O eterno debate sobre a “vantagem” de jogar a segunda mão em casa
Nos sorteios de jogos decisivos, é muito comum os adeptos de uma equipa saírem a comemorar a grande vantagem de poder decidir a segunda mão em casa. Mas até que ponto isso é verdade? Decidir o segundo jogo em seu próprio território é uma bênção ou uma maldição? O Fair Play foi a fundo na questão e analisou o histórico de confrontos pra tentar dar um ponto final a esta discussão.
A pesquisa examinou os resultados de todos os jogos decisivos a partir de 2015, incluindo as duas principais competições, a saber: Copa do Brasil e Libertadores. Ao todo, foram 196 jogos (98 confrontos) da Copa do Brasil e 192 partidas (96 disputas) válidas pela competição continental.
Copa do Brasil
A Copa do Brasil é um torneio de caráter eliminatório desde a primeira fase. Sendo assim, o critério foi considerar apenas os confrontos de quartos de final em diante. Isso porque na fase de oitavos de final são comuns as decisões entre equipas da Série A e equipas das séries C e D, e isso poderia gerar um viés no resultado, devido à diferença técnica entre os times. Assim, vamos mostrar os resultados com e sem os oitavos de final.
Como vemos no quadro, na Copa do Brasil é vantagem jogar a segunda partida em casa. Ao contarmos os confrontos dos oitavos de final, a porcentagem da vantagem cai pelos efeitos explicados anteriormente. Quando consideramos apenas os jogos a partir dos quartos de final, num total de 42 confrontos, classificou-se para a fase seguinte 71% de quem mandou a segunda mão em casa.
Podemos pensar então que decidir o segundo jogo em casa é uma vantagem por conta de ser uma partida definitiva e que ter a torcida a seu favor no momento crucial do confronto pode ajudar nesse processo? A resposta pode não ser tão simples.
Estádios vazios, equipas mais fortes
Por mais paradoxal que possa parecer, os números surpreendem exatamente neste ponto. Se considerarmos os confrontos do ano de 2020 (quando não tivemos público nos estádios), a porcentagem de aproveitamento dos mandantes da segunda mão é ainda maior. Na Copa do Brasil da época passada, 100% dos confrontos a partir dos quartos de final tiveram como vencedor o mandante da segunda partida. Cem-por-cento!
Libertadores da América
Na Copa Libertadores, há uma fase de grupos classificatória para os confrontos decisivos. E quem fica em primeiro lugar na classificação geral tem a vantagem de decidir a segunda partida em casa nos jogos definitivos.
Dessa forma, na Libertadores a fase de oitavos de final fez parte da pesquisa e os números mostram um equilíbrio maior da competição quando comparada à Copa do Brasil:
Como podemos ver, na Libertadores a porcentagem de aproveitamento dos visitantes é maior quando comparada à Copa do Brasil, mas ainda assim é menor que a dos mandantes, o que prova mais uma vez a teoria de que jogar a segunda em casa é uma vantagem considerável.
No entanto, alguns números chamam a atenção. As equipas do Cruzeiro, Flamengo e Palmeiras são as que mais aproveitam a vantagem de jogar a segunda em casa, com valores acima da média da competição. Por outro lado, equipas como o Corinthians e o Santos não costumam se dar bem como mandantes do segundo jogo.
Uma equipa chama a atenção nesse cenário: o Barcelona de Guaiaquil já acumula duas vitórias como visitante contra times brasileiros: eliminou o Palmeiras e o Santos em suas casas no ano de 2017. O Barcelona de Guaiaquil é um dos semifinalistas da época atual. Será o adversário do Flamengo no mês que vem.
Sem torcida, a vantagem aumenta
E por incrível que pareça, na Libertadores observou-se o mesmo fenômeno que ocorre na Copa do Brasil. Jogar a segunda em casa sem torcida aumenta o aproveitamento: ao considerarmos apenas os confrontos do biênio 20-21, quando a pandemia de Covid 19 afastou definitivamente o público dos estádios, a porcentagem de aproveitamento cresce consideravelmente.
Em 26 confrontos, tivemos 21 vitórias dos mandantes da segunda mão, contra 5 vitórias do visitante. Em termos percentuais, temos 81% a 19% a favor dos mandantes da segunda mão.
Sem dúvida, um mistério a ser desvendado. Por que o aproveitamento das equipas em casa aumenta com a ausência dos adeptos? Muitos comentam que com os estádios vazios, tanto faz jogar em casa ou fora de casa. Mas os números provam exatamente o contrário.
Eu tenho minhas teorias. Que não podem ser provadas. Acredito que a comunicação entre técnico, jogadores e arbitragem fique mais clara sem o barulho dos adeptos, e isso aumenta a concentração e o foco na partida. Tudo isso somado à mística de decidir em casa pode favorecer as equipas mandantes da segunda mão.
E você, o que pensa a respeito disso?