Ver o Sporting CP por um Palhinha

Fair PlayOutubro 28, 20204min0

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João Palhinha recebeu uma segunda oportunidade no Sporting Clube de Portugal e, como explica a Revista Mibster, o médio tem agarrado com todas as forças! Uma análise à inserção do português na estratégia de Rúben Amorim

Já lá vão 5 jogos seguidos no campeonato e o Sporting continua sem conhecer o sabor da derrota. Apesar da humilhante eliminação na Liga Europa frente ao Lask Linz, os leões não deram o braço a torcer e continuaram o seu registo impressionante, com 4 vitórias e 1 empate (frente ao FC Porto), registo esse que quebra o da época 2016/2017, ano em que Jorge Jesus esteve perto de conquistar o título em Alvalade. Mas afinal: qual tem sido o segredo de Rúben Amorim?

O Sporting tem-se apresentado num 3x4x3. Muitos alegam que o sistema não se enquadra bem na realidade da Liga Portuguesa, uma vez que deixa demasiado espaço nos corredores laterais. Na Liga NOS existem extremos velozes e ágeis, e por isso muitas equipas, principalmente as mais pequenas, adotam um estilo de jogo mais direto, colocando bolas na profundidade para esses mesmos extremos. Ora, esse espaço, na formação 3x4x3 sportinguista, fica muitas vezes por preencher, facilitando a estratégia a esses adversários. O argumento é plausível. Ainda mais se se pensar que os 3 homens mais recuados do Sporting não são propriamente o espécime da sabedoria no que toca a controlo da profundidade. E mesmo que fossem, a velocidade de Neto, Coates e Feddal deixa muito a desejar. Aliás, esse defeito na ação defensiva dos leões já foi verificado em algumas partidas. Um exemplo a baixo:

Esta é a principal crítica que surge à formação escolhida por Amorim. A filosofia de jogo precisa muitos dos alas, que devem compensar defensivamente esta fragilidade no eixo central, mas ao mesmo tempo os últimos 2/3 do campo também pedem esses mesmos alas. É provavelmente a posição mais dura deste sistema. E por isso, quer Nuno Mendes, quer Pedro Porro, são obrigados a estar na máxima força.

Para não sobrecarregar estes dois homens, o resto da equipa tem de estar bastante equilibrada. Para que Nuno Mendes e Porro executem bem a sua função, é necessário que os restantes saibam exatamente qual o seu papel a cumprir no desenrolar do jogo. E será que sabem?

É aqui que quero chegar. Antes da saída de Wendel, quando o brasileiro jogava com Matheus Nunes no meio-campo, notava-se muito espaço entre as linhas defesa-médios e médios-avançados. Mesmo com dois grandes jogadores no meio-campo, sentia-se que faltava qualquer coisa à equipa no centro do terreno de jogo, que pecava no espaço que concedia entre essa zona e a linha defensiva, e não conseguia transportar a bola com eficiência e constância para os três homens mais atacantes. Essas duas debilidades foram notáveis sobretudo no jogo contra o Lask. Para além disso, como o meio-campo não estava a cumprir exatamente o seu papel, o jogo pedia muito a tal resistência dos alas Porro e Mendes, tanto a nível defensivo, como ofensivo. Ora vejam, no lance do golo:

 

Isto também acontece por falha posicional de Matheus Nunes. Falha compreensível, dado que o luso-brasileiro costuma atuar em áreas mais dianteiras do terreno.

Wendel saiu, foi uma grande perda para o Sporting, sem dúvida alguma. Por outro lado, urgia a vinda de um médio de caráter mais defensivo para acompanhar o outro homem do meio-campo. Palhinha foi a solução encontrada, e muito bem. Agora, com o jogador Português a acompanhar Matheus no meio, o Sporting fica mais forte taticamente. Palhinha joga como médio recuperador de bolas, um trinco à moda antiga; Matheus Nunes pode subir com mais conforto e assumir o papel de Wendel como médio box-to-box, fazendo chegar a bola aos três homens mais avançados; Nuno Mendes e Pedro Porro conseguem fazer a ala mais tranquilamente porque o meio-campo deixa de comprometer (tanto no ataque como na defesa); e por último, o eixo central não altera muito, mas Palhinha pode evitar que hajam mais lances como o do golo do Lask, por exemplo. Notou-se a presença dele já no jogo frente ao Porto:

Muito forte na pressão alta que faz. Tem pulmão para isso e corre o campo todo sempre em alta rotação. Forte no posicionamento sem bola e com boa leitura na antecipação. Os terrenos que pisa libertam o médio que joga ao seu lado. Rúben Amorim encontrou a chave perfeita para desbloquear o meio-campo.


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