Super Liga Chinesa 2018: 6 pontos a reter nas primeiras cinco jornadas
A Super Liga Chinesa 2018 deu o pontapé de saída em inícios do mês de março e, com cinco jornadas já decorridas, o Fair Play partiu para a análise de vários aspetos que marcaram, até ao momento, o campeonato.
FP +
Arranque implacável do Shanghai SIPG
2018 não poderia correr de melhor forma para os comandados de Vítor Pereira. O Shanghai SIPG entrou com o pé direito na presente temporada e as estatísticas falam por si. No campeonato, as Águias Vermelhas somam cinco vitórias, 19 golos marcados e apenas 4 sofridos. Pelo meio está presente a incrível goleada frente ao Dalian Yifang por uns expressivos 8-0 e um triunfo difícil por 2-5 no reduto do Guangzhou R&F. Será este o ano do tão ansiado título?
Na Liga dos Campeões Asiáticos, a situação é igualmente favorável. Primeiro lugar do Grupo F, com 11 pontos conquistados (3 vitórias e 2 empates), num lote de equipas como Ulsan Hyundai, Melbourne Victory e Kawasaki Frontale. O apuramento para a fase seguinte pode já ser carimbado na próxima partida a ser disputada na Austrália.
A(S) FIGURA(S)
Wu Lei. O extremo internacional chinês atravessa um momento de forma diabólico. Tem sido, a par de Oscar, o grande destaque do seu conjunto desde a chegada do técnico português. Soma um total de 8 golos e lidera a tabela de goleadores, sendo perseguido por Alan do Guangzhou Evergrande e Eran Zahavi do Guangzhou R&F, ambos com 6.
As mudanças introduzidas por Vítor Pereira têm vindo a potenciar ainda mais aquelas que são as suas principais virtudes. O Shanghai SIPG é hoje uma equipa não tão forte no capítulo da posse, mas sim na transição ofensiva e na forma como reage à perda da mesma. E, sobretudo neste quesito, Wu Lei consegue demonstrar o porquê de ser rotulado de golden boy chinês da atualidade. A sua rapidez, o drible e a forma como se envolve com Oscar, Hulk e Elkeson no ataque, tem causado imensos estragos nas linhas defensivas adversárias.
Saiba mais sobre o Shanghai SIPG de Vítor Pereira aqui.
Jiangsu Suning e um manual de como combater as dificuldades
Após um ano de 2017 pouco famoso a nível desportivo e recheado de problemas internos, o futuro do Jiangsu Suning parecia condenado à entrada para a nova época. A liderança de Fabio Capello foi constantemente colocada em causa e as divergências com a direção ditariam, mais tarde ou mais cedo, o seu despedimento que, aliás, esteve muito perto de acontecer no final da temporada.
O Jiangsu entrou a vencer na jornada inaugural, com um triunfo surpreendente em Guizhou, por 1-3, e deixou excelentes apontamentos dentro das quatro linhas. O técnico italiano, apesar da ausência de Ramires, encontrou o ponto de equilíbrio e, baseando-se num 1-4-4-2 tradicional, combateu as gritantes lacunas defensivas demonstradas pela equipa ao longo do tempo. No entanto, à passagem da terceira jornada, e depois de um desaire pesado aos pés do Chongqing Lifan de Paulo Bento por 4-1, precedido de um outro frente ao Beijing Sinobo Guoan na anterior, a bolha rebentou. Capello, o mesmo que salvou o Jiangsu Suning da descida de divisão no ano transacto, deixou as suas funções e, consequentemente, uma equipa à deriva.
As razões que motivaram a sua saída são várias. Segundo a comunicação social chinesa, foram três os principais focos do choque entre o experientíssimo técnico italiano e a direção do clube:
- A equipa não se reforçou como o mesmo desejava no mercado de inverno e, de jogadores extracomunitários apenas Gabriel Palleta, ex-AC Milan e Richard Boakye, ex-Estrela Vermelha, foram recrutados dentro de um orçamento limitado;
- A saída de Benjamin Moukandjo, um dos seus preferidos, para o Beijing Renhe ao invés de Alex Teixeira para o Corinthians, vetada pelo próprio corpo directivo;
- As expetativas da direção em garantir a qualificação para a Liga dos Campeões Asiáticos, algo que o próprio considerava como sendo um objetivo irrealista.
