Burnley e Brighton- Como fazer mais com menos, responsabilidade Dyche e Hughton

Gonçalo MeloMarço 29, 20187min0

Burnley e Brighton- Como fazer mais com menos, responsabilidade Dyche e Hughton

Gonçalo MeloMarço 29, 20187min0
As belas temporadas de Burnley e Brighton, duas equipas apontadas à luta pela manutenção, que estão neste momento em posições confortáveis e a servir de exemplo a alguns históricos do futebol inglês.

Quando olhamos para a classificação da Premier League não podemos deixar de reparar nas performances muito acima da média de duas equipas em especial. Falamos do Burnley de Sean Dyche e do Brighton de Chris Hughton. Recuando a Agosto de 2017, seria impensável prever que as duas modestas equipas estivessem nos extraordinários 7º e 12º lugares que ocupam, elas que eram no início da época apontadas à aflitiva luta pela manutenção.

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Sean Dyche e Chris Hughton, dois técnicos a dar cartas (Foto: gazettelive)

Os comandados de Chris Hughton eram um dos principais candidatos à descida nas casas de apostas no início da época, apenas superados pelo Huddersfield. Mas um ataque eficaz ao mercado e a jogadores de grande nível, aliada a uma inteligente gestão do seu treinador, tornaram o Brighton numa das equipas mais interessantes da Premier League.

Os seagulls, como são conhecidos os elementos do Brighton, já foram analisados pelo Fair Play, e apesar de um período conturbado nos meses de Dezembro e Janeiro, voltaram às exibições e resultados positivos, apoiados nas suas principais referências, Davy Propper, Pascal Gross, José Izquierdo, Glenn Murray e o reforço de inverno holandês Jurgen Locadia. Um futebol positivo, de apoios, mas também muito forte no contra ataque devido à velocidade de Izquierdo. Uma equipa também muito forte defensivamente graças à dupla de centrais Duffy-Dunk e ao guarda-redes australiano Matthew Ryan.

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Propper e Izquierdo são fundamentais na equipa do Brighton (Foto: Zimbio)

O Burnley tem de ser considerada a equipa revelação do ano em Inglaterra. Com um dos planteis com menor valor de mercado da Premier League (apenas Bournemouth, Brighton e Huddersfield têm planteis menos valiosos segundo o Transfermarkt) a equipa orientada pelo carismático Sean Dyche está a realizar uma das melhores épocas da sua história, com um plantel curto, mas unido e trabalhador. Uma abordagem interessante ao mercado, contratando pouco mas de forma eficaz é também um dos principais pontos a favor da equipa do Burnley.

Jogadores como Steven Defour, Jeff Hendrick, Gudmunsson, Robbie Brady ou Chris Wood são todos jogadores com duas épocas no máximo ao serviço do clube, e foram todos contratados por valores perfeitamente em conta tendo por comparação com investimentos de outros clubes da Premier League.

O modesto clube inglês gabava-se a época passada de ser quase invencível no Turf Moor, o seu reduto. Esta época, com 6 vitórias e 5 derrotas em casa, esse registo na qualidade de anfitrião caiu, mas em contrapartida a equipa melhorou consideravelmente os seus registos fora de portas, onde já conseguiu tirar pontos a Chelsea, Liverpool, Man United, Everton e Tottenham. Uma equipa compacta do ponto de vista defensivo, e quase letal no contra ataque, não descurando um futebol organizado e de posse quando o adversário o permite.

Na baliza tem estado em destaque o jovem Nick Pope, que aproveitou bem a lesão do internacional inglês Tom Heaton. Com exibições de bom nível o novo dono da baliza do Burnley mereceu recentemente a confiança do selecionador inglês e foi pela primeira vez convocado à equipa nacional.

Na defesa, a lateral direita é de Matthew Lowton, que se destaca pela facilidade com que faz todo o corredor e a sua qualidade de cruzamento, enquanto à esquerda o internacional irlandês Stephen Ward tem sido o habitual titular, beneficiando da grave lesão do seu compatriota Robbie Brady que teve um sério problema no joelho. No centro, a forte dupla Ben Mee e James Tarkowski são dos pares mais eficazes da liga, um pouco à semelhança da dulpa Duffy-Dunk do Brighton.

No centro do terreno, nomes como Steven Defour, Jack Cork e Ashley Westwood dão grande consistência defensiva ao meio campo, mas também uma enorme qualidade no passe e na primeira fase de construção.

No meio campo ofensivo, o irlandês Jeff Hendrick é habitualmente titular, sendo fundamental na forma de jogar da equipa com a sua agressividade e capacidade de pressão. Nesta zona do terreno, Sean Dyche utiliza por vezes uma opção mais ofensiva, Ashley Barnes, um segundo avançado móvel e rápido. Nas alas, o internacional islandês Johann Gudmundsson é um dos destaques da equipa, sendo fonte de desequilíbrios tanto à esquerda como à direita, ele que coloca também muitas bolas perigosas na área com o seu pé esquerdo. Limitado na primeira metade da época, onde teve de adaptar Jon Walters ou avançar Robbie Brady, o técnico viu chegar em Janeiro dois belos reforços por empréstimo, Aaron Lennon e George-Kevin Nkoudou, dois rápidos extremos que se enquadram no estilo de jogo rápido e de contra golpe dos Clarets (os vinho tinto, devido à cor das camisolas).

No ataque, o neozelandês Chris Wood, contratado ao Leeds, onde se destacou ao ser o melhor marcador do Championship, tem sido a principal referencia ofensiva da equipa, com 7 golos no campeonato, mais 4 que o seu concorrente direto Sam Vokes e mais 1 que o polivalente avançado Ashley Barnes.

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A união faz a força na equipa do Burnley (Foto: Lancashire Telegraph)

Esta época, o Burnley gastou perto de 36 milhões em reforços, tendo recebido 50 pelas suas vendas. O Brighton, fruto da promoção e do nivel inferior do seu plantel de segunda liga teve de investir, tendo gastado quase 65 milhoes de euros em reforços, números semelhentes aos gastos de Crystal Palace, West Ham ou Southampton, equipas que investiram nos seus já bem apetrechados planteis e que se encontram numa situação aflitiva.

A juntar aos investimentos pensados e inteligentes, Burnley e Brighton têm nos bancos dois homens certos, dois ingleses sem o mediatismo de muitos treinadores mas com métodos e formas de apresentar as equipas inovadoras e “fora da caixa”, capazes de jogar em bloco mais baixo, em contra ataque, ataque organizado, e inclusive de tentar pressões altas de modo a dificultar a saída de bola do adversário.

Para jogar desta forma é necessário os jogadores certos. No Brighton, as contratações de elementos como Markus Suttner, Davy Propper, Pascal Gross ou José Izquierdo estão a mostrar-se determinantes, todos eles titulares influentes da equipa dos Seagulls. No Burnley, a base do ano passado formada por Defour, Gudmundsson, Hendrick, Ben Mee ou Sam Vokes, aliada à boa fase de elementos dispensados por equipas teoricamente mais fortes como Jack Cork, Aaron Lennon, Jon Walters ou Kevin Nkoudou tornam a equipa de Sean Dyche numa das mais regulares da Premier League, e a primeira classificada do campeonato extra grandes (sem City, United, Liverpool, Chelsea, Tottenham e Arsenal).

Com a época a chegar à reta final, Burnley e Brighton podem respirar com tranquilidade, e começar a pensar na melhor forma de abordar a próxima. Se o fizerem da mesma forma que em 2017/2018, podemos esperar mais uma época de nível dos comandados de Sean Dyche e Chris Hughton, eles que deverão ser alvo de cobiça de emblemas mais poderosos, mas não deverão querer abandonar os projetos e equipas que fizeram explodir, e que são exemplos de bom futebol, novas ideias e de uma boa postura no ataque ao mercado.


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