Adeus, Pelé. A exceção à regra “Rei morto, rei posto”

Marcial CortezDezembro 31, 20227min0

Adeus, Pelé. A exceção à regra “Rei morto, rei posto”

Marcial CortezDezembro 31, 20227min0
Há um dito popular que diz - "rei morto, rei posto". Isso pode funcionar em outros setores, mas no futebol só há um Rei, e o nome dele é Pelé.

Quando Pelé marcou seu milésimo gol, uma célebre frase entrou para a História – Pelé disse “cuidem das criancinhas” – era um recado claro ao Governo brasileiro para pensar em políticas de apoio às crianças. Eu tinha apenas 8 dias de vida. Então posso dizer com muito orgulho que sim, eu era uma destas criancinhas.

Escrever um artigo sobre a morte de Pelé é um desafio. Primeiro porque não escrever sobre esse tema é ficar fadado ao fracasso. É o assunto do momento, não há outro fato no mundo da bola, especialmente no Brasil, para se comentar hoje. Segundo porque qualquer coisa que se escreva corre o risco enorme de ser mais do mesmo, de ser mais um texto a exaltar os feitos do Rei do Futebol.

Assim, o foco será outro. Há uma regra que diz “rei morto, rei posto”. O foco deste texto será nessa regra. Pelé foi unanimidade no mundo do futebol como o melhor jogador do mundo de todos os tempos, não há um ser humano no planeta que conteste essa verdade. Pelé era o jogador perfeito, em todos os quesitos e fundamentos. Ora, se a regra diz que quando um rei morre outro logo toma o seu lugar, por que isso não ocorreu com Pelé, mesmo após mais de 40 anos do encerramento de sua carreira?

No Brasil, desde 1977, quando Pelé oficialmente jogou sua última partida, a mídia esportiva procura por um novo Rei. Basta um jogador jovem qualquer começar a fazer sucesso que logo começam as comparações e o uso da expressão “é o novo Pelé” se repete constantemente. Vamos conhecer aqui alguns dos jogadores que foram promessas, mas que não vingaram na árdua tarefa de substituir o Rei.

Dener, o primeiro “novo Pelé”

Dener começou nas categorias de base da Portuguesa de Desportos e logo foi alçado ao profissional, mesmo sem poder atuar junto aos profissionais por conta de problemas da documentação. Jovem, rápido e dono de um futebol brilhante, Dener logo encantou os adeptos do bom futebol canarinho. É dele o gol que foi eleito o tento mais bonito do estádio do Canindé, pertencente à Portuguesa de Desportos.

Dener, o jovem atacante que surgiu na Portuguesa e morreu ainda jovem num acidente de carro. Foto: Gazeta Press

Dener ainda jogou com as camisas da Seleção Brasileira, do Grêmio e do Vasco. Neste último, em 1991, atuou numa partida contra o Newell’s Old Boys, equipa cujo craque era ninguém mais ninguém menos que o argentino Diego Maradona. A atuação do jovem brasileiro rendeu elogios por parte da lenda argentina. Em uma de suas viagens entre Rio e São Paulo, sua carreira foi interrompida definitivamente após um acidente na Lagoa Rodrigo de Freitas. Seu amigo que estava a conduzir o veículo dormiu ao volante e o carro se chocou contra uma árvore. Triste fim para um excelente jogador com um potencial enorme. Não acredito que poderia chegar onde Pelé chegou, mas certamente estaria na galeria dos grandes craques brasileiros.

Robinho, o miúdo que surgiu no Santos Futebol Clube

No caso de Robinho, a comparação com o Rei no início da carreira foi maior ainda, pois a então jovem promessa surgira no mesmo relvado em que Pelé brilhara alguns anos antes. Robinho começou sua jornada nas categorias de base do Peixe, e rapidamente chegou ao profissional por apresentar um futebol refinado e acima da média. Sua velocidade e seus dribles rápidos encantavam a torcida santista e logo em seguida a torcida brasileira, pois não demorou para ele vestir a camisola canarinha.

Robinho atuou em vários clubes da Europa e da Ásia, além do Santos e do Atlético Mineiro, clubes em que jogou nas terras tupiniquins. Apesar da comparação com o Rei no início da carreira, a única coisa que os dois tem em comum é o fato de terem surgido no Santos. Robinho foi um grande jogador dentro do relvado, mas não dá pra sequer começar a compará-lo com o Rei.

Robinho encerrou a carreira que durou cerca de 20 anos após ser condenado por estupro. Apesar disso, vive livremente nas ruas da cidade do Guarujá, cidade vizinha a Santos. Os moradores da região dizem que ele vive recluso e raramente aparece em locais públicos. Outro triste fim na carreira de um grande jogador.

Ronaldo, o Fenômeno

Ainda nos tempos de miúdo, Ronaldo era considerado um fora de série. Estreou no profissional aos 16 anos no Cruzeiro, clube que o projetou para o mundo. Atuou em vários clubes de ponta na Europa. Uma das carreiras futebolísticas mais brilhantes de que se tem notícia.

Ronaldo Fenômeno no início de sua carreira no Cruzeiro. O maior jogador brasileiro da era pós-Pelé. Foto: Divulgação Cruzeiro

Ronaldo ganhou o apelido de Fenômeno nos tempos em que atuava na Itália. O craque ganhou por três vezes o título de melhor jogador do mundo. Tornou-se uma celebridade internacional, dentro e fora dos relvados. Pela Seleção Brasileira, ganhou um título mundial em 2002 e é reconhecido como o melhor camisa 9 da História. Com esse currículo, não é exagero afirmar que “se Pelé é o Rei, Ronaldo é o Príncipe”, como se dizia na época.

Ronaldo sofreu inúmeras contusões ao longo de sua carreira, o que o prejudicou bastante. Mesmo assim, é sem sombra de dúvidas o melhor jogador brasileiro na era pós-Pelé. Encerrou sua carreira no Corinthians e ainda atua no futebol, hoje na gestão do Cruzeiro, que voltará à elite do futebol tupiniquim em 2023. De todos estes jogadores citados, Ronaldo é o que chegou mais perto da Realeza.

Neymar, o Menino Ney. A eterna promessa

Neymar dispensa apresentações. Um dos maiores jogadores do Brasil na atualidade, o Menino Ney também surgiu na mesma Vila Belmiro que criou Pelé e Robinho. E foi justamente por isso que a comparação com o Rei não demorou a aparecer. Jogador jovem, de técnica apuradíssima e dribles rápidos, Neymar rapidamente se tornou ídolo no Santos, no supertime do Peixe que tinha Paulo Henrique Ganso e o próprio Ney como estrelas maiores.

No início de sua carreira, Neymar fez de tudo: ganhou Paulista, Copa do Brasil, Libertadores, prêmios como melhor jogador sulamericano e um prêmio Puskas. Tudo isso antes de completar 20 anos de idade. Por essas e por outras, tudo levava a crer que finalmente teríamos um Pelé II, mas o tempo mostrou que no mundo da bola só há um Rei.

Neymar é sem sombra de dúvidas um dos melhores de sua geração. Mas hoje, com 30 anos de idade, algumas contusões graves e situações não tão favoráveis ao longo da carreira, sabemos que não dá mais pra compará-lo ao Atleta do Século XX.

Endrick, o queridinho do Verdão e da mídia

Com apenas 16 anos, o avançado Endrick jogou pouco mais de 10 jogos como profissional. Porém, sua atuação nas categorias de base do Palmeiras chamou a atenção do mundo. Contratação mais cara dentre os brasileiros contratados pelo Real Madrid, a promessa palmeirense chama atenção pelos números.

Endrick, 16 anos, a jovem promessa do Palmeiras. Foto: Cesar Greco / Palmeiras

Ao que tudo indica, 2023 será o ano do miúdo. Ele terá plenas condições de mostrar todo o seu potencial futebolístico nas importantes competições que estão por vir. Se vai ou não vir a se tornar um novo Rei, isso só o tempo irá dizer. Potencial ele tem de sobra. Resta saber o que o futuro reserva a ele.

E nos outros esportes?

Pelé conseguiu transformar um substantivo em adjetivo. Hoje o nome Pelé é sinônimo de perfeição e qualidade. Assim, podemos dizer que Ayrton Senna foi o Pelé da Fórmula 1. Ou que Usain Bolt é o Pelé dos 100 metros, e assim por diante.

Afinal, Pelé era perfeito. Ele dominava todos os fundamentos do futebol. Infelizmente, eu não o vi jogar. Mas os que viram afirmam sem pestanejar que ele era e sempre será o único Rei do Futebol.


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