Onde é que anda o Flop: Luciano Vietto, o talento desperdiçado
Estamos em 2019, altura em que o Sporting CP ainda atravessa uma reformatação profunda um ano depois dos incidentes na Academia de Alcochete, com a direcção de Frederico Varandas ainda à procura de um rumo… entre 2018 e 2020, altura em que Rúben Amorim chega a Alvalade, o clube passa por uma fase estranha a nível do futebol profissional, com a conquista da Taça de Portugal e Taça da Liga no final da temporada de 18/19, mas com a sensação que algo não estava bem, muito por conta do plantel apresentar certas fragilidades em determinadas posições. Com a conquista de dois troféus no espaço de 5 meses, a administração leonina avança para um Verão de 2019 intenso, contratando nove jogadores para ingressarem no plantel sénior, gastando quase 35M€ nesse mercado de transferências. De Andraz Sporar a Rafael Camacho, passando por Jesé ou Yannick Bolasie, vários nomes aterraram em Lisboa para vestirem as cores verdes-e-brancas, com a contratação mais cara a acabar por ser a de Luciano Vietto, com o argentino a custar cerca de 7,5M€. Só para termos uma noção, o argentino ainda é a 9ª contratação mais cara do Sporting CP, e uma que acabou por trazer um défice entre a entrada e saída deste avançado.
Foi Luciano Vietto um flop enquanto esteve ao serviço do emblema leonino? Ou terá tido azar com o momento complicado, vivendo entre três treinadores, acabando mesmo por ser preterido por Rúben Amorim já após o início da época 2020/2021? Nenhuma das perguntas retóricas atrás são mentira, mas talvez ambas só façam sentido em existir se admitirmos que as duas estão ligadas. Vamos pelos números e tentar traçar o quadro das expectativas colocadas sobre os ombros de Luciano Vietto:
- Em 40 jogos marcou 9 golos e somou 7 assistências, cumprindo um total de 32 jogos a titular e quase 3000 minutos;
- Foi o 3º melhor marcador de golos atrás de Bruno Fernandes e Luiz Phellype;
- Nos 5 jogos que fez contra SC Braga, FC Porto e SL Benfica, o argentino só somou uma assistência, tendo rubricado três más exibições;
Os números não são nada por aí além, apesar de outros jogadores terem tido as mesmas estatísticas aquando passaram por Alvalade… porém, nenhum deles custou 7,5M€, com só Rúben Vinagre a ter atingido um nível mais baixo de promessa/expectativa/realidade. O custo volutado do médio-ofensivo argentino numa altura em que o Sporting CP passava por uma reestruturação profunda no futebol, pode ter contribuído muito para como Vietto acabaria por quebrar e nunca render aquilo que se esperava de um jogador que outrora tinha brilhado no Racing Club e Villarreal, começando a cair de forma quando foi recrutado pelo Atlético de Madrid.
Boa semana, Leões! ?
Sorriam e mantenham-se positivos! ? #SóEuSeiPorqueFicoEmCasa pic.twitter.com/bB1EZcWocZ
— Sporting Clube de Portugal (@Sporting_CP) May 4, 2020
E esse foi outro dos pontos centrais da expectativas goradas por Luciano Vietto… o seu passado. Jogou e deslumbrou na LaLiga, marcou e decidiu um bom número de jogos tanto ao serviço do Villarreal, Sevilla FC, ou Valencia CF, tentando até ir para a Premier League em 2018/2019, caindo num plantel completamente “coxo” do Fulham. Não só isso, como era considerado um dos maiores talentos do futebol argentino com possibilidade de chegar às Pampas, caso voltasse à forma das temporadas 2016/2017 ou 2017/2018, algo que nunca tornaria a acontecer.
Ou seja, num momento em que os “leões” procuravam cavalgar na conquista de dois troféus em 2018/2019, fugindo de anos sem conquistar nada de significativo, a chegada de Luciano Vietto parecia ser indicação que algo de novo poderia estar para vir… infelizmente, não foi com o argentino que as coisas mudaram e Vietto acabaria por ter a tal temporada em que terminaram em 4º lugar, em igualdade pontual com o SC Braga. Rúben Amorim ainda contou com o tecnicista no início da época 2020/2021, conseguindo afiná-lo ao ponto que em 5 jogos marcou 1 golo e assistiu por duas vezes, parecendo estar a subir de rendimento e a caminho de recuperar um papel importante no universo leonino.
Porém, chega ao dia 25 de Outubro de 2020 e, do nada, Vietto sai para o Al-Hilal a troco de 7M€, com o Sporting CP a receber apenas 3,5M€ – o Atlético Madrid recebeu 3,5M€ porque aquando da venda para os “leões” ficou com 50% de uma futura venda -, sendo um negócio minimamente pobre, e ocorrido num momento crítico da temporada. Curiosamente, volvidos 7 meses depois, Luciano Vietto viria a receber a medalha de campeão nacional, sendo essa época talvez espelho da carreira do polivalente atacante argentino: no sítio certo mas à hora errada.
Vietto é talvez dos jogadores em que a etiqueta de flop tenha talvez mais dificuldade em ser colada… os números não foram extremamente maus, apesar de poder ter tido um rendimento superior perante a qualidade individual e o número de oportunidades que recebeu; o momento atípico dentro do clube acabou por promover uma instabilidade letal e que comprometeu todo o processo de afirmação; e o começo da época 2020/2021 prometia algo mais, acabando por não se concretizar.
Luciano Vietto foi uma das contratações mais caras da presidência de Frederico Varandas e uma das que provou, na altura, que faltava um pouco mais de direcção no departamento de futebol leonino, acabando por ser a lição perfeita para reformular certas abordagens e estratégias.