Um Espanha-Alemanha visto (e analisado) pelo treinador Paulo C. Meneses

Fair PlayDezembro 13, 20198min0

Um Espanha-Alemanha visto (e analisado) pelo treinador Paulo C. Meneses

Fair PlayDezembro 13, 20198min0
Paulo Meneses, cronista do Fair Play e treinador profissional de futebol, explica como analisa e vê um jogo de futebol, pegando no exemplo do recente encontro entre Alemanha-Espanha! Uma lição diferente e interessante

O treinador português Paulo C. Meneses que já passou por emblemas como o FC Aizawl ou Sporting Ideal revelou-nos como vê, observa e analisa um jogo de futebol, dando o Alemanha-Espanha de Junho de 2019 como exemplo. De um resumo simples, mas detalhado, do jogo até à avaliação das valências e problemas e dos apontamentos estatísticos, fica a perceber como funciona a mente de um treinador!

O RESUMO

Primeira Parte: 

Espanha começou  com o jogo controlado, com os jogadores determinados, a mostrar as suas melhores virtudes técnicas individuais e com uma dinâmica colectiva muito eficaz.

Fabián Ruiz coroou a boa entrada em jogo dos jovens espanhóis com um golo logo aos 8 minutos, com um remate à entrada da área que não deu hipóteses de defesa ao guarda-redes alemão Alexander Nübel. A equipa de Luis de la Fuente continuaram a mandar no jogo à medida que a primeira parte foi avançando.

Por parte da Alemanha, começou expectante e deixou a posse de bola à Espanha, ainda que a Alemanha tenha, a espaços, ameaçado o empate, por Levin Öztunali e Jonathan Tah.

Os jogadores Espanhóis mais criativos agradeciam quando tinham a bola e quando o perdiam mostravam uma capacidade brutal de recuperar no mesmo instante com uma pressão imediata.

Mas o panorama foi mudando pouco a pouco. Os jogadores de Kuntz foram ganhando mais protagonismo no jogo, com mais  posse de bola e obrigando à equipa Espanhola a trabalhar mais sem bola.

Os primeiros 15 minutos foram-se convertendo em incomodidade para Espanha. Espanha tentava defender em campo contrário, mas perante um ataque posicional encontrava muitas dificuldades. Mas mesmo assim, a Alemanha teve dificuldades para criar ocasiões claras de golo. Sendo que o maior perigo chegava nas bolas paradas.

Segunda Parte: 

Na 2ª parte, a Alemanha deu um passo à frente, porque entrou com mais ritmo e isso meteu Espanha no seu próprio campo. A Alemanha começou bem, logo no primeiro minuto de jogo com um remate perigoso.

Depois, nos 20 minutos seguintes, foram muito difíceis para Espanha. Então, os Espanhóis tiveram que cerrar fileiras juntando linhas e defender-se. Alguns jogadores (Medio Centros) se mostravam imprecisos e incómodos na construção, e outros não conseguiam de encontrar-se no jogo.

Espanha, tentava encontrar o momento para controlar de novo o jogo. Então, no minuto 66, Espanha assustou com uma transição que acabou com um disparo à baliza, e minutos mais tarde, chegaria o 2-0.

Depois através de Mayoral, com um remate bem colocado, poderia fechar o jogo com um 3-0. No entanto, a Alemanha reagiu e ao minuto 88′, fez o 2-1 com um remate de longe, que depois de tocar em Vallejo, enganou o Guarda Redes.

MODELO DE JOGO ESPANHA

Sub-princípios a reter:

– Imediatamente pressionar o portador da bola e os adversários perto, evitando o contra-ataque.
– Não deixar o adversário passar bola para a frente.
– Se o adversário salta a nossa linha de pressão, rapidamente regressamos ao nosso bloco defensivo organizado.
– Não deixar o portador da bola progredir conduzindo sobre a nossa pressão, não fazer entradas no chão.
– Perante um adversário em condução (contra – ataque) defender por dentro, direccionar o adversário para fora, não fazer entradas, no ir ao chão – esperar ajudas. Parar 5-6 metros fora da área, se necessário fazer falta: falta “Táctica” fora de área.

VALÊNCIAS

– Capacidade de ter a bola durante longos períodos – Controlando o jogo, através de passes curtos (para atrair o adversário a uma zona) e longos (para mudar de zona ou para dar profundidade) – Isto dá uma grande variabilidade ao jogo ofensivo.

