3 ícones lendários da Série A: Batistuta, Lucarelli e Zico
A Caderneta dos Cromos (sigam a página no Instagram) volta hoje ao Fair Play com 3 nomes que vão estar sempre associados à Serie A, seja pelos golos que fizeram, pelas fintas que desenharam, pelos passes que meteram ou por histórias únicas e inesquecíveis que ficaram na memória dos adeptos.
Diz-nos qual destes nomes trazem boas recordações? E coleccionaste algum destes cromos? Aqui ficam os 3 jogadores cada um com um episódio sensacional!
ZICO (UDINESE)
Um dos maiores de sempre tem, no seu nome, o nome da uma cidade portguesa, Coimbra! Começamos logo bem! Mas não sabemos se ele tem alguma história na cidade de Coimbra. Mas tem uma estupenda aventura na cidade de Catania, Itália, nos tempos em que representava a Udinese, ano de 1984.
No ano anterior, tinha recebido a Bola de Ouro pela France Football, o que fazia do mágico a grande contratação da Udinese. Zanussi Spa, empresa de electrodomésticos e accionista maioritária do clube de Udine, havia dispensado 4,5 mil funcionários um dia antes da chegada do craque proveniente do Brasil. Para ter o melhor jogador brasileiro, tinha que se pagar a peso de ouro.
Chegamos à 17a jornada do campeonato italiano. Udinese ia jogar fora, deslocava-se ao terreno do Catania. Zico a titular, logicamente. Na primeira parte, 1-0 para a Udinese, golo de Zico. Na segunda parte, a poucos minutos de terminar o jogo, livre a favor da Udinese à entrada da área.
Quem iria bater? Os adeptos do Catania escolheram! Começaram a gritar por Zico! Zico! Zico! Eles queriam ter a oportunidade de ver ao vivo o craque a bater um livre. Zico era daqueles jogadores que fazia com que os adeptos, fossem eles do seu clube ou não, pagassem bilhete para o ver jogar.
Zico aceita o pedido dos adeptos do Catania, coloca a bola na relva, parte para ela e… GOLO.
O estádio inteiro comemorou. Não o golo contra, não a derrota. Eles viram Zico jogar durante 90 minutos. Viram Zico fazer dois golos na sua terra. Haverá maior motivo pra festejar? Foi um privilégio, @zico_oficial. Volte sempre.
BATISTUTA (FIORENTINA)
Estávamos na época de 1999/2000, ultimo jogo do campeonato italiano ACF Fiorentina contra Venezia FC. Foi neste jogo que “Batigol” carimbou a sua história no principal clube de Florença.
Era o seu último jogo com a camisola Viola, tendo ja a sua transferência consumada para o AS Roma para a época seguinte. Mas Batistuta ainda tinha trabalho para fazer no Estádio Artemio Franchi, em frente aos seus fiéis. Kurt Hamrin (jogador da década de 60) era o melhor marcador de sempre da Fiorentina na Série A com 151 golos.
Batistuta entrou em campo contra o Venezia FC com 149 golos marcados. Spoiler Alert: Gabriel Osmar Batistuta fez três golos neste jogo (o segundo fantástico), tornando-se então o maior artilheiro de sempre dos Viola na Série A com 152 golos.
O momento do jogo foi, como se pode imaginar, o terceiro golo. O celebrar de mais um golo, o celebrar de uma larga carreira vestido de roxo, o celebrar um marco histórico junto dos seus adeptos.
Como é que Batistuta festejou? Reproduziu um golo, ele próprio foi o golo, como se ele próprio fosse uma bola, entrando dentro da baliza, abraçando as redes e deitou-se emocionado. Verdade seja dita: Batistuta é golo!
CRISTIANO LUCARELLI (LIVORNO)
Falar deste cromo exige unir a política aos golos. Por isso o chamam de “o goleador comunista”. Lucarelli nasceu em Livorno, terra italiana marcadamente comunista e seguidora de Karl Marx. Livorno é a cidade berço do movimento da Resistência contra o fascismo Mussolinista, tanto que o Partido Comunista Italiano foi criado em 1921 nesta mesma cidade.
O clube, seria criado também nessa altura, em 1915, intitulado de “o clube comunista”. Lucarelli nasceu no meio desta ideologia da sua cidade e do seu clube. Nos clubes juvenis nunca jogou no Livorno mas perseguiu esse sonho. Começou o futebol profissional em 1992 mas só em 2003 conseguiu chegar ao clube do seu coração.
Numa fase ascendente da sua carreira, Lucarelli decidiu baixar o seu salário para metade para poder jogar pelo seu clube que tinha acabado de subir para a série B italiana. “Para alguns, o sonho é ser milionario. Comprar um carro ou um iate. Para mim, o melhor do futebol é jogar pelo Livorno”, disse Lucarelli no dia da apresentação. Nessa primeira época no @livornocalcio , apontou 29 golos e conseguiu levar o clube à Liga Europa, pela primeira vez na história do clube. Choviam propostas dos grandes clubes europeus mas ele estava em casa. O salário aumentou mas ele direcionou o dinheiro para a criação de hospitais e escolas para a cidade de Livorno.
Um dos momentos mais fervorosos que revela esta enorme conexão entre o Livorno e Lucarelli aconteceu em 1997, quando o cromo comunista jogava pelos sub-21 da selecção italiana.
O jogo era especial , já que foi realizado na cidade de Livorno e Lucarelli nunca tinha jogado naquele estádio com a maioria dos seus adeptos a seu favor. Acontece que o menino fez golo e corre para a bancada onde normalmente está a Brigate Autonome Livornesi (claque de Livorno) para festejar, tirando a camisola italiana e mostrando a camisola interior com a imagem de… Che Guevara. O público enlouqueceu. Tinha nascido um ídolo no Estádio Armando Picchi.