Cortes salariais em tempos de pandemia são merecidos?

Fair PlayAbril 11, 20203min0

Cortes salariais em tempos de pandemia são merecidos?

Fair PlayAbril 11, 20203min0
Os futebolistas são vistos como uma classe privilegiada e por isso é fácil apoiar cortes salariais nesta área. Mas será tudo assim tão claro? Descobre tudo aqui!

Artigo de Opinião escrito por Guilherme Catarino

Abalados por uma pandemia que a cada dia que passa vai marcando a sua presença, e que submete o país a um estado de emergência caracterizado por um período de quarentena residencial, inúmeras dúvidas surgem por responder ao cidadão comum: como ficarão os empregos de cada um? Dever-se-á retirar dos salários mais chorudos para oferecer aos mais desfavorecidos? Como impedir esta degradação social e económica?

Apenas para elucidar o leitor menos atento, segundo dados trazidos a público pelo jornal Expresso, em quatro meses do novo ano, as inscrições diárias nos centros de emprego duplicaram face ao ano transato, o número de novas prestações de desemprego aumentou cerca de 65%, e várias empresas (nomeadamente desportivas, como veremos infra) estudam ou já optaram por um período de lay-off.

Tive oportunidade há poucos dias de ler um artigo do humorista Diogo Faro, onde este ironizava quanto à polémica opção de certos desportistas em se recusarem a reduzir os seus salários e entrar em lay-off (caso do Belenenses SAD). Crítica esta fácil, diria, porque para muitos, um atleta (nomeadamente um futebolista) é tomado como “um sortudo que recebe milhões”. Certamente se esquecem da história do melhor futebolista português de sempre, ou simplesmente não a conhecem; o que aceito. Não entrarei, porém, por aí.

Alguns jogadores não têm problemas com os cortes salariais, mas não é assim para todos (Foto: Alejandro Garcia – EPA)

A verdade é que alguns clubes estão, independentemente da opinião dos seus atletas, a seguir os processos de redução salarial, o que levará, certamente, a eventuais casos (porventura) extremos de tentativas de rescisão contratual. A propósito desta temática e das “férias impostas” aos futebolistas, atentei recentemente numa entrevista feita pela Rádio Renascença, ao psicólogo Jorge Sequeira, onde o entrevistado defende de maneira acérrima a precaução dos jogadores quanto a decisões que lhes possam vir a custar o futuro. Especialmente aqueles que ganham um ordenado “menor”, digamos, em proveito de uma carreira curta como é a de um jogador de futebol.

É por volta dos 35/36 anos (altura de final de carreira para um atleta) que a maior parte das pessoas começam a ganhar melhor nos ramos onde exercem, pelo que as necessidades de segurança de um jogador veem-se hipotecadas quando o dinheiro lhes começa a sair do bolso, sem o apoio usual dos clubes ou patrocinadores.

Com esta exposição apenas pretendo colocar nas cabeças dos leitores uma pergunta: deverão os atletas profissionais ser tratados como regulares “trabalhadores de uma empresa” e, assim, respeitar possíveis cortes salariais, ou como entes dignos da indústria que representam e, desta forma, poder arguir contra cortes salariais mais acentuados em prol desse mesmo estatuto?


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