Será desta, Hamburgo?
Um histórico à beira da desgraça? O Hamburgo, uma das equipas mais conceituadas e tituladas da Alemanha, com uma Taça dos Campeões Europeus, 6 campeonatos alemães, 3 taças da Alemanha, duas taças da liga e uma Taça das Taças, vive uma situação aflitiva, e ao contrário do que sucedeu nas últimas épocas, em que conseguiu sobrevir à despromoção nas últimas jornadas, este ano essa missão parece utópica.
Duas vezes no 16º lugar de playoff, uma vez no 10º e outra no 14º, são as prestações dos nortenhos nas últimas 4 edições da Bundesliga, o que atesta bem as dificuldades da equipa, que nos nestes últimos 5 anos já teve 9 treinadores diferentes, desde Bruno Labbadia e Markus Gisdol, estando agora a equipa entregue a Bernd Hollerbach.
Na temporada de 2017/18 a equipa do Hamburgo soma uns míseros 18 pontos em 26 jogos, somando apenas 4 triunfos e umas impressionantes 16(!) derrotas, tendo já encaixado 41 golos.
Depois de várias épocas a “safar-se” à última, esta parece ser mesmo a época que vai confirmar a má gestão e falta de rumo do histórico alemão. Desde a falta de atenção nas renovações dos principais jogadores, à estranha aposta em jovens estrangeiros sem aparente qualidade, as decisões nos últimos anos têm sido erradas e indevidamente precavidas, sendo disfarçadas com pontuais contratações de jogadores de qualidade como foram os casos de Papadopoulos, Filip Kostic ou Andre Hahn, eles que têm sido provavelmente os melhores do pior Hamburgo dos últimos anos.
Sem um claro “keeper” titular indiscutível e com provas dadas, os jovens Phillip Mathenia e Julian Pollersbeck têm dividido o protagonismo das redes do Hamburgo, ainda assim nenhum dos dois se apresenta como um guarda-redes que dá pontos à equipa, alternando entre exibições de nível e lances em que colocam a equipa em situações precárias.
Na defesa o nível dos seus elementos também deixa algo a desejar. Se na direira Diekmeier e Gotoku Sakai são jogadores competentes e interessantes, no eixo da defesa o albanês Mavraj e o jovem Van Drongelen não apresentam o nível do internacional grego Papadopoulos, o que aliado à permeabilidade defensiva do lateral esquerdo brasileiro Douglas Santos (muito interventivo ofensivamente) coloca a equipa em dificuldades em vários momentos do jogo, e representa a principal fonte de desequilíbrios defensivos da equipa.
No meio campo defensivo, o brasileiro ex-Grêmio Wallace tarda em demonstrar as qualidades que evidenciou no brasil, continuando a denotar muitas dificuldades em adaptar-se ao futebol mais rápido que se pratica na Europa. O jovem internacional sub21 alemão Gideon Jung tem sido mais vezes chamado ao 11, mas apesar de ser um bom recuperador de bola, tem notórias dificuldades quando lhe é pedida mais influência na contrução, que fica quase totalmente entregue ao internacional sueco Albin Ekdal, um dos mais regulares da equipa esta época. Na parte ofensiva do miolo, os experientes Aaron Hunt e Lewis Holtby primam por grande irregularidade, não sendo capazes de exibições de qualidade sucessivas e sendo algo propensos a lesões. O veterano bósnio Salihovic, reforço de inverno, também ainda não conseguiu ser uma mais valia na equipa, apesar de já ter tido algumas oportunidades no onze.
No ataque mora a principal figura da equipa. O rápido e atlético internacional sérvio Filip Kostic é muitas vezes uma espécie de oásis no deserto que é a equipa do Hamburgo, sendo a principal fonte de perigo da equipa com a sua técnica e potente pé esquerdo, ele que já apontou 4 golos esta época. O polivalente Andre Hahn é outro dos poucos que tenta remar contra a maré, ele que tem um estilo de jogo semelhante ao de Kostic, eles que juntos tentam fazer esquecer Nicolai Muller, extremo talentoso que se lesionou com gravidade em Outubro e só regressa na próxima temporada. Os homens encarregues de marcar golos não tem tido uma época muito favorável em termos de números. O norte-americano Bobby Wood e Sven Schiplock marcaram apenas 1 golo cada na Bundesliga, algo que motivou a ascensão rápida do adolescente Jann-Fiete Arp de apenas 18 anos, que já marcou mais golos que os seus concorrentes e que é apontado como um dos futuros 9s da selecção alemã.
A juntar à má fase de grande parte dos seus elementos, o técnico Markus Gisdol foi despedido, e o clube vê alguns dos seus principais ativos ficar livre de contrato no final da época, como são os casos de Holtby, Hunt, Muller ou Diekmeier, que não querem renovar devido à provável descida de divisão do clube. O Hamburgo encontra-se aflito e sem rumo, com claras dificuldades em atrair bons jogadores e técnicos competentes, e a apostar de forma pouco pensada em jovens sem aparente qualidade para serem mais valias (como são os casos do japonês Ito e do gambiano Jatta). Os muitos adeptos sentem-se desiludidos e desmotivados, encarando como um enorme falhanço a descida de uma equipa com a história, a massa adepta e a suposto saúde financeira do clube, um dos mais procurados na Alemanha para parcerias publicitárias, como fica demonstrado na longa relação com a Adidas e a Fly Emirates.
Depois de várias épocas a sobreviver à tona da água parece ter mesmo chegado o momento que os adeptos do Hamburgo mais temiam. A equipa está a uns longos 7 pontos do lugar que dá acesso ao playoff de permanência/acesso à Bundesliga, e atendendo à forma da equipa as perspectivas não são animadoras, eles que sofreram nova derrota pesada frente ao Bayern nesta jornada. Resta repensar o futuro e a estratégia e planear um projeto ganhador que traga a equipa de regresso ao convívio dos grandes alemães, caso a profecia da descida há muito a anunciada se venha a confirmar. Um histórico a fazer história, mas não pelas melhores razões. É portanto altura de reunir esforços e investir com critério, sob pena de haver no norte da Alemanha um novo Nottingham Forest, bicampeão europeu que desceu sem retorno às divisões inferiores inglesas.