Carille e o dilema corintiano entre performance e resultado
Ao retornar para o Corinthians nesta época, Fábio Carille tentou mudar o estilo de jogo que ficou marcado em sua primeira passagem pela equipa. Não apenas focado em resultado, Carille decidiu que gostaria de treinar um time mais ofensivo, e que jogasse mais bonito. Mas o desempenho neste ano fez com que o treinador voltasse aos seus velhos hábitos. O Fair Play demonstra como Carille ainda está neste dilema e, desta vez, ameaçado no cargo.
O motivo da desconfiança no treinador
Os últimos jogos estão causando dor de cabeça a Fábio Carille. Treinador do Corinthians em 2019, a segunda passagem pela equipa está fazendo seu prestígio diminuir com adeptos e dirigentes. Das últimas dez jornadas pelo Brasileirão, apenas quatro vitórias, outros quatro empates e duas derrotas, em jogos que mostraram muitas fraquezas no desempenho dos jogadores ao longo dos 90 minutos. Sua busca por um futebol mais vistoso, ofensivo, com alto número de golos por jornada, se perdeu ao longo do ano. O próprio treinador admitiu que a performance poderia mudar e que ele já estaria apto para abandonar alguns de seus preceitos defensivos para fazer o time jogar mais a frente no relvado.
Na recente derrota para o São Paulo em clássico fora de seus domínios, as declarações sinceras do técnico causaram desconforto e euforia na direção da equipa. “De 63 jogos, a gente não fez dez bons no ano” começou Carile. “Em relação ao jogo, ganhou o melhor, quem acertou mais passes, quem buscou o jogo, foi ofensivo”. Para finalizar, o descontentamento com o próprio trabalho fez seu nome balançar no cargo: “por incrível que pareça estamos em quarto. O que está jogando, não era para estar em quarto”.
Especulações sobre possíveis substitutos
Nomes como Sylvinho, recém demitido do Lyon, Tiago Nunes, nome em alta pelas recentes conquistas do Athletico Paranaense e também de Leonardo Jardim, venezuelano mas com raízes portuguesas, que está em apuros no Monaco. A diretoria nega que exista um movimento para a troca do treinador, mas entende que Carille está sob pressão e tem nos próximos jogos momentos decisivos para sua permanência.
As contratações feitas para montar o plantel deste ano também pesaram nos maus resultados apresentados por Carille. Antes da chegada de muitos deles, o técnico cobrou por algumas vezes publicamente a chegada de reforços que pudessem elevar o patamar da equipa, e mesmo sendo feito como desejado (o Corinthians foi um dos que mais investiu na última janela, além de possuir uma folha de pagamento alta em salário para os jogadores), os nomes não entregaram boa performance em campo.
Reforços apenas no papel
Apenas Gil, excelente central que retornou da China e arrumou a defesa corintiana e Vagner Lóve, mesmo que com altos e baixos, têm se destacado. Boselli, outro avançado vindo do México, chegou com muita promessa e ainda pouco convenceu. Bruno Méndez, Matheus Jesus, Régis e Júnior Urso não deram condições a Carille de mudar seu esquema de jogo, limitado a uma forte defesa para definição do placar com um ou dois contra-ataques certeiros. Hoje em dia, nem mais estes contra-ataques tem funcionado, o que ocasiona críticas quando o resultado não vem.
Para completar, nomes já conhecidos dos adeptos não estão fazendo um de suas melhores épocas. Jadson é o principal nome, além de Sornoza, Mateus Vital e até mesmo Pedrinho. Coincidência ou não, todos são médios ofensivos que precisam de destaque para manter o bom nível de futebol do Corinthians, algo que não vem acontecendo. Cássio (guarda-redes) e Fagner (lateral direito), mais experientes e com passagens por seleção brasileira, não conseguem sozinhos reerguer a atuação coletiva.
O futuro próximo de Corinthians e Carille
A série de jogos decisivos para as pretensões da equipa de se classificar diretamente a fase de grupos da Libertadores da América em 2020, assim como de Carille em permanecer na equipa no ano que vem, começa com o embalado Goiás nesta quarta-feira fora de casa. Depois a equipa paulista tem Cruzeiro precisando de resultados, Santos ainda em busca do título e mais a frente o líder Flamengo, em sequência nada fácil do Brasileirão.
É pouco provável que a equipa decida pela troca do treinador antes mesmo do ano acabar, ainda mais se tratando de um ídolo alvinegro recente, que ganhou muitos títulos e deu seguimento a um estilo de jogo bem característico, concretizado por Tite anos atrás, mas como tudo pode mudar da noite para o dia, principalmente ao se tratar de técnicos no Brasil, talvez a performance fique em segundo plano e as vitórias de 1-0 continuem aparecendo para salvar técnico e jogadores.