O novo desafio de Rogério Ceni como treinador

Rafael RibeiroAgosto 27, 20196min0
Acostumado a uma carreira vitoriosa como jogador, Rogério Ceni iniciou sua trajetória de comandante com maus resultados. Mas após uma bela passagem dirigindo o Fortaleza, terá a chance de um passo a frente com o Cruzeiro.

Muitos apontam como promissora a carreira de Rogério Ceni como treinador. Não por acaso, era tido recentemente como um dos treinadores mais bem preparados da nova geração brasileira. Tendo ideais de trabalho direcionados para nomes como Jürgen Klopp, Jorge Sampaoli e até Juan Carlos Osorio, Ceni tirou pouco tempo entre aposentadoria dos relvados e o novo trabalho a frente do banco de reservas para estudar com estes grandes nomes. E com este novo desafio o Fair Play atinge um pouco mais este tema de destaque no Brasileirão 2019.

Porém, o início nesta nova profissão não foi como o esperado, e logo sua casa seria palco do primeiro fracasso, ao ser demitido precocemente do próprio São Paulo poucos meses depois de sua contratação em 2017. Mas foi no Fortaleza que seus métodos surtiram efeito e três conquistas seguidas fizeram seu nome ser colocado novamente em evidência, desta vez como principal alvo de uma equipa considerada maior, o Cruzeiro. Ao chegar na “Raposa”, a difícil missão de substituir Mano Menezes (até então o treinador a mais tempo em uma equipa) e manter o time mineiro na Série A brasileira.

Início promissor, mas desolador

Rogério havia recentemente decidido pendurar as chuteiras, quando uma enorme festa dos adeptos são-paulinos marcaram sua despedida. Um dos maiores ídolos da equipa (talvez o maior) do São Paulo tinha em mente se qualificar para voltar ao clube como treinador. Não teria a ideia, porém, que isso aconteceria tão rápido. Se ao fim de 2015 deixaria a vida de guarda-redes, um ano depois seria apresentado como novo treinador, o que levanta muitas discussões se não teria sido precipitado, ou mesmo se não teria sido um passo muito grande já que poderia ter pensado em objetivos em equipas menores ou de categorias de base.

Ao iniciar a época de 2017 com a Florida Cup, e levantar o troféu frente ao rival Corinthians, as perspectivas eram ótimas. Porém, no Campeonato Paulista do mesmo ano, o próprio Corinthians tiraria Rogério da competição nas semi-finais, dando ao São Paulo apenas o quarto lugar. Com uma proposta de jogo ofensiva, de rotação das peças da equipa, Rogério tinha respaldo dos adeptos, e lançava bons jogadores ao relvado (como Lucas Fernandes, Shaylon, Artur, Luiz Araújo e David Neres).

Eliminado na Copa do Brasil na quarta fase (para o Cruzeiro, 0-2 e 2-1) e também na Sul-Americana na primeira fase (para o Defensa y Justicia, 0-0 e 1-1), a situação piorou ainda mais quando muitos dos jogadores promissores que citamos acima acabaram sendo negociados pela diretoria, deixando seu plantel ainda mais fraco. Rogério não resistiu quando o São Paulo figurou na zona de rebaixamento para a segunda divisão do Brasileirão, foi demitido pelo até agora presidente Leco, guardando mágoas do dirigente.

Despedida de Ceni dos relvados juntou ex-jogadores são-paulinos (Foto: Gazeta Press)

A volta por cima

Foi então que voltou sua cabeça aos estudos novamente, e dedicou o restante de 2017 para se aprofundar na profissão. Ao final do ano, foi anunciado pelo Fortaleza, equipa cearense que iria disputar a segunda divisão em 2018. Talvez uma forma de voltar ao trabalho sem necessariamente encontrar com o São Paulo, Ceni decidiu encarar a proposta e iniciar sua primeira jornada no futebol sem ser no tricolor paulista, e sim desta vez no tricolor de aço.

O começo quase custou seu emprego. Isso porque também não apresentou resultados imediatos, e como no Brasil o costume (péssimo) de colocar tudo na conta do treinador é comum, não seria ele que não sofreria do mesmo problema. Porém, perder o campeonato estadual para o rival Ceará não foi seu ponto final na trajetória com “o Leão”, e Ceni permaneceu para a disputa da Série B. Resultado: ao final do ano a conquista do seu primeiro título como treinador, logo o Brasileirão, e o acesso à elite do futebol brasileiro.

O que parecia não ficar melhor, ficou. Mesmo tendo seu nome vinculado à outras equipas da Série A para 2019, renovou o contrato com o Fortaleza e no primeiro campeonato do ano (seu segundo campeonato cearense) venceu o Ceará na final e conquistou a segunda taça. Seu objetivo voltara então para o Brasileirão. Desta vez, com a equipa na Série A, o objetivo era a permanência, já que o plantel não figura entre os melhores. Chegou a negar uma proposta do Atlético Mineiro, acreditando na permanência em Fortaleza também por questões pessoais. Nesse meio tempo, a terceira conquista, a Copa do Nordeste.

Três títulos em sequência fizeram Rogério virar ídolo dos adeptos do Fortaleza (Foto: Lucas Catrib)

O novo desafio

Foi então que a queda de Mano Menezes no Cruzeiro levou Rogério novamente aos holofotes. Depois de tentar Dorival Júnior, justamente sucessor de Rogério no São Paulo em 2017, a rápida aproximação gerou novamente questionamentos sobre a decisão do técnico. Encarar o desafio, meses após negar o rival Atlético para permanecer no Fortaleza e cumprir com a meta de ficar na Série A, era uma decisão com opiniões divididas entre adeptos do Fortaleza, do Cruzeiro e também do São Paulo.

O fato é que Rogério aceitou, deixando especificamente os adeptos do Fortaleza extremamente agradecidos por sua trajetória na equipa, consolidando-o como um dos maiores (senão o maior também) treinadores do time. Para os torcedores são-paulinos, mais imagens estranhas de seu maior ídolo se consolidando como um ótimo treinador em outro domínio, ainda mais no domínio que mais foi sua presa enquanto jogador: Ceni tem no Cruzeiro e no guarda-redes Fábio as duas maiores vítimas de seus golos de falta e pênaltis.

Com a equipa na zona de rebaixamento, Ceni já mostrou que pode mudar a filosofia de trabalho cruzeirense (que tinha estratégias muito defensivas com Mano) e fazer o plantel jogar mais com a posse da bola, e propor o jogo de maneira mais ofensiva. Na estreia, vitória contra o então líder Santos, curiosamente, de Sampaoli, treinador espelho para Ceni. Uma posição já acima da zona de rebaixamento, o Cruzeiro já tem motivos para acreditar que sua escolha em Rógerio foi um acerto.

Ceni conta com jogadores experientes como Fábio, Thiago Neves e Fred (Foto: Bruno Hadadd)

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS