SD Huesca)

Bruno DiasMarço 31, 20215min0

La Liga Scouting #26 – Rafa Mir (SD Huesca)

Bruno DiasMarço 31, 20215min0
Capítulo #26 do "La Liga Scouting", espaço das próximas figuras do futebol espanhol. Hoje, com uma das revelações ofensivas da temporada.

A edição 26 do “La Liga Scouting” leva-nos à comunidade de Aragão, e mais concretamente à cidade de Huesca, para conhecer melhor um jovem que prometeu muito e que vem agora, aos poucos, começando a confirmar o seu talento no clube local. Rafa Mir tem 23 anos, vai já na sua terceira temporada de passagem pela La Liga, mas a temporada 2020/21 tem sido, sem sombra de dúvida, a de afirmação total no panorama do futebol espanhol. São já 11 golos em 29 jogos, divididos entre a liga e a Taça do Rei, que ajudam a cimentar Rafa como uma das boas revelações desta época espanhola.

Filho de um antigo futebolista, Rafa começou a jogar em Murcia, cidade onde nasceu. Primeiro no futsal e, mais tarde, no futebol, o jovem demonstrou desde muito cedo uma extraordinária aptidão para o golo, e tais predicados atraíram a atenção dos principais clubes espanhóis. Aí, Rafa Mir escolheu ir para “La Masia“, famosa academia do FC Barcelona que, na altura, era altamente prestigiada e reconhecida a nível mundial. Porém, e apesar de muitos golos para contar (novamente!), a sua estadia em terras catalãs durou pouco e o jogador regressou a Murcia.

No entanto, não haveria de passar muito tempo até que pudesse novamente “dar o salto”. O Valencia demonstrou grande interesse em contar com o jovem goleador nas suas fileiras e, em 2012, Rafa rumou às camadas jovens dos “Chés“. Por lá, continuou a marcar golos – pois claro -, tanto nas competições locais e nacionais como na própria UEFA Youth League. Não foi, por isso, surpresa que a estreia pela equipa principal tenha chegado em 2015/16, pela mão do português Nuno Espírito Santo, à data treinador do clube. Rafa – ainda com idade de júnior – não teve grandes oportunidades, mas coleccionou também uma estreia europeia, primeiro na Champions League (frente ao Zenit) e depois na Europa League (frente ao Rapid Viena), numa temporada desastrosa para o Valencia, que conheceu 3 técnicos distintos.

Seguiu-se um período “turbulento” na carreira de Rafa, com a chegada a sénior. O espaço na primeira equipa fechou-se, e Rafa manteve-se no Valencia Mestalla, a equipa B do clube. Aí permaneceu até Janeiro de 2018, altura em que Nuno, agora treinador do Wolverhampton, o levou para Inglaterra. Mas também aí as coisas não correram bem, e sucederam-se empréstimos a Las Palmas e Nottingham Forest, sempre sem grande sucesso.

Até que chegou o Huesca. Rafa chegou (em 2020), viu e venceu, apontando 9 golos em 18 jogos e ajudando o clube a conquistar a subida de divisão. O resto… é história.

(Foto: cope.es)

Com 5 golos em 10 jogos pela selecção sub-21, Rafa é também um avançado com alguma presença recente nas selecções jovens espanholas. Dada a escassez de opções de real qualidade para a frente de ataque, não será impossível sonhar com uma chegada à selecção A, a curto/médio-prazo.

Um atleta em clara e franca evolução.

 

O futebol de Rafa

Rafa Mir é, essencialmente, um homem que vive na área adversária. Apesar de possuir alguns recursos técnicos que o tornam num jogador interessante de acompanhar em todo o meio-campo ofensivo, é principalmente no último terço do terreno que o seu futebol assenta.

No 3x5x2 actualmente utilizado pelo Huesca, Rafa possui maior liberdade para dar asas à sua mobilidade, juntamente com um parceiro de ataque mais rápido e técnico (normalmente, Sandro Ramírez). Nunca dá uma bola por perdida, e o seu porte físico imponente (1,91m) é um factor com muito peso na forma como o espanhol desgasta defesas durante 90 minutos. Um aspecto que, de resto, permite também à equipa optar muitas vezes por um futebol mais directo, sabendo que é bastante provável que Rafa consiga manter esses lances jogáveis em duelos aéreos.

Tecnicamente, não sendo um portento, é um avançado bastante capaz e com alguns detalhes de grande nível, nomeadamente ao nível do primeiro toque e da finalização. Demonstra ainda algumas dificuldades na forma como se associa com os seus companheiros. Contudo, esta é uma questão que aparenta ser mais relacionada com o seu contexto actual do que propriamente com dificuldades técnicas ou de leitura de jogo para o fazer de forma capaz. Também não é um jogador com grande agilidade, o que o pode prejudicar em certas acções, sobretudo quando obrigado a trabalhar em espaços curtos.

Mas é nos últimos metros que Rafa Mir realmente ganha uma outra dimensão. Seja na movimentação dentro de área ou na forma como arranca em drible para abrir espaço ao seu potente remate, a variedade de soluções que o espanhol consegue encontrar para finalizar está acima da média. Agressivo sobre a bola, é uma ameaça premente sempre que um cruzamento cai na área, pelo instinto que possui. É, aliás, dessa forma que surgem vários dos seus golos, seja finalizando com o seu pé direito (o mais forte) ou de cabeça.

Faltará ainda um maior espaço temporal de constante rendimento para que melhor se possa perceber até onde pode Rafa Mir chegar. No entanto, a amostra dos últimos meses é bastante boa, e deixa no ar a possibilidade de estarmos na presença de um avançado que poderá voar mais alto, em clubes de outra dimensão e em outras ligas de topo europeias.


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