Vitória da Argentina é mais um motivo para dividir os brasileiros
Que o Brasil está polarizado para os mais diferentes assuntos, isso todo mundo já sabe. O Campeonato do Mundo no Catar 2022 não fugiu à regra. A final entre França e Argentina novamente dividiu o público tupiniquim entre simpatizantes dos dois países.
De um lado, a mídia impressa e eletrônica cravava a Argentina como o principal rival do Pentacampeão do Mundo, e muitos adeptos abraçaram essa causa ao apoiar a França no jogo derradeiro. Por outro lado, outros adeptos não aceitaram essa imposição e ficaram ao lado da vizinha Argentina, ao alegar que o futebol sulamericano precisa de mais união, além de outros motivos históricos e econômicos.
Argentina: parceira ou rival?
Os que consideram os “hermanos” como rivais tem seus motivos na ponta da língua:
- Pelé X Maradona (e agora Messi): Essa questão sempre vem à tona nos cantos dos adeptos e nas discussões nos bares e programas de televisão – afinal, quem foi melhor, Pelé ou Maradona? A discussão sobre os jogadores extrapolou para as seleções de seus respectivos países e esse é um dos temas que alimentam essa rivalidade.
- O Campeonato do Mundo de 1978 na Argentina: Naquele tempo, o certame teve duas fases distintas. Na primeira, quatro grupos de quatro equipas classificaram dois times cada para a segunda fase. Na segunda, dois grupos de quatro equipas classificaram o primeiro lugar de cada grupo direto para a final. Na chave do Brasil, havia Polônia Argentina e Peru. Os vizinhos brasileiros do sul classificaram-se após uma vergonhosa vitória por 6-0 sobre a equipa peruana, num dos jogos mais suspeitos da História do futebol mundial. À época, o treinador do Brasil, Claudio Coutinho, chegou a declarar que o Brasil foi o “campeão moral” do torneio.
- A vitṍria da Argentina no Campeonato do Mundo de 1990 na Itália, em que Caniggia marcou o único gol da alviceleste nos oitavos de final contra o Brasil, o que obrigou a Seleção Canarinha a voltar mais cedo pra casa.
Mas a pergunta que não quer calar é “seriam suficientes esses três motivos pra considerarmos a Argentina como nossos maiores rivais?” O colunista não acredita nisso.
Então o rival é a França?
Assim, seguem as razões pra considerar a França um rival muito maior e mais perigoso do que os nossos vizinhos:
- A eliminação do Brasil no Campeonato do Mundo de 1986 no México: nos quartos de final, um empate em 1-1 levou o jogo para os penaltis, e aí a estrela francesa brilhou contra nós. O craque Zico até hoje é lembrado como um dos que perderam as cobranças fatais.
- A finalíssima do Campeonato do Mundo de 1998 na França, no jogo em que Zinedine Zidane simplesmente acabou com o Brasil que contava com nomes como Rivaldo, Bebeto, Ronaldo Fenômeno e Denilson. Os franceses ganharam por 3-0 e levantaram a Taça pela primeira vez.
- No Campeonato do Mundo de 2006, novamente a França surgiu como uma pedra no sapato brasileiro. No confronto válido pelos quartos de final, os Gauleses mais uma vez fizeram os brasileiros voltarem pra casa, no célebre jogo que ficou conhecido como “o meião do Roberto Carlos”, pois o jogador teve um momento de desatenção na cobrança de uma falta da intermediária que originou o único gol francês marcado por Thierry Henry,
- Nos últimos 25 anos, a França ganhara dois Campeonatos do Mundo, e poderia conquistar a terceira estrela com uma vitória no Catar. Por outro lado a Argentina não sabia o que era uma volta olímpica desde o longínquo ano de 1986, quando Maradona e seus asseclas conquistaram o mundo pela última vez até então.
Se não é a Argentina, quem é o rival então?
Assim, por esses e outros motivos, minha torcida foi por nossos vizinhos. Afinal, creio que temos muito mais razões além do relvado para torcer pela Argentina nesta final – primeiro que nosso rival sulamericano é e sempre foi o Uruguai, que desbancou o Brasil em sua própria casa no Campeonato do Mundo de 1950, no episódio conhecido como “Maracanazo”, a derrota mais dolorida até o 7-1 de 2014 na história do futebol canarinho.
Outro motivo é o completo desrespeito e soberba que os franceses, mais precisamente o avançado Mbappé, mostraram pelo futebol sulamericano, ao citar nominalmente Brasil e Argentina como “um nível abaixo” do futebol apresentado pelos gauleses.
Ao conquistar o título, a Argentina mostra mais uma vez que futebol não se ganha na véspera, e sim no relvado. Dá uma lição nos franceses que cantaram vitória antes do tempo e de quebra ensina aos brasileiros que Campeonato do Mundo é pra focar na bola, no adversário e no jogo, e não em eventos paralelos como festas em restaurantes, fofocas e algazarra nas redes sociais.
Mas voltemos ao tema da rivalidade. Uma vez definido que o nosso rival sulamericano é o Uruguai, resta perguntar quem seria nosso rival europeu. E aqui a resposta é simples e direta. Existem rivalidades históricas e rivalidades pontuais, ou momentâneas. A pontual é a França. A histórica é a Itália.
E a Argentina? Ora… Parabéns à Argentina, ao Messi e a toda a nação sulamericana.