O Abismo no “miolo” do Dragão chamado de Héctor Herrera
O Futebol Clube do Porto voltou a sucumbir na Luz, ao fim de duas vitórias e dois empates nos dois últimos anos (E-V-E-V), retornando a um passado complicado e que não era de todo desejado por Sérgio Conceição. O treinador dos azuis-e-brancos tem algumas culpas no “cartório” no que toca ao resultado final, muito pelo fraco futebol evidenciando que começou pela estratégia utilizada ante um adversário que, nos últimos anos, não sabe ser eficaz contra os Dragões, tendo no máximo 15 a 20 bons minutos, ficando na retranca na maior parte do tempo.
Futebol para a “frente”, atirado em profundidade com esperança que Moussa Marega ou Yacine Brahimi conseguissem captar o esférico para depois sair rapidamente em contra-ataque, ficando à espera de um pequeno auxílio do meio-campo, seja por Otávio ou Hector Herrera. Este auxílio nunca foi suficiente e, sobretudo, nunca foi o melhor, tirando alguma da verticalidade do jogo dos campeões nacionais que não conseguiram passar de uma exibição medíocre e muito aquém da época transacta.
Verdade seja dita, o Sport Lisboa e Benfica pouco jogou também, realizando uma exibição igual aos seus rivais de sempre com a “sorte” de Seferovic conseguir desviar a bola para dentro da baliza. Foi no geral um clássico paupérrimo que evidencia os profundos problemas que afectam não só as duas equipas como o futebol português.
DE NOVO NO CENTRO DAS CRÍTICAS DE FORMA MERECIDA?
Mas que mais responsabilidades se podem apontar a Sérgio Conceição? Uma delas assenta num pormenor que a maioria dos apaixonados pela redonda portuguesa já vislumbraram e criticaram semana após semana: Hector Herrera.
A utilização excessiva do mexicano nesta temporada tem também posto a nu as fragilidades do meio-campo azul-e-branco, que falha em ter um médio de ligação bem apetrechado no passe, especialmente no que toca ao curto-rápido (numa tentativa de produzir bons lances de rotura defensiva adversária sem que se permita um reposicionar dos “inimigos” logo nesse momento), de fraco posicionamento e de pouca interação com o ataque, ou, melhor, de pouca assertividade no que fazer com o esférico nos últimos 30 metros.
O capitão do FC Porto está uma sombra de si mesmo e as causas são várias também, mas desde logo há uma que assume o pódio: falta de descanso. Herrera realizou 42 partidas na época passada, divididas entre Liga NOS, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga dos Campeões, completando mais de 3500 minutos pelos actuais campeões nacionais.
Foi dos atletas que mais jogou e necessitaria idealmente de um descanso profundo mal acabasse a festa do título. Porém, a chamada mais que normal para o Mundial 2018 tirou essa possibilidade de cima da mesa com Herrera a jogar quatro jogos como titular na campanha dos aztecas. Fez uma prova de excelente nível, redobrando os ecos de que existiam pretendentes por toda a Europa, apaixonados pela qualidade do mexicano na propensão para o ataque, voz de comando, sequência de jogo e movimentador do meio-campo.
Teria sido o momento perfeito para vender Herrera, uma vez que o contrato do mexicano terminaria no verão seguinte e um novo caso “Marcano” poderia muito bem acontecer para os lados do Dragão. Contudo, não houve venda e talvez esse factor se explique pela fraca movimentação dos Dragões no mercado, com Sérgio Conceição visivelmente agastado com o trabalho da SAD nesse sentido. Não existindo reforços de qualidade para substituir Herrera, ficou-se com o capitão sob o “nevoeiro” de uma saída a custo-zero de um dos maiores activos do clube.
No meio disto tudo, a nova época começou e Herrera entrou com o pé esquerdo. Jogos parcos em intensidade, posicionamento pouco claro e sem que conseguisse auxiliar os seus colegas do meio-campo defensivo (ver o jogo com o Vitória SC, em que Herrera pouco ou nenhum apoio deu a Sérgio Oliveira e, no extremo, a Maxi Pereira), falta de activação no ataque e na presença junto à área e passe sem a qualidade desejada e necessária para ajudar o clube a rumar no sentido de uma harmonia de ataque-defesa de classe.
