A outra face de Londres: West Ham e Crystal Palace
Londres é provavelmente a cidade europeia com mais equipas de alto nível a atuarem na principal divisão do seu país. Dos milionários Chelsea e Arsenal, passando por um Tottenham em clara ascensão sob o comando de Pochettino, até aos mais humildes Milwall e Charlton (todos eles com uma história rica apesar de estarem em divisões inferiores), é pertinente falar de dois clubes que tentam acompanhar a fuga dos principais clubes da cidade, mas que caso não se acautelem, podem ver-se de novo no pelotão juntamente com as equipas acima mencionadas, algo que sucedeu recentemente com outras duas equipas da capital britânica, o Fulham e o Queens Park Rangers, que se encontram no Championship.
Primeiro, o Crystal Palace. Os homens do sul de Londres têm sido alvo de um forte investimento desde que o clube foi adquirido por um grupo de abastados sócios em 2010, altura em que o clube se encontrava em risco na segunda divisão inglesa. Os novos donos conseguiram por pouco a manutenção nesse ano, conseguindo dar ao clube uma estabilidade importante, que levaria ao regresso à Premier League três anos depois. Mas essa estabilidade foi desaparecendo, devido à desmedida sede e ambição dos proprietários, que exigiam resultados a uma velocidade impossível de corresponder.
Em 4 épocas o Palace teve 5 treinadores, o que comprova a instabilidade que se vive no sul de Londres. Tony Pullis, conhecido por ser um técnico fundamentalmente de resultados e não de futebol espetáculo não convenceu a cada vez mais exigente bancada do Selhurst Park (ao contrário do que tem sucedido no West Brom, onde é idolatrado pelo pela massa adepta), Alan Pardew foi despedido ainda antes do último natal, mesmo tendo levado a equipa a uma final da FA Cup na época anterior, e Sam Allardyce não quis continuar esta época após ter garantido a manutenção a época passada (culpa da falta de estabilidade e sagaz ambição da estrutura?). Já este ano, após 4 derrotas em 4 jornadas, o novo timoneiro holandês Frank De Boer foi despedido e substituído pelo ex-selecionador inglês Roy Hogdson, que apresenta um estilo e ideias totalmente diferentes das do deu antecessor, o que demonstra bem a falta de rumo e definição estratégica com que o clube se debate neste momento.
O investimento tem sido elevado nas épocas recentes, com aquisições de jogadores como Yohan Cabaye, Mamadou Sakho e Steve Mandanda, três internacionais franceses que juntos custaram mais de 50 milhões de euros, o dispendioso belga Christian Benteke por quem pagaram à volta de 30, os rápidos e tecnicistas Wilfried Zaha e Andros Townsend que por serem jogadores ingleses são sempre altamente dispendiosos ou o internacional sérvio Luka Milivojevic que veio do Olympiakos. No entanto nem com consecutivos investimentos no plantel a equipa chega às pretensões da direção. Pode parecer uma antítese, pois o plantel é rico em soluções, e este ano viu chegar ainda mais alguns reforços para aumentar a profundidade do plantel. A equipa garantiu os jovens Jairo Riedewald e Timothy Fosu-Mensah, para a defesa ou para o meio campo defensivo. O primeiro chega proveniente do Ajax tendo custado 9 milhões de euros e o segundo vem cedido pelo Manchester United. Para além destes foi adquirido ainda o promissor médio inglês Ruben Loftus-Cheek cedido pelo Chelsea, para dar outra criatividade e qualidade na construção no meio campo.
Cabe agora ao veterano Roy Hodgson mudar o rumo que a equipa está a tomar, estando neste momento no ar a dúvida se o novo líder vai mudar totalmente o paradigma ou aproveitar o que foi feito pelos anteriores técnicos e manter o 3-4-3 com dois laterais ofensivos (Joel Ward, Van Aanholt e Jeffrey Schlupp são muito fortes a fazer todo o corredor), dois médios mais posicionais, onde há varias opções como Cabaye, McArthur, Milivojevic ou Loftus-Cheek, e um ataque rápido e criativo onde o técnico pode apostar em várias opções de nível, os já mencionados Benteke, Zaha e Townsend ou ainda o criativo Jason Puncheon, o potente maliano Bakary Sako ou o elegante avançado Connor Wickham. Na baliza irá manter-se Wayne Hennessey, na defesa os experientes Martin Kelly, James Tomkins, Scott Dann e Damien Delaney prometem dar dores de cabeça fortes ao treinador na hora de escolher o “11”, dores essas quase tão fortes como as que são dadas pela pressão e exigência da direção dos Eagles.