Para o seu lugar foi anunciado Cosmin Olăroiu – prontamente, diga-se – treinador romeno de enorme craveira no futebol asiático, com experiências bastante positivas, sobretudo, na Seleção da Arábia Saudita, Al-Ahli Dubaï e Al Ain. Com a mudança, o Jiangsu somou a segunda vitória consecutiva – a primeira por 2-1 frente ao Tianjin TEDA -, numa performance imaculada contra uma das formações mais difíceis do campeonato, o Guangzhou R&F.
A(S) FIGURA(S)
Alex Teixeira e Huang Zichang. O brasileiro esteve perto de regressar ao Brasil, mas a sua permanência enriquece e de que maneira o futebol chinês. É o grande líder, na ausência de Ramires, e o futebol de toda a equipa passa pelos seus pés. Desequilibrador, drible desconcertante, rápido e faro goleador, Alex Teixeira tem beneficiado e muito do novo sistema táctico implementado, ao atuar como falso ponta-de-lança, seja nas costas de Boakye ou mesmo de Huang Zichang.
O atacante chinês, de 21 anos, foi uma das apostas de Fabio Capello e a sua titularidade tem sido bem justificada. Corajoso, sem receio de se envolver em situações de 1×1, ágil, tecnicista e com um fantástico espírito combativo. No embate frente ao Guangzhou R&F, foi o autor do primeiro golo e sofreu um penalty que Teixeira converteu com sucesso para carimbar o resultado final. Poderá ser um caso sério para o futuro.
FP –
Manuel Pellegrini e um início desapontante do Hebei China Fortune
As expectativas em relação ao Hebei China Fortune eram imensas e acabaram por ser um pouco defraudadas devido a um início inconstante da equipa liderada por Manuel Pellegrini.
O técnico chileno quase atingiu uma vaga na AFC Champions League em 2017, depois de uma sublime recta final de campeonato, e perspetivava-se uma entrada em full mode na presente temporada. Um empate inaugural contra o Tianjin TEDA graças, acima de tudo, a uma exibição um pouco cinzenta, suscitou algumas questões relativas à gestão do plantel. Isto porque a qualidade é, de facto, abundante, e Pellegrini tem várias soluções para preencher as posições do seu 1-4-2-3-1. A equipa perdeu Aloisio, um dos seus goleadores, mas ganhou Javier Mascherano, argentino que, ao desempenhar as tarefas de pivot defensivo, tornou-se numa das pedras fulcrais da equipa (Saiba mais aqui).
Posto isto, tendo em conta os onzes iniciais apresentados no decorrer das cinco jornadas, é justo afirmar que o Hebei ainda se encontra numa fase experimental, mas esta terá de ser ultrapassada urgentemente.
O 9º lugar na tabela, com 2 vitórias, um empate e duas derrotas conquistadas, 9 golos marcados e 10 sofridos, não espelha a qualidade de um elenco que tem capacidade e obrigação de demonstrar muito mais. Javier Mascherano, Zhang Chengdong, Ezequiel Lavezzi e Jiang Zhipeng são os principais nomes a ter em conta pela solidez exibicional que têm apresentado.
Guizhou Hengfeng e um calendário pouco favorável
Quatro derrotas e uma vitória em cinco jogos para o Guizhou Hengfeng de Gregorio Manzano, espanhol que assumiu o cargo a meio de 2017 e colocou um conjunto aparentemente condenado à descida de divisão num surpreendente 8º lugar.
O plantel foi reforçado, com algumas opções de muita experiência e qualidade, como Zhao Hejing, Zhu Zhengyu, Han Pengfei e, claro está, Bubacarr ‘Steve’ Trawally. O internacional gambiano, grande estrela das últimas temporadas do Yanbian Funde, um dos clubes relegados à China League One, tem sido um dos principais destaques e as aspirações de Manzano passam muito pelos seus pés, assim como pelos de Mario Suárez, o grande pêndulo da equipa.
Contra todos os prognósticos, os primeiros cinco encontros não correram de feição e o Guizhou tem revelado muitas lacunas e incapacidade de se impor perante os seus rivais. Os sistemas tácticos variam entre o 1-4-4-2 e o 1-4-2-3-1 e a fórmula parece ainda não ter sido descoberta, embora a reação a este último tenha sido, dentro da realidade, positiva.
