Onde é que anda o Flop: Filip Djuricic, o (falso) génio sérvio da Luz

Francisco IsaacMaio 10, 20225min0

Onde é que anda o Flop: Filip Djuricic, o (falso) génio sérvio da Luz

Francisco IsaacMaio 10, 20225min0
Um talento imenso que deslumbrou a Eredivisie, mas que acabou longe dos holofotes na Luz... terá sido Filip Djuricic um flop?

Verão de 2013, o SL Benfica entrava com tudo para tentar reaver o título de Campeão nacional que há três anos pertencia a um dos seus maiores rivais, o FC Porto, reforçando o plantel de Jorge Jesus com diversas peças de franca/boa qualidade, assim como dúbia. Entre as várias contratações estava Pizzi (contratado em 2013, só vestiria a camisola a partir de Junho do ano seguinte), Lazar Markovic, Ljubomir Fejsa, Lisandro López, Luis Fariña, Funes Mori, Guilherme Siqueira, Stefan Mitrovic e, o sujeito da nossa análise, Filip Djuricic, concluindo este processo de contratações na ordem dos 55M€, um valor alto, mas que seria facilmente batido em temporadas seguintes.

Com um sabor sérvio bem expresso na captura de novos activos, Luís Filipe Vieira e a SAD encarnada ofereceram boas e novas unidades à sua equipa técnica, que apetrechou já um bom plantel com jogadores que se tornariam cabeças-de-cartaz do clube da Luz, em especial Lazar Markovic e Ljubomir Fejsa, não deixando de ter cometido alguns erros, como foi o caso de Filip Djuricic, não só pelo valor dispensado na sua contratação, como pela falta de capacidade/qualidade para se adaptar à pressão intensa e normal do SL Benfica. 8M€ por 100% do passe, resultando, no final, numa saída a custo-zero depois de quatro empréstimos sem grande sucesso, passando completamente ao lado da história das “águias”, apesar de Jorge Jesus tê-lo tentado lançar em 22 encontros da temporada 2013/2014.

Quem era Djuricic? E porque é que foram gastos 8M€ na contratação de um jogador que acabou por ser banal na passagem pelo campeonato português? O sérvio tinha despontado no Heerenveen da Eredivisie, realizando jogos sensacionais pelo emblema holandês, especialmente na época 2011/2012, onde o médio-ofensivo marcou 13 golos e realizou 18 assistências no espaço de 39 jogos, seguindo-se uma temporada de nível similar em 2012/2013 (9 golos e 12 assistências), isto quando nem tinha ainda 21 anos. Pés de veludo enriquecidos por uma agilidade e destreza eletrizante, um sentido de ataque ameaçador constante, capacidade para perceber qual o momento X, e poder de remate, completavam aquele que era uma das novas coqueluches do futebol sérvio.

Elogios caíam em catadupