Campeonato da Europa feminino 2022 – é o momento de investir

Margarida BartolomeuAgosto 5, 20226min0

Campeonato da Europa feminino 2022 – é o momento de investir

Margarida BartolomeuAgosto 5, 20226min0
Enchentes, números recorde, adeptos fixados, o futebol feminino voltou a dar uma resposta forte no Campeonato da Europa e é altura de apostar seriamente

574.875 espectadores, 87.192 adeptos. Final do Campeonato da Europa. 31 de Julho de 2022

Estes números podem dizer pouco ao comum cidadão, mas ao adepto de futebol e, em particular, ao adepto de Futebol Feminino, estes números são muito mais do que a simples junção de dígitos. São a prova viva de que o futebol feminino está vivo, gera interesse e veio para ficar. Se 574.875 representa o record de espectadores durante um Campeonato da Europa Feminino, os 87.192 adeptos presentes em Wembley, a assistir à final entre a anfitriã Inglaterra, e a 8 vezes campeã Alemanha, representa um record absoluto de assistência em Europeus, quer masculinos, quer femininos.

Não significará isto que as pessoas querem, efetivamente, saber de futebol feminino?

Não serão estes números ilustrativos daquilo que o Futebol Feminino pode alcançar?

A resposta para ambas as questões é um forte “SIM!”. Ficou demonstrado, ao longo de todo o Campeonato da Europa, e caso dúvidas houvesse, de que o futebol feminino atrai adeptos, pode gerar receita, é apelativo, bem jogado, apaixonante e ainda mantém a essência do desporto, um espírito e intensidade, já difíceis de encontrar no futebol masculino. Estádios cheios, ambientes competitivos intensos, saudáveis, vivos e entusiasmantes, baseados no desportivismo e no amor a uma modalidade. Adeptos rivais, unidos pelo futebol bonito, bem jogado e demonstrativo da qualidade e perseverança da atleta feminina.

Após este Campeonato da Europa, torna-se “obrigatório” deixar de anunciar crescimentos hipotéticos, e partir para a ação. Está mais do que demonstrado que, investindo bem, e com as pessoas certas, o salto qualitativo (e quantitativo) será gigante, a nível das competições de clubes e, consequentemente, de seleções. A vitória da seleção inglesa é reflexo do trabalho extraordinário desenvolvido a nível interno, na aposta feita no desenvolvimento da liga, na sua profissionalização, na disponibilização das condições certas às suas jogadoras (infraestruturas, equipas técnicas, remuneração), para a sua prática e crescimento desportivo. Basicamente, é o reflexo do “deixar de recear a mudança”.

Para tal, colocaram-se as pessoas certas, nos lugares certos. O futebol feminino ainda é um nicho de mercado. Não movimenta milhões como o futebol masculino, e não gera valor da mesma forma. Por esta razão (e sim, o dinheiro é a principal razão), não é tão atrativo para investidores, para as federações, para os clubes, treinadores, comunicação social, etc. Mas se não se arrisca, como se pode saber se vai dar resultado? Está mais do que demonstrado que, quando se investe, o Futebol Feminino dá frutos. Para tal, basta referir o seguinte: os 3 jogos com maior assistência durante a época 2021/2022 foram o Inglaterra vs Alemanha (final do Campeonato da Europa feminino – 87.192 adeptos), o Barcelona vs Real Madrid (quartos de final da liga dos campeões feminina – 91.553 adeptos) e o Barcelona vs Wolfsburgo (meias finais da liga dos campeões feminina – 91.648 adeptos). Wembley e Camp Nou praticamente esgotados, em 3 ocasiões distintas.

E, após anunciar que iria defrontar a seleção dos EUA, atual campeã mundial, a seleção inglesa anunciou também que, em 24h, os bilhetes para esse jogo ESGOTARAM! Mais uma vez, espera-se um estádio de Wembley cheio, para um jogo de futebol feminino. Serão precisas mais provas de que, quando há aposta, quando há investimento, quando há crença, e se dá tempo ao tempo, o retorno acontece?

Há, também, que ser inteligente na escolha do momento certo para investir no desenvolvimento de algo que ainda não está totalmente enraizado na sociedade. A escolha do timing certo é essencial em vários momentos da nossa vida, e o futebol não é exceção. Por esta razão, há que saber aproveitar o balanço gerado por este Campeonato da Europa extremamente bem organizado e bem sucedido, saber aproveitar o interesse despertado na população, a paixão demonstrada por diversas crianças e jovens, e investir, atrair jogadoras, cativar adeptos, fidelizá-los a este desporto onde ainda permanece a essência da modalidade.

Os frutos desse investimento não serão atingidos a curto prazo, há que ter essa consciência. Mas este é o momento certo para o crescimento exponencial do futebol feminino, disso não há dúvidas. O boom está para breve, e quem não “apanhar o comboio” neste momento, terá muita mais dificuldade em fazê-lo de futuro.

No entanto, é essencial que os envolvidos neste crescimento, nesta aposta, neste investimento, evitem cometer os mesmos erros cometidos no futebol masculino. É imprescindível manter o foco, o bom senso, e evitar inflacionar valores (bilhetes, passes de jogadoras, etc.), ou o crescimento estará condenado, à partida.

Grande parte dos clubes envolvidos, e falo especificamente do caso de Portugal, não têm condições para pagar ordenados “chorudos”, nem massa adepta suficiente que justifique e aceite pagar elevados preços de bilheteira, o que poderá levar ao afastamento dos adeptos dos estádios, e à segregação das melhores jogadoras para as grandes equipas da liga (algo que já acontece, mas a uma escala relativamente baixa), levando à perda de competitividade da liga, e à estagnação do seu crescimento.

Apelo à comunicação social portuguesa para que contribua ativamente, e demonstre real interesse, pelo Futebol Feminino português. Capas de jornais, mais conteúdos disponíveis online, maior envolvimento das ex-jogadoras em reportagens, entrevistas. Façam chegar ao adepto de futebol conteúdos que cativem, que lhes desperte interesse pela modalidade, façam das jogadoras atletas relevantes no panorama nacional, joguem elas no Sporting, Benfica, ou no Varzim, Condeixa ou Guia.

Realcem a qualidade do futebol que praticam, com as poucas condições de que dispõem, a inexistência de VAR numa primeira liga que se pretende profissionalizar, os erros cometidos pelas equipas de arbitragem, o mau estado dos relvados (maioritariamente sintéticos), as dificuldades ultrapassadas pelas jogadoras para poderem jogar futebol. Dediquem-lhes tempo! Adotem o exemplo do jornal “Marca”. Invistam também vocês!

O crescimento e desenvolvimento de uma modalidade não depende apenas de um ou dois, depende de todos aqueles que tenham paixão por ela – atletas, federações, clubes, adeptos, comunicação social, TODOS, SEM EXCEÇÃO!


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