Mas, mais do que tudo o resto, o calendário é o principal culpado da má fase da equipa. Até ao momento, o Guizhou enfrentou emblemas de calibre superior, como Jiangsu Suning, Hebei China Fortune, Shanghai Greenland Shenhua, Shandong Luneng e Tianjin Quanjian, pelo que o desafio não seria fácil em momento algum.
Restam imensas finais e Gregorio Manzano, melhor do que ninguém, sabe qual antídoto utilizar para reerguer uma vez mais esta instituição.
Dalian Yifang e um pesadelo interminável
A mudança de estatuto face ao investimento da Wanda Group na aquisição do clube, fez com que o estatuto do Dalian Yifang sofresse uma volta de 180 graus. De potencial relegado a possível equipa surpresa, muito por culpa das aquisições de José Fonte, Yannick Ferreira-Carrasco e Nicolas Gaitán.
A grande questão, no entanto, passa pelo timing da entrada do novo investidor. Isto porque uma estrutura desportiva e, sobretudo, uma equipa de futebol, necessitam de tempo para desenvolver o seu trabalho. As chegadas destes três elementos de qualidade inegável pecam por tardias pelos inúmeros fatores de risco que acarretam. Em primeiro lugar a adaptação e em segundo o entrosamento com o clube, corpo técnico e restante plantel. O Dalian Yifang carece de dinâmicas coletivas, de uma ideia de jogo e de conhecimento táctico nos dias de hoje.
Ma Lin, técnico chinês que assumiu o projecto inicialmente, não deve ser considerado como o principal culpado porque, por muito que o seu passado não seja brilhante, não conseguiu gerir todos os problemas que foram surgindo em seu redor. Após três derrotas consecutivas e com resultados bastante desnivelados, Lin cedeu o lugar a Bernd Schuster, alemão que se encontrava ausente dos relvados desde 2014. Numa primeira instância, o nome de Felix Magath faria sentido pela forma como havia reabilitado o Shandong Luneng no último ano e meio.
A verdade é que, com Schuster, o Dalian somou o segundo empate na Super Liga. O primeiro frente ao Henan Jianye (1-1) e o segundo com o Chongqing Lifan de Paulo Bento (2-2). Aos poucos, o dedo do ex-treinador de Real Madrid e Málaga CF vai sendo cada vez mais visível, e Yannick Ferreira-Carrasco, ao invés de atuar como avançado centro isolado dos companheiros, tem-se estabelecido como extremo descaído para a faixa esquerda. Marcou o seu primeiro golo em solo chinês frente ao Henan Jianye e as suas exibições atualmente têm sido muito satisfatórias.
No meio de sucessivos contratempos, conseguirá Schuster guiar o Dalian Yifang pelo caminho da salvação?
FP +/-
Tianjin Quanjian e a dificuldade em conciliar a Liga dos Campeões com o campeonato
As palavras de Paulo Sousa na mais recente conferência de imprensa, relativas à dificuldade da sua equipa em conciliar o campeonato com a Liga dos Campeões Asiáticos, determinam precisamente a dificuldade que o português tem sentido em gerir a condição física dos seus jogadores.
O Tianjin Quanjian começou de forma sublime a época e o trajecto realizado na competição milionária – ano de estreia do clube – pode ser considerado um sucesso. Apuramento confirmado, estando ainda o primeiro posto da tabela em disputa, num grupo extremamente competitivo. Porém, na Super Liga, o cenário não é o mais indicado: duas vitórias, três derrotas e um desapontante 10º lugar na classificação.
A filosofia do português mantém-se. O mesmo sistema táctico camaleónico com que conquistou a cidade de Florença está a ser implementado nesta sua nova aventura. Os jogadores assimilaram a ideia e os consequentes processos do jogo, mas o desgaste físico tem-se revelado o maior inimigo até ao momento.
Witsel, Alexandre Pato e Anthony Modeste são as principais figuras de um plantel recheado de ótimas soluções. A base de atletas chineses é acima da média, com Zhao Xuri, Wang Yongpo e Sun Ke em primeiro plano e Paulo Sousa pode sonhar bem alto. Falta apenas um pouquinho mais de solidez no capítulo da transição defensiva e, obviamente, de mais fulgor físico.