A nordeste do Selhurst Park mora outra equipa que atravessa uma fase delicada, sem no entanto se comparar à fase delicada que a equipa viveu nos final dos anos 70, e que teve muitos altos e baixos até à serenidade aparentemente alcançada no ano de 1993, quando regressaram à Premier League para ficar, com um ou outro percalço até aos dias de hoje. Falamos do West Ham United. Com três FA Cups e uma taça das taças, os Hammers são das equipas que se podem gabar de ter ganho na Europa, e a direção quer agora ter novamente uma equipa capaz de lutar por conquistas semelhantes. Conhecida por ter das melhores escolas do futebol inglês, donde saíram por exemplo Rio Ferdinand e Frank Lampard, sem esquecer Joe Cole ou Michael Carrick, o clube mudou muito a forma como aborda a aposta na formação nos últimos anos.
Ultimamente, o investimento tem sido brutal, o que motivou a ausência quase total de jovens valores do clube na equipa principal (o jovem mais promissor neste momento, Reece Oxford, foi emprestado ao Borussia Moechengladbach). Com este recente investimento os Hammers têm conseguido juntar às suas fileiras jogadores de classe mundial. Elementos como Dmitri Payet, Alex Song, Sofiane Feghouli, Álvaro Arbeloa ou Havard Nordveit foram aquisições dispendiosas (quer pelo valor investido, pelos prémios de assinatura ou pelos elevados vencimentos) que já rumaram a outras paragens, mas craques como Manuel Lanzini, Andre Ayew, Andy Carroll, Winston Reid, Michael Antonio ou Aaron Cresswell permanecem ao serviço do clube, aos quais se juntaram esta época alguns reforços na verdadeira acessão da palavra.
Para a baliza chegou nada mais nada menos que o titular da seleção inglesa Joe Hart, para a defesa Mauro Zabaleta juntou-se ao campeão europeu por Portugal José Fonte que chegou em Janeiro e para o ataque chegaram o potente e talentoso extremo austríaco Marko Arnautovic e o fenómeno mexicano Chicharito Hernández, reforços que custaram no total à volta de 50 milhões de euros, fora os prémios de assinatura de Hart e Zabaleta que chegaram por empréstimo e a custo zero, respetivamente.
Contudo, Slaven Bilic teve novamente um péssimo arranque na Premier League, à semelhança do que sucedeu na época passada. Três derrotas nos três primeiros jogos levaram a pedidos de demissão nas bancadas, algo que foi apenas minimamente amenizado com a vitória na quarta jornada frente ao Huddersfield. Slaven Bilic é um técnico com qualidade, no entanto parece não reunir as valências necessárias para vingar na Premier League. Mesmo na sua passagem pelo Besiktas, os turcos nunca evidenciaram a qualidade que demonstram agora com Senol Gunes, o que pode ajudar a compreender as dificuldades que o West Ham apresenta.
No entanto as culpas não são exclusivamente do técnico croata. O ano passado o plantel tinha carências na lateral direita, no meio campo defensivo e no ataque. A primeira e a última foram colmatadas devidamente com os reforços enunciados acima, mas o meio campo continua demasiado despido. Para ocupar os dois lugares mais recuados do meio campo defensivo no 4-2-3-1 ou no 3-4-3 de Bilic, o lider dos Hammers tem apenas três elementos, e sem a qualidade jogadores dos outros setores. Cheikhou Koyaté é um médio forte fisicamente e com qualidade no desarme e no jogo aéreo, mas evidencia enormes dificuldades ao nível da construção e do passe (foi defesa central até há relativamente pouco tempo), Pedro Obiang tarda em demonstrar o que vimos dele nas seleções jovens de Espanha, onde foi campeão europeu de sub 21 em 2013, e o experiente Mark Noble é um jogador útil e esforçado mas não é acima da média e não parece ser jogador para uma equipa que quer lutar pelos lugares cimeiros da tabela. Além destes há ainda o jovem promissor suíço Edimilson Fernandes, que parece render mais como médio ofensivo ou a partir da direita. A juntar a isto o treinador viu o plantel perder alguma profundidade de opções com as saídas de Payet, Feghouli e Gokhan Tore.
West Ham e Crystal Palace são clubes que se situam neste momento no limbo. A ambição de acompanhar os grandes de Londres e os investimentos brutais que têm sido feitos não parecem resultar, e as direções e os adeptos começam a desesperar. Os exemplos de recentes históricos que desceram ao Championship devem pairar agora sobre o sul e o este de Londres, e rápidas mudanças dentro e fora de campo devem ser tomadas, sobe pena de se esgotar a força na perseguição aos fugitivos de Londres, e de se regressar ao pobre pelotão onde já foram parar históricos como Aston Villa e Fulham.