A “nata” da formação que não encaixa/sobrevive a Sérgio Conceição
Há uma linha que separa entre lançar e “divulgar” vários nomes da formação, e lançar e apostar firmemente nos mais jovens, e essa linha vai para a quantidade de minutos/jogos realizados por esses atletas. Não importa se um treinador promova a subida à equipa A de cinco, dez ou vinte jogadores, quando nenhum é realmente uma aposta séria e com tempo de jogo real e/ou útil, impedindo assim o seu crescimento e estatuto, apesar da valorização poder se manter a mesma devido ao irrealismo presente no mercado de transferências. O FC Porto de Sérgio Conceição tem tentado passar a imagem e mensagem que a formação tem um lugar central e nuclear no projecto que dura desde 2017, com a missão de olhar para a matéria-prima interna, promovê-la aos séniores e de lhe dar espaço para se afirmar não só nos azuis-e-brancos, mas também no futebol português… uma imagem e mensagem que na realidade não é assim tão verdadeira, como mostraremos pelos factos.
Desde que Sérgio Conceição assumiu o lugar, 14 jogadores da formação deram os primeiros passos na equipa principal, tendo sido esse o primeiro parâmetro para estabelecer as nossas escolhas, ou seja, Gonçalo Paciência não está nesta lista porque já tinha sido lançado em jogos oficiais do plantel principal do FC Porto na época de 2014/2015.
Os 15 atletas são: Diogo Costa, Diogo Leite, Jorge Fernandes, Diogo Dalot, Tomás Esteves, Bruno Costa, João Mário, Romário Baró, Luizão, Francisco Conceição, Fábio Vieira, Vitinha, Galeno, Fábio Silva e André Pereira. O que jogou mais épocas no emblema da Invicta foi Bruno Costa, que foi lançado em 2017, mantendo-se no plantel até 2020, saindo do Dragão nesse mesmo ano para o Portimonense (cedido no entretanto ao Paços de Ferreira, onde tem vindo a rubricar uma boa época); o atleta com maior número de aparições é Diogo Leite, o central que tem enfrentado um carrossel em termos competitivos, realizando quer grandes prestações como medianas, o que explica (na óptica de alguns adeptos/comentadores) o porquê de não ser um titular assumido no 11 actual dos azuis-e-brancos.
O quadro apresentado mostra o número de jogos e golos, não se vislumbrando o número de minutos ou as ocasiões em que começaram ou não de início, sendo que 90% das aparições destes jogadores se deu substituto – Diogo Costa, Diogo Leite e Diogo Dalot somaram um bom número de jogos como titulares. Mas provam estes dados a ausência de aposta concreta na formação? Ou o simples facto de dar algumas oportunidades já é suficiente para dizer que o actual treinador dos dragões tem realizado um bom trabalho neste capítulo? Há alguns aspectos que argumentam a favor e contra Sérgio Conceição, com alguns a irem para o campo da suposição e outros mais para o lado da factualidade, sendo ambos parâmetros importantes para perceber o estado da arte real da aposta nos mais novos. Comecemos pelo campo da suposição ou de comentário: jogadores como Tomás Esteves, Diogo Leite, Fábio Vieira e Romário Baró não mereceriam uma aposta mais forte?
O lateral-direito é considerado um dos maiores talentos, tendo até conseguido ser titular no Reading, clube que milita na Championship inglesa, aos 18 anos de idade, um feito minimamente meritório para o defesa. Porém, é discutível a aposta em Wilson Manafá, Rui “Carraça” Moura e Nanú, quando há um talento de qualidade dentro de “casa”, que nunca foi apreciado pelo treinador vigente.
Diogo Leite tem sido constantemente tapado quer por Pepe, Ivan Marcano, Chancel Mbemba ou até Malang Sarr, tendo aproveitado as lesões dos outros concorrentes para somar minutos, sem nunca realmente deter total confiança da estrutura e staff na sua manutenção a central. Mesmo assim, OJogo (e o Record) publicaram constantes notícias em que se aclamava o interesse do CF Valência em contratar o central por uma certa quantia, sem que o negócio alguma vez chegasse a “bom porto”, pois o FC Porto teria exigido 20M€ pelo defesa-centro. Olhando em concreto para Diogo Leite, não há dúvidas que ainda revela alguns problemas na aproximação aos atacantes contrários ou a falta de agressividade na luta, não deixando de possuir valências de franca boa qualidade que são constantemente esquecidas, especialmente se regista uma exibição negativa (deixou de contar para Sérgio Conceição após o empate a dois golos frente ao Boavista, ficando de fora das convocatórias para os últimos encontros).
Fábio Vieira sofreu com o mesmo destino após o percalço contra os axadrezados no Dragão, perdendo o seu lugar de aposta na 2ª parte para Francisco Conceição. É indiscutivelmente um “diamante” da formação do FC Porto, com classe no passe, boa intensidade de jogo e capacidade para incomodar a defesa-contrária, surgindo bem nas linhas-de-passe ou na construção da estratégia atacante… contudo, não goza de um estatuto de aposta séria já que se vê constantemente ultrapassado. Otávio, um rival directo de Fábio Vieira, termina o contrato no fim desta época e mesmo assim mantém o lugar intacto, e podia aqui Fábio Vieira merecer maior atenção de Sérgio Conceição, mas não tem sido, nem será, o caso.
Por fim, o último caso de falta de utilização de atletas jovens é o de Romário Baró, um médio com um entendimento de jogo de qualidade, possuidor de uma devolução do esférico inteligente e um poder de recuperação francamente categórico, como se viu naquele clássico frente ao SL Benfica em 2019. Desde então, o médio-centro deixou de ser opção, inicialmente por lesão e depois por escolha técnica, ficando arredado de minutos e de palanque para se fazer notar no futebol nacional.
Ou seja, nenhum jogador da formação do FC Porto realmente tem tido oportunidade para ser uma das referências da equipa, apesar de toda a propaganda evocada por um órgão de comunicação social em especifico e pelo próprio clube apontar no sentido que os ainda campeões nacionais têm sido um baluarte de lançamento do novo “sangue”. Veja-se que nas últimas quatro épocas, só por três ocasiões é que jogadores da formação foram titulares contra os três principais rivais, e isto serve de prova ao facto que a formação do clube não tem tido assim tanto espaço para crescer e desenvolver.
O Sporting Clube de Portugal optou pela via de promover, confiar e dar oportunidades concretas a atletas das suas camadas jovens, caso de Nuno Mendes, Tiago Tomás, Gonçalo Inácio, Daniel Bragança, Matheus Nunes, Eduardo Quaresma ou Luís Maximiano, com a estratégia de Rúben Amorim a ter corrido bem até a este momento. Claro que os adeptos do FC Porto poderão arguir que os seus rivais de Alvalade só lançaram estes jogadores por necessidade e por falta de fundos para ir ao mercado (nada impedia o Sporting CP de contratar 6 ou 7 reforços de qualidade dúbia e de preço barato), mas não são os “leões” que estão baixo a chancela da Troika da UEFA e do fair-play financeiro, um pormenor que não impediu a SAD azul-e-branca de adquirir alguns reforços por preços exorbitantes, como Toni Martinez (quase 4M€), Evanilson (9M€) ou Malang Sarr (custo de empréstimo nos 2M€).
Perante o argumento “estes jovens/miúdos precisam de tempo para crescer” ou “não tem qualidade para vingar neste momento no clube”, as únicas respostas possíveis são: o dano a longo-prazo será maior, já que a formação poderia ser uma das respostas para os problemas dentro do plantel; Sérgio Conceição não é um treinador paciente e moldado para efectivamente querer dar tempo de jogo útil (não são 5 ou 10 minutos a cada 15 dias, atenção), optando por ir vendo a situação mediante os problemas por lesão/fadiga dos seus principais jogadores; e o FC Porto não é um clube apaixonado pelos jovens desenvolvidos na sua cantera, com o tratamento dado por parte da maioria dos adeptos ser de constante crítica e falta de esperança pelo crescimento dos “diamantes”.
Os dados revelam a verdade e contra factos não há grandes argumentos. Temos de estabelecer a hipótese dos jovens jogadores da formação do FC Porto não serem da qualidade que a imprensa gosta de “pintar”, ou que Sérgio Conceição e a SAD do emblema portista não acredita no potencial destes atletas. Qual das duas será real?