Como está a escola de treinadores portugueses?
O treinador português é um dos mais reputados ao nível mundial, posto que conquistou no século XXI. Tornou-se cada vez mais notória a presença de técnicos lusos no panorama global, quando anteriormente era apenas aposta em solo nacional, ou em países com uma intima relação linguística. Há um grande responsável por este ponto. José Mourinho é o melhor timoneiro português de todos os tempos e as suas conquistas levaram a que a aposta nos seus conterrâneos fosse superior.
Em Portugal, cada vez mais assistimos a elementos que tiram cursos de treinador, os famosos níveis UEFA. No entanto as vagas são limitadas, o que leva a várias pessoas, que até podem nem estar relacionadas com o futebol, a desistirem desse sonho (daí a obrigatoriedade deste sistema ser tão questionada, inclusivamente por mim). Outrora, os jovens queriam ser jogadores e brilhar dentro das quatro linhas. Hoje em dia, há uma maior disparidade. Há quem sonhe com a direção desportiva, outros gostariam de ser treinadores. Ao nível nacional, o grande culpado disto é José Mourinho e os seus resultados. Tal como Marcelo Bielsa, o natural de Setúbal poderia já ter a sua árvore genológica no futebol, onde até nomes estrangeiros apareceriam.
No entanto, olhamos para o panorama atual e os técnicos portugueses estão pouco presentes nos campeonatos de topo e isso traduz-se negativamente para essa escola. Paulo Fonseca no AC Milan, Marco Silva no Fulham e Nuno Espírito Santo no Nottingham Forest, são os representantes de Portugal nas Big 5. É manifestamente pouco, quando há uns anos víamos André Villas-Boas, Bruno Lage ou Leonardo Jardim em clubes de topo. Há que entender que existem escolas que estão num patamar superior, como a espanhola ou a italiana, que contam com mais elementos e são os que “ditam as regras” neste momento, encabeçados por Pep Guardiola e Carlo Ancelotti.
🏆2x Champions League
🏆2x Europa League
🏆1x Conference League
🏆8x League titles
🏆8x Domestic cups
🏆5x Domestic super cups🥇2x UEFA Manager of Year
🥇1x FIFA Manager of Year
🥇4x IFFHS World Best Club CoachJose Mourinho turns 61 today🥂🎉 pic.twitter.com/KWWxvwdVKp
— MourinhoXtra™ (@Mourinho_Xtra) January 26, 2024
Os treinadores nacionais têm optado por duas vias que tampouco ajudam ao desenvolvimento do grupo. A primeira é a viagem para o Brasil. Jorge Jesus não foi o primeiro, mas alcançou um sucesso gigante ao serviço do Flamengo. Isto fez com que o Brasileirão colocasse os olhos em Portugal. Abel Ferreira está a fazer um trabalho gigante no Palmeiras. Pedro Caixinha é um nome conceituado. Artur Jorge e Petit estão a ter desempenhos muito satisfatórios. Outros não singraram, como Álvaro Pacheco ou Pepa, mas também não parece que tenham perdido mercado (o ex-Vasco da Gama já trabalha de novo). Rumar ao país da América do Sul transformou-se numa fórmula para se lutar pelo sucesso, num futebol totalmente distinto do português. No entanto, as suas capacidades são pouco desenvolvidas. O treinador português tem ajudado mais o futebol brasileiro, do que vice-versa. Olhemos ao exemplo de Abel Ferreira. É ídolo no Palmeiras, transformou o clube numa máquina de ganhar títulos. Porém, num plano individual, qual é o seu mercado? Basicamente o mesmo desde o primeiro dia que aterrou em São Paulo. Na Europa, imaginamos o antigo lateral direito em Benfica, FC Porto ou Sporting e em turmas de um segundo patamar do continente, como o Marselha ou o Valência. É complicado vê-lo na “nata”, como um Manchester United ou um Chelsea (pegando em exemplos de turmas que vivem uma crise).
🚨 Aproveitamento dos treinadores do Vasco no Brasileirão 2024:
O interino Rafael Paiva alcançou a marca de 62% (G4).
4V 1E 2DRamón Diaz fez 25%.
1V 0E 3DÁlvaro Pacheco conseguiu apenas 8%.
0V 1E 3DNa média geral, Vasco tem 38% de aproveitamento (13° lugar).
— ✠Estagiário do VASCO✠ (@EstagiarioVasco) July 8, 2024
O exemplo de Abel Ferreira é o mais positivo, dado que é o que tem mais sucesso. A outra via é o Médio Oriente. Sejamos sinceros. Ninguém vai para a Arábia Saudita ou Catar apenas pelo nível futebolístico que existe por lá. É uma boa maneira de se garantir a reforma, um grande pé de meia. Mas isto também não ajuda às capacidades dos treinadores, portugueses ou não. No fundo, estão a fazer o mesmo que no Brasil. Aperfeiçoar o futebol local, tentando subi-lo para um patamar mais próximo do europeu, contando com jogadores que vão realizar a mesma função. Jorge Jesus não aprendeu nada no Al Hilal. Nuno Espírito Santo ganhou a Liga Saudita e isso não o beneficiou em nada. O antigo guarda-redes está na Premier League pelo que fez nesse campeonato e não pelo trabalho no Al Ittihad.
Para que o treinador português volte a ser cobiçado na Europa, têm que desenvolver o seu trabalho no continente. Paulo Fonseca e Marco Silva estão nos postos que ocupam mesmo por isso. Não necessitaram de ir para o Brasil ou para o Médio Oriente para alcançarem resultados, quando nesses lugares é mais fácil conquistar os três pontos, na teoria. Rúben Amorim ou Sérgio Conceição, têm lugar nas Big 5 e seguramente vão chegar lá sem rumar a outros mercados.
A somar ao distanciamento do treinador português da Europa, existiram uma série de nomes que não corresponderam às expetativas. Rui Faria, Mário Silva, Ivo Viera ou Pepa podiam ter sido líderes de uma geração, que acabou por não funcionar. São respeitados em Portugal, mas pouco mais do que isso, ainda que tenham mais que tempo para relançar as respetivas carreiras. Leonardo Jardim foi provavelmente a desilusão dos últimos 5/6 anos. Depois de trabalhos fantásticos em Sporting e Mónaco, as Big 5 são uma miragem para ele.
Leonardo Jardim.🇵🇹
Saiu do Al Rayyan essa semana.
Na carreira📊
526 jogos🏟️
287 vitórias✅
116 empates 🟰
123 derrotas❌
987 gols feitos⚽️
626 gols sofridos⚠️ pic.twitter.com/ha58DB3aow— Cifut Brasil (@CifutBR) July 2, 2024
A escola portuguesa não vive um momento alto. José Mourinho está em queda, e já está na fase “futebol turco”. André Villas-Boas preferiu ser presidente do FC Porto. Possivelmente o melhor treinador luso da atualidade encontra-se no Sporting. Não vai haver um timoneiro nacional a lutar pela conquista da Champions League durante 2024/25. Espanhóis, italianos e alemães estão à frente e o gap aumenta a cada ano que passa, devido a alguns fatores que abordámos neste texto. No entanto, há um ponto positivo. A próxima geração tem qualidade. Rúben Amorim lidera-a, como talento precoce, mas João Pereira, Gonçalo Feio, Filipe Coelho ou Vítor Bruno têm capacidade de se impor no futebol continental, pelo seu talento individual, podendo fazer o caminho que José Mourinho fez até ao topo. É importante manter o foco e aceitar os projetos certos.
O mundo dos treinadores pouco olha às nacionalidades, já que falamos de uma linguagem global. Não há nada de errado em deixar o futebol nacional/europeu, para rumar a ligas periféricas, mas esta movimentação não ajuda à escola no seu geral. Basicamente é fugir aos grandes desafios, que não se encontram no Rio de Janeiro ou em Riade, mas sim em Madrid, Londres, Milão, etc.. Nas Big 5 existem 96 vagas. Para que a escola portuguesa volte ao topo, é importante os seus representantes ocupem uma boa percentagem dos lugares existentes e não apenas 3,13%. Veremos a escolha da próxima geração.