Como vai funcionar a Liga das Nações para Portugal?
O Desporto Rei está sempre em constante mudança e a UEFA estreia agora em 2018 a sua nova competição: a Liga das Nações! O Fair Play já tinha explicado os moldes desta prova (ver tudo aqui: Liga das Nações como funciona) que passa a existir entre os anos de Europeus… ou seja, realiza-se entre o ano do Mundial e o ano pré-Europeu, substituindo os amigáveis internacionais na Janela de Março, Setembro e Novembro.
Dividida em quatro divisões, Portugal está na primeira liga e ficou entregue ao grupo da Itália e Polónia, com jogos de ida e volta. Os comandados de Fernando Santos entram em campo no dia 10 de Setembro, em pleno Estádio da Luz, na recepção à nova Itália, depois dos transalpinos terem falhado o acesso ao Mundial 2018. Segue-se uma viagem até Chorzów, na condição de “convidado” da Polónia, isto a 11 de Outubro. E, finalmente, em Novembro dupla jornada para fechar as contas a 17 e 20 desse mês: visita a San Siro e recepção em Guimarães à Polónia.
O 1º lugar do grupo dá acesso às meias finais da Liga das Nações (ainda não foi sorteado o cruzamento dos grupos), enquanto que o 2º nada dá, mas o 3º leva à descida de divisão para a Divisão B. Ou seja, é uma liga bem interessante, perfumada com uma dose de pressão-extra e um desejo de somar um título novo que pode dar uma confiança extra para o Europeu.
Para as Quinas é uma missão complicada ficar num grupo difícil (o mais básico é o que compõe o da Bélgica, Islândia e Suíça, sendo que o mais extreme é que contem as selecções da Holanda, Espanha e França) com uma Itália desesperada por “lavar a cara” e recomeçar de novo e onde subsiste uma Polónia em franca renovação das suas hostes, que poderá ser sempre um problema no que toca ao choque físico.
A grande questão de Fernando Santos, e de todos os outros seleccionadores, é o facto de que esta Liga das Nações vai impedir, à partida, de lançar novos internacionais com facilidade. Ou seja, os amigáveis de outrora permitiam estreias de atletas menos destacados, oferecendo uma oportunidade de estes mostrarem a sua qualidade. Casos de Kevin Rodrigues, Edgar Ié, Gonçalo Paciência, Ricardo Ferreira, ou mesmo de Rúben Neves, Ricardo Pereira ou Bruma são claros exemplos de jogadores que poderiam ter de esperar algum tempo até à sua primeira internacionalização, porventura do seleccionador nacional não querer arriscar em competições à séria para testar novos atletas.
Por um lado, a UEFA consegue “silenciar” as constantes críticas dos clubes devido às lesões ocorridas em amigáveis dispensáveis a seu ver, abrindo também um espírito competitivo intermédio entre provas magnas, solidificando processos e elencos. De outro ponto de vista, tira-se a oportunidade de novos internacionais surgirem no espectro dos seus países, assim como coloca-se uma pressão extra na procura de soluções e construção de identidades de forma a escapar ao processo de relegação.
Para Fernando Santos é uma prova que entra na mentalidade do “é para vencer… ou vencer”, pois não pode existir outra solução que não conquistar o 1º lugar do grupo e tentar ir ao título. Uma relegação para um país da dimensão de Portugal pode e será entendida como um retrocesso na sua afirmação no panorama internacional. Contudo, será de crer que haja um abanão profundo a esta competição nova da UEFA se uma Inglaterra, Holanda, Espanha ou mesmo Itália descerem ao Grupo B.
Posto isto, Portugal não terá outra solução que não apresentar o seu melhor onze de modo a superar esta fase de grupos, garantir um lugar na fase a eliminar e ter uma vantagem ligeira para o apuramento para o Europeu de 2020 (a Liga das Nações influencia directamente a qualificação para o mesmo). Por isso, o que esperar de Fernando Santos em termos de convocatória? Será que se vai basear no setup escolhido para o Mundial de Futebol?
Possivelmente será esse o caminho, apesar de existirem mudanças forçadas no elenco a convocar. Quais? Vejamos alguns jogadores que podem entrar e outros quantos que podem sair.
GONÇALO GUEDES
De uma época de excelente nível no CF Valência em 2017/2018, para um reinício de temporada muito cinzento, cheio de dúvidas e sem destino definido. O internacional português, que realizou um Mundial abaixo das expectativas (faltou-lhe essencialmente confiança na área, acerto no remate e um melhor controlo de bola e auxílio à defesa) não conta para Thomas Tuchel no Paris Saint-Germain e está à espera de pretendentes da La Liga. Enquanto ninguém se aventura na aquisição do seu passe, o extremo/avançado está sem minutos nas pernas e é quase certo que não será convocado… ou pelo menos não vai alinhar como titular.
RONY LOPES
Nova época, mesmo estilo e mesmos números para o virtuoso extremo/médio-ofensivo português. Um atleta multifacetado, que facilmente imprime uma velocidade de categoria à sua equipa tem de ser aposta do seleccionador Nacional para esta Liga das Nações. É um daqueles riscos que vale a pena tomar, até porque traz toda uma panóplia de pormenores diferentes às Quinas. Facilmente encaixaria com Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e André Silva, muito por via da forma como assume um papel preponderante com o esférico nos pés, saindo a jogar em velocidade, em que a sua visão de jogo encontra facilidades na desconstrução dos processos defensivos contrários.
Pelo AS Monaco está em alta forma e tem de ser uma das novas “aquisições” de Portugal para os jogos internacionais.
CÉDRIC SOARES
Talvez seja o momento ideal para Fernando Santos arriscar na retirada de Cédric, nem que seja durante uns jogos, apostando definitivamente em Nelson Semedo, Ricardo Pereira e João Cancelo para as faixas laterais. Cédric é um jogador mediano a nível de clubes, mas com uma excelente entrega a nível de selecções, ocupando bem os espaços, defendendo bem as suas costas e que faz uma boa pressão ao extremo rival.
Todavia, estes pontos não são suficientes para ser um titular assumido na selecção Nacional nos dias de hoje… é preciso algo mais e tanto Semedo como Ricardo Pereira ou João Cancelo podem garantir outro patamar para Portugal. Arrancou a titular no Southampton e tem-se mantido assim, só que os outros três têm-lo conseguido também. Oportunidade para experimentar coisas novas?
RÚBEN NEVES
É o momento perfeito para as Quinas testarem a introdução de um 6 móvel, genial na transição, quase perfeito na colocação de bola em profundidade, com um perfume de excelência na entrega do esférico ao companheiro ou no bombardear a área contrária com remates ou cruzamentos. Não é um trinco físico, ao género de Danilo Pereira, mas não há dúvidas que é um tipo de jogador moderno, com possibilidade de jogar não só a 6 como a 8, oferecendo um outro contexto táctico que Portugal não teve no Mundial.
Recuperador de bolas nato, não se assume como um destruidor volátil das transições adversárias, o que explica talvez o facto de Fernando Santos não ter confiado em Rúben Neves para a maior prova de nações à escala Mundial. Danilo Pereira está longe de recuperar e William Carvalho poderá descansar nos primeiros jogos da Liga das Nações, abrindo talvez uma oportunidade ao jogador do Wolves na Selecção Nacional.
JOÃO MÁRIO
Exactamente as mesmas razões que Gonçalo Guedes: faltam-lhe minutos competitivos nas pernas. Ainda alinhou nuns quantos amigáveis pelo Inter de Milão e parecia poder contar para Spalletti, todavia a vontade do médio português é de sair de Itália o mais rapidamente possível. Tem tentado forçar uma transferência para outro campeonato, só que até este momento não houve notícia de interessados.
Está na mesma situação que o avançado do PSG e por essa razão, Fernando Santos poderá não ter argumentos para contar com o ex-Sporting CP. É um atleta diferente, com um estilo de jogo bem ritmado, onde o passe costuma ser quase certo, para além de alimentar a discórdia entre os defesas contrários na hora de marcar. Sem a forma ideal, contudo, não será uma opção de valor para embates físicos ante a Polónia e Itália.
NELSON SEMEDO
Discussão… entra Semedo ou Cancelo? Se Nelson Semedo é um lateral de um apuramento físico de topo, onde se denota uma facilidade notável em subir e descer na ala, para além de garantir um apoio de qualidade ao extremo, Cancelo é um virtuoso com o esférico nos pés, dotado no passe e que gosta de se envolver nos processos ofensivos através da técnica e genialidade.
Podem entrar os dois e sair Ricardo Pereira… contudo, o lateral do Leicester City tem sido dos melhores na sua posição neste início de Premier League, oferecendo uma série de soluções a nível de posicionamento que nenhum dos outros laterais garante. Vai ser uma daquelas boas dores-de-cabeça de Fernando Santos, até porque Cancelo pode ir para a esquerda, substituindo com qualidade Raphael Guerreiro.
Estas são só algumas das alterações que Fernando Santos pode optar por, mas quem conhece bem o timoneiro português sabe que em posições a doer vai optar por usar os atletas que melhor conhece e confia. A maior questão é o estilo de jogo que Portugal vai optar por: dar liberdade a atletas como Bernardo Silva, Rúben Neves, João Mário e Adrien Silva no “miolo” ou vai “amarrar” a equipa a processos defensivos bem esboçados mas que tiram algum espaço à criatividade ofensiva?