– Jogadores com boa capacidade de finalizar (remate de meia e curta distancia). Jogo associativo rápido, evitando a pressão – através de passes curtos e bom controlo de bola (principalmente os controles orientados entre linhas para acelerar o ritmo de jogo)

– Jogadores com boa capacidade individual no 1×1, principalmente nas fintas e simulações de corpo. Isto permite a Espanha solucionar situações de 1×1 de uma forma eficaz.- – –

– Pressão depois da perda muito intensa, através de entradas ao portador da bola, e marcação aos adversário perto, que permite muitas vezes intercetações da bola.

FRAGILIDADES

– Bolas paradas Defensivos. Diferença do aspecto fisico em relação aos Alemães.

– Fisicamente, Espanha é mais fraco em termos físicos nos duelos – bolas divididas.

– Os 2 Defesas Centrais são os 2 destros – mais fácil para adversário fazer a pressão e roubar a bola através de entradas.

– Em alguns momentos, o excesso de posse de bola, pode ser prejudicial e menos objectivo na Organização Ofensiva de Espanha. Porque às vezes consegue chegar em situações de 1×1 no ultimo 3/4 de campo, mas volta atrás com a bola.

– Defendendo, em bloco baixo, há situações de desvantagem numérica nas laterais.

POSSÍVEL PALESTRA AO INTERVALO

O que continuar…

– Continuar com a boa base dos apoios dos Defesas para receber a bola – para progredir ou para ler a situação – por vezes, com bola, decidem fazer temporização ou semi-temporização, para que os companheiros se posicionem (entre linhas, por exemplo) e para que os adversários saiam do bloco defensivo Alemão.

– Continuar circulando rápido a bola entre os Defesas Centrais e com um Médio Centro que aparece numa zona lateral (entre o Defesa Central e o Lateral, para receber a bola (através de passes curtos para atrair adversários) e mudar de ritmo através de passes de meia distância.

– Depois, dar amplitude, encontrando ao nosso Lateral Direito + passe em profundidade encontrando os companheiros entre linhas (às vezes numa zona interior).

– Ou, o médio-centro que recebe bola de um Defesa Central na zona lateral, que faça um passe de meia distância (seguro e preciso) rompendo a linha de 5 – com a ajuda de um outro médio Centro que bloqueia um médio Centro adversário da linha de 5, para que esse adversário não possa interceptar essa bola.

– Atrair o adversário em nossa zona lateral direita, através de passes curtos, temporizações e semi-temporizações, e depois encontrar um companheiro entre linhas, com ajuda de alguma “finta de corpo” de algum médio-centro que distrai e engana os adversários da linha de 5, para que o passe de meia distância rompa essa linha de 5.

– Seguir buscando companheiros entre linhas (nas costas da sua linha de 5) e a partir de aí, procurar conduções rápidas (com o peito do pé para ganhar velocidade) em direção à baliza adversária e rematar para criar oportunidades de golo.

– Ou, mudança de flanco ao outro lado – encontrando o Junior que se incorpora no ataque.

– Na Defesa (bloco médio), seguir fazendo a pressão a jogadores mais influentes (8 Dahoud) que é um jogador com uma grande capacidade técnica de passe, curto, médioe longo, que perde protagonismo se um dos nossos Médios Centro, o pressiona.

– Continuar com as vigilâncias ao Extremo (7 Oztunali) que é muito vertical, muito rápido e muito habilidoso no 1×1.

O que corrigir…

– Contra a linha media de 5 adversários, estamos a tentar conduzir contra a linha deles e perdemos a bola.

– Temos que circular a bola rápido mais vezes (através de passes curtos e precisos) entre os Defesas + Médios, para conseguir abrir espaços na linha de 5 médios adversários, e assim encontrar os nossos companheiros entre linhas.

– Sem bola, defender compactos e defender o corredor central – SEMPRE. Convidando o adversário a jogar por fora e logo pressionar e tentar recuperar a bola através de entradas ao portador da bola e intercepções por parte de nossos companheiros que cortam as restantes linhas de passe.

– Na nossa área, depois dos nossos cortes para fora da área, montar linha defensiva em linha juntamente com os 2 Defesas Centrais (principalmente Junior).

– Passe longo com o peito do pé do nosso guarda-redes para o 19 Dani – Segundas bolas em profundidade do nosso Ponta De Lança e segundas bolas de frente por parte dos nosso Médios Centro (têm que estar mais perto dos Médios adversários para interceptar a bola).

– Em Defesa (Bloco baixo), há que evitar o 2×2. Um dos médio-centro tem que bascular para ajudar o nosso Lateral e nosso Extremo, fazendo o 3×2.

– Aumentar a intensidade e ritmo de jogo, para gerar mais oportunidades de golo – rematar mais à baliza.


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