Campeonatos regionais, fim da linha ou caminho para o futuro?

Marcial CortezJaneiro 9, 20235min0

Campeonatos regionais, fim da linha ou caminho para o futuro?

Marcial CortezJaneiro 9, 20235min0
Os campeonatos regionais vão começar, e com eles vem a velha polêmica sobre a real utilidade destes certames. Afinal, os regionais ajudam ou atrapalham o já combalido futebol brasileiro?

O ano virou e com ele vem a velha discussão sobre a importância dos campeonatos regionais. São eles que iniciam a época do futebol brasileiro. Há alguns adeptos que gostam e outros que abominam estes campeonatos. Este que vos escreve pertence ao segundo grupo.

Os regionais já tiveram seu tempo de glória na História do futebol tupiniquim. Na época de Pelé e companhia, o principal campeonato do país era o Campeonato Paulista. E assim foi por muitos anos, nas décadas de 70, 80 e 90. A queda começou na virada do século, com a reorganização do futebol brasileiro e a estabilidade na fórmula do Brasileirão.

Isso fez com que os campeonatos regionais perdessem sua força, primeiro porque passaram a ser campeonatos que não levam a lugar nenhum (antes os regionais classificavam as equipas para competições maiores, como o próprio Brasileirão e a Copa do Brasil. Na reorganização, os critérios de classificação para essas competições deixaram de utilizar o desempenho nos regionais.

Fonte de renda para os pequenos, prejuízo para os grandes

Entre os que ainda defendem o ultrapassado modelo, há o argumento que os regionais são muitas vezes a ṕunica fonte de renda de alguns clubes. A tirar os clubes grandes, nos regionais sobram apenas equipas que costumam disputar as séries inferiores do Campeonato Brasileiro. No Paulista, por exemplo, há equipas das séries B, C e D. Estes clubes muitas vezes utilizam o dinheiro ganho com os regionais para compor seu orçamento anual, e se acabarmos com os regionais, muitas equipas pequenas simplesmente deixarão de existir.

Água Santa x Ferroviária – um dos jogos do Campeonato Paulista protagonizados por clubes das divisões inferiores do Brasileirão. Foto: Ale Vianna / Agência Eleven / Gazeta Press

Por outro lado, as equipas grandes, que disputam a Série A do Brasileirão e as demais competições continentais, acabam por perder tempo e dinheiro com estes certames. Muitos planejamentos anuais caem por terra já no início da época por mau desempenho nos regionais. Inúmeros técnicos foram demitidos pela falta de paciência dos dirigentes diante de maus resultados nos campeonatos regionais.

Vitor Pereira será um exemplo claro disso. A mais nova contratação do Flamengo talvez nem saiba, mas terá um enorme desafio pela frente. O campeonato carioca é um dos mais tradicionais do país, e sua fórmula é desenhada para priorizar os clássicos. Assim, um mau desempenho contra seus rivais, especialmente o Vasco que ascendeu recentemente à Série A, pode colocar todo um potencial bom trabalho a perder.

Os tradicionais defensores

Os que defendem o modelo apegam-se ao passado, tempos que não voltam mais, nos quais realmente os campeonatos regionais, especialmente o Paulista e o Carioca eram empolgantes. Quem não se lembra do Corinthians em 77, do Botafogo em 89 e do Palmeiras em 93? São títulos regionais históricos, marcados pelo fim de filas intermináveis em que esses clubes se meteram.

Basílio, heroi do título Paulista em 1977, comemora gol ao lado de Vaguinho. Foto: Arquivo Corinthians

Além disso, há ainda aqueles que argumentam que o fim dos regionais seria o fim do futebol brasileiro, pois as equipas pequenas que são celeiros de craques deixariam de existir e acabariam-se as vitrines de bons jogadores. De fato, se analisarmos os jogadores da Seleção Brasileira que disputou o Campeonato Mundial no Catar em 2022, muitos de seus jogadores começaram em clubes de menor expressão, e foram comprados depois pelos clubes maiores até chegarem onde chegaram.

Particularmente, eu sou contra o fim dos regionais, mas acredito que deveria haver uma otimização destes campeonatos, com fases preliminares e com as equipas grandes a entrar somente no final, como se fossem a “cereja do bolo”. Ou uma grande competição nacional regionalizada também seria interessante. Já se tentou esse modelo no início dos anos 2000, quando fizeram a Copa dos Campeões.  O certame durou três edições, e os campeões foram Palmeiras (2000), Flamengo (2001) e Paysandu (2002).

Copa do Brasil muda regras para tentar salvar os Regionais

Nesta época que se inicia, há uma novidade – o ranking de classificação para a Copa do Brasil volta a ser o desempenho nos regionais. É uma tentativa de salvar esses combalidos certames. Nos Estados dos principais clubes  (SP, RJ, MG, PR e RS) não muda muita coisa, pois as grandes estrelas terão participação garantida. Mas nos demais Estados essa mudança da regra traz benefícios gigantes.

Copa do Brasil 2023 terá mudança nas regras para fortalecer regionais. Foto: Fernando Souza / CBF

Um bom investimento na equipa para o campeonato regional pode levar esse clube, na teoria, à disputa da Glória Eterna. É isso que esperamos de um campeonato, além do título obviamente. Os certames devem sempre ter um caráter classificatório para competições maiores. Isso aumenta a competitividade e o interesse dos adeptos. Não é à toa que o Brasileirão é sucesso absoluto no país. É ele quem baliza os torneios internacionais. E para que os regionais possam voltar aos tempos de glória, terão que seguir por este caminho.

 


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS