La Liga Scouting #22 – Marcos Llorente (Atlético Madrid)

Bruno DiasDezembro 19, 20205min0

La Liga Scouting #22 – Marcos Llorente (Atlético Madrid)

Bruno DiasDezembro 19, 20205min0
A 22ª edição do "La Liga Scouting" traz-nos um conceito diferente. Hoje falamos da transformação de um jogador. Eis... Marcos Llorente.

Ao contrário da grande maioria dos casos referidos nesta rúbrica, o jogador #22 do “La Liga Scouting” não será, de todo, um desconhecido para a generalidade dos adeptos que seguem os principais clubes do futebol europeu. Marcos Llorente joga actualmente no Atlético Madrid, conta já com cerca de 5 anos de experiência na “La Liga“, quase 100 jogos e vários momentos de brilhantismo nos relvados espanhóis. No entanto, havia algo que não era de todo conhecido neste espanhol: a sua veia criativa e ofensiva.

Curiosamente, a carreira de Llorente teve início no eterno rival do Atlético, o Real Madrid, clube ao qual chegou com apenas 13 anos. Foi aí que fez todo o seu percurso formativo, tendo ganho alguma notoriedade no clube à medida que se aproximava da equipa principal, essencialmente pela combinação de recursos técnicos e dinamismo que apresentava numa posição tão fulcral para o colectivo como a de médio-defensivo.

Chegado a sénior, e sem espaço num plantel campeão europeu em título, comandado por Zinedine Zidane, Llorente rumou ao Alavés por empréstimo, de forma a encontrar um espaço onde pudesse continuar a sua evolução de forma regular. Uma decisão que acaba por se revelar muito bem-sucedida, pois Llorente assume-se como uma das figuras da equipa e as suas exibições acabam por levar ao seu regresso ao Santiago Bernabéu, no final da temporada. Só que, no plantel dos “blancos“, havia Casemiro, e o brasileiro era dono e senhor do lugar.

Com poucas oportunidades no Real, Marcos Llorente troca os “merengues” pelos “colchoneros” em Julho de 2019, a troco de 30M€, sob a premissa da substituição de Rodri, que havia rumado ao Manchester City de Pep Guardiola. Contudo, a sua primeira época no Wanda Metropolitano não lhe corre de feição, e o médio vê-se novamente com poucas oportunidades para demonstrar o seu valor, à semelhança do que havia acontecido nos rivais de Madrid, há bem pouco tempo na sua carreira.

É então que chega… Anfield, e o Liverpool de Jurgen Klopp.

(Foto: cityam.com)

A “transformação” de Llorente

11 de Março de 2020. Por toda a Europa, os estádios começam a ficar vazios e as competições preparam-se para uma suspensão de várias semanas. Em Anfield, disputa-se aquela que será a última grande partida do futebol europeu deste ano com um estádio completamente lotado, por conta da pandemia Covid-19.

Liverpool e Atlético Madrid defrontam-se na segunda mão dos Oitavos-de-final da Champions League, depois da equipa espanhola ter vencido por 1-0 na primeira mão. Por volta da hora de jogo, e já em desvantagem por 1-0, Llorente entra para jogar… como avançado, no lugar de Diego Costa. O jogo chega ao prolongamento, e Roberto Firmino coloca o Liverpool novamente em vantagem, perante um domínio claro dos ingleses no jogo. Mas depois… apareceu o avançado Marcos Llorente. Com 2 golos, colocou no Atlético nos quartos-de-final, eliminando o campeão europeu em título no seu próprio recinto.

É a partir deste jogo que Diego Simeone começa a operar aquela que é talvez a sua maior evolução individual de um jogador enquanto treinador dos madrilenos. Pouco utilizado até então enquanto médio mais defensivo do miolo, constantemente “tapado” por jogadores mais conceituados e/ou rotinados com o estilo de jogo como Koke, Saúl ou Thomas Partey, o jogo de Anfield leva Simeone a olhar para Llorente com outros olhos. Utilizando-o como segundo avançado, apercebe-se que o rendimento do jogador sobe exponencialmente. Llorente revela-se claramente influente em vários resultados positivos do Atlético, envolve-se bem mais no jogo “colchonero” e conquista inegavelmente o seu espaço no “11” do treinador argentino.

Obviamente, a isto não será indiferente o perfil do próprio jogador. Falar de Marcos Llorente sempre significou falar de um “6” moderno, pouco dado ao perfil mais clássico e conservador da posição, onde as qualidades defensivas se revelavam muitas vezes como as únicas necessárias para o sucesso. O espanhol, mais do que forte no plano físico e atlético ou bastante capaz no desarme, sempre foi um médio com qualidade técnica suficiente para se sentir à vontade nas fases de construção da sua equipa. Sempre possuiu uma meia distância assinalável. Sempre demonstrou o dinamismo, a rotação e a versatilidade no seu jogo para desempenhar várias funções na zona central do terreno.

Como avançado, no 4x4x2 relativamente clássico de Simeone, Llorente encontrou então espaço para combinar todas estas características e colocá-las ao serviço do colectivo. Criativo e dinâmico, o adiantamento no terreno desvendou também uma qualidade na finalização até então desconhecida, e uma acutilância que dificilmente teria vindo ao de cima caso o jogador continuasse a actuar numa posição mais recuada e de forma mais intermitente. De resto, depois da utilização como avançado, Llorente já foi também utilizado a partir das alas, igualmente com bastante sucesso.

Aos 25 anos, Llorente descobriu uma posição que lhe mudou a carreira, e o Atlético descobriu uma nova força ofensiva no seu plantel. Uma “transformação” tão inesperada quanto positiva para todas as partes.


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