Onde é que anda o Flop: Celsinho, o novo Ronaldinho de Alvalade

Francisco IsaacJulho 19, 20187min0
Um pequeno génio tinha supostamente chegado a Alvalade de seu nome Celsinho. Nunca rendeu e acabou como desilusão. Recordas-te do brasileiro?

Estávamos no intenso Verão de 2007 e o Sporting CP tinha como objectivo regressar aos títulos, algo que lhes fugia desde 2002, e o final da temporada de 2006/2007 foi amargo, com os leões a ficarem a 1 ponto do FC Porto. Objectivo? Melhorar a prestação de 2007.

A direcção leonina reforçou o plantel com entradas de vários jovens que pareciam ter tudo para vingar na Liga NOS: Milan Purovic, Simon Vukcevic, Vladimir Stojkovic, Gladstone, Marat Izmailov, Leandro Grimi e Rodrigo Tiuí. Para além destes nomes, juntaram-se Leandro Romagnoli, Pedro Silva, Marian Had e Derlei. Estes reforços surgiram todos em Alvalade para suprir as saídas de Nani, Carlos Martins, Custódio, Carlos Paredes, Rodrigo Tello, Miguel Garcia e Douala, sendo dos anos mais movimentados do Sporting Clube de Portugal nos últimos 15 anos.

E CHEGA O NOVO RONALDINHO GAÚCHO A PORTUGAL… OU TALVEZ NÃO

Para além destas chegadas todas, houve outra que trouxe um burburinho alargado a Alvalade: Celsinho. Jovem jogador de 18 anos, que tinha actuado pelos russos do Lokomotiv de Moscovo, com um talento fenomenal para fintas e malabarismos. Valor da contratação? 2M€, 70% do passe e um futuro auspicioso. Ainda por mais com um treinador que tinha jeito para desenvolver jovens talentos (falamos de Paulo Bento).

Para os conhecedores de futebol na altura, Celsinho tinha sido dos melhores jogadores do Brasil sub-17 durante o Mundial desse escalão. Médio-ofensivo com grande propensão para o ataque, velocidade de movimentos, passe em profundidade e aquele jeitinho para tirar da frente adversários, algo que todos os fãs de futebol gostam.

As primeiras palavras com o Leão ao peito foram de afirmação total,

Quero ser titular, mas primeiro tenho de demonstrar nos treinos que posso ser opção, porque o plantel tem jogadores muito talentosos. Vim para o Sporting para demonstrar o meu valor. Sou um jogador rápido, em termos de dribles e passe e com boa marcação. Não prometo entrar em campo e marcar gols, mas prometo jogar com muita raça e vontade para todos os torcedores

Celsinho optou mais uma vez por sair da sua zona conforto e ingressar num clube que participava na Liga dos Campeões. Era, na sua cabeça, o passo correcto numa carreira que estava só agora a começar. Contudo, o brasileiro não estava à espera do nível de exigência que a Primeira Liga requisitava… e numa época inteira só alinhou em 9 jogos num total de 195 minutos.

Nunca se percebeu bem o porquê de Paulo Bento não apostar no avançado brasileiro, mas talvez a falta de cultura táctica, os problemas de jogar sem bola e o porte físico medíocre eram elementos mais que suficientes para retirá-lo da lista de opções. Paulo Bento nunca confiou nas capacidades atacantes de Celsinho e a pouca utilização nesta primeira época pelos verde-e-brancos foi uma espécie de atestado de invalidez.

Celsinho numa entrevista ao Record em 2011 afirmou que o treinador foi o grande problema na sua adaptação ao clube,

“É, mas a competitividade era um pouco maior. Você é valorizado mais quando está jogando. Mas se você não joga, a visibilidade é nula, ninguém lhe enxerga. Acho que a maior dificuldade foi essa, a competitividade. Mas era um pouco complicado. O treinador não gostava de brasileiros. Só quem jogavam eram Polga e Liedson. E, mesmo assim, só não saíam do time porque não tinha como tirá-los.”

Celsinho no dérbi (Foto: Lusa)

DE ESTRELA DO FM AO (FALIDO) ESTRELA DA AMADORA

Celsinho caiu depois naquela roda viva de empréstimos constantes começando pelo Estrela da Amadora, no qual ainda somou 12 jogos (um golo e uma assistência). O início da época de 2008/2009 foi dos melhores momentos na carreira do brasileiro o que ajudou a abrir a fome de potenciais interessados.

O golo da vitória frente à Académica e o passe para o 2º golo do 2-1 ante o CD Nacional serviram de prova que o brasileiro tinha qualidade suficiente para jogar. Quando estava no seu melhor momento de forma, surgiram as primeiras lesões e, mais importante, os problemas financeiros do Estrela da Amadora.

O elenco começou a ter salários em atraso (Celsinho era um dos poucos que recebia porque estava emprestado pelo Sporting CP) e levantaram-se as primeiras greves, o que tirou  a estabilidade necessária ao Estrela. Celsinho passou de primeira escolha, para preterido por completo… no único jogo que regressa em 2009 foi expulso do banco de suplentes, sem ter entrado, num 2-2 frente ao SC Braga.

O fim da temporada marcou também o fim do Estrela da Amadora nas divisões profissionais e, igualmente, o adeus de Celsinho ao futebol português. O brasileiro não foi chamado para os trabalhos de pré-época de 2009/2010, ficando completamente riscado do Sporting CP. Seguiram-se empréstimos à Portuguesa e Targu Mures… ambos correram da pior forma possível, com poucos jogos, zero golos e o seu talento a ficar cada vez mais esbatido.

Rescisão de contrato com o clube de Alvalade e o regresso ao Brasil deu-se em definitivo. Celsinho ficou na longa lista de reforços falhados que custaram alguns milhões aos cofres leoninos para depois saírem a custo-zero. A experiência no Sporting CP foi, sem dúvida alguma, um processo de aprendizagem para um jovem talento que tinha tudo para vingar no futebol.

O problema é que Celsinho ficou terrivelmente etiquetado como um “fracasso” e um individuo que estava mais concentrado na vida extra-futebol, onde as festas e comportamentos pouco profissionais ditaram uma queda total dentro do futebol brasileiro. Chegou em 2012 ao Londrina, clube pelo qual ainda hoje joga. É uma relação de amor-ódio, pois tanto já ganhou inúmeros troféus como foi emprestado por ter discussões complicadas com o público e o presidente do clube do estado do Paraná.

LONDRINA A NOVA CASA DAQUELE QUE PODIA TER SIDO OUTRO ASTRO DO FUTEBOL CANARINHO

Resultado disso foi empréstimo ao Paysandu em 2016, como solução para acalmar os ânimos e deixar o “pó assentar”. Celsinho foi bem sucedido com vários golos, ajudando o clube a levantar o Campeonato Estadual do Paraense e a Copa Verde, sempre mencionado como um dos melhores activos, recheado de pormenores técnicos de imensa fantasia e uma lógica de jogo selvagem mas que resulta a este nível.

Depois de mais um bom ano no Londrina (21 jogos, 1 golos e 4 assistências) voltou a ser emprestado, agora ao rival da Série B, o São Bento. Em 2017 sonhava chegar ao Brasileirão e quem sabe jogar pela canarinha, um sonho adiado constantemente pelas mais variadas razões.

A sua história pelo Sporting CP foi desoladora, um portento que deixou os adeptos com água na boca, com registos fantásticos no FM (recomendamos que deitem um olho ao Football Manager 2008) e que se tinha afirmado a nível sub-17/18 pela selecção brasileira.

Chegou demasiado cedo ao futebol europeu como o próprio já admitiu. Por outro lado, culpa a falta de confiança dada por Paulo Bento, um factor determinante para a sua sorte.

Não foi tanto flop pelo valor pago pelo seu passe, mas sim pela expectativas feitas em seu redor, cogitado como o novo Ronaldinho Gaúcho que nem passou pelo crivo de Paulo Bento.


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