PERNAS QUE SUSTENTARAM (EM EXCESSO) UM TÍTULO E UM SONHO NO MUNDIAL
A falta de descanso (que não terá sido só pelo Mundial, mas também pelos incidentes a nível de vida pessoal que se denotaram pré e pós Mundial) acabou por voltar a expor alguns dos piores traços de Hector Herrera, sem que os melhores conseguissem, desta vez, suprir essas falhas como aconteceu em 2017/2018. Notou-se na Luz algo que já se tinha visto tanto em Gelsenkirchen e no Dragão (frente ao Vitória SC, principalmente), tanto no posicionamento ou na intensidade imposta no centro do terreno.
Herrera não consegue acompanhar Brahimi ou Marega/Corona nas extremidades, sente amplas dificuldades em construir o tal “triângulo” ofensivo junto da grande área, manifestando não só falta de capricho (vários passes errados tanto pela forma deficitária com que segura o esférico ou pela desatenção na aproximação do adversário) como segurança e confiança. Nota-se um médio que nivela muito por baixo, sem capacidade de dar outra dimensão a uma equipa que vive do factor físico e da intensidade de jogo imposta no meio-campo dos seus adversários.
A falta de forma de Herrera força a que o trinco tenha de desempenhar outras funções como foi o caso de Sérgio Oliveira. O médio internacional português desgastou-se muito rapidamente nos diversos jogos do FC Porto, passando de uma boa intensidade e presença, para um jogador de “rastos” a partir dos 50 minutos. Fruto disto foi a forma como foi forçado a “substituir” Hector Herrera em alguns momentos, e isto notava-se bem pela presença no lançamento do ataque já em zonas adiantadas do terreno.
Otávio não é um médio que inspira grande medo a defesas mais experientes, apesar de todo o virtuosismo técnico que possui, necessitando que o seu “8” faça um trabalho de aproximação e intimidação no ataque, o que pode abrir espaços e outro desenvolvimento atacante. Porém, sem a presença de um 8 de forma constante, Otávio depende muito das suas individualidades e do poder de Brahimi em arrastar 1 ou 2 defesas para conferir outro tipo de liberdade ao brasileiro.
Herrera tem sido uma constante atrapalhação no crescimento do FC Porto a nível ofensivo, especialmente nos últimos jogos, denotando-se cansaço, uma postura pouco agressiva e desadequada para o que se espera deste FC Porto, evidenciando por outro lado uma falta de acerto no passe, posicionamento e até de pensamento de jogo.
Todavia, o capitão permanece de pedra e cal no onze de Sérgio Conceição, mais pelo estatuto que conquistou no último ano do que mérito pelo que tem feito esta época. Ironicamente, em Agosto conseguiu atingir um número nunca antes conseguido de 88% de passes completos, um recorde pessoal para o mexicano.
Se formos só pelas estatísticas, Herrera parece “fugir” ao cenário de “culpado”, sendo mais uma vítima da conjectura actual. Mas, por exemplo, registaram-se, no Clássico, 5 desarmes de Herrera, um número bastante positivo… não fossem mais de metade desses desarmes terminarem em recuperações da equipa adversária ou terem acontecido em zonas “mortas” do terreno.
Teve até 8 duelos ganhos, mas que acabaram pedidos na segunda bola… ou seja, de nada valeu ganhar o 1º confronto se perdeu a continuidade logo no imediato. Ficam assim os números, que acabam por viver “desprovidos” do contexto real, que passa por demonstrar se Herrera está ou não a fazer o seu papel como 8 dos campeões nacionais em título.
Será Herrera um dos culpados da falta de frescura no ataque e apoio na defesa? Ou será o mexicano um sintoma das exigências físicas de Sérgio Conceição, mostrando-se visivelmente cansado ainda devido à época passada e ao mundial? A verdade é que a forma de Herrera é abissal, desprovida de lógica e paixão, sem a consistência física, agressiva e de intensidade que reconquistou os adeptos em 2017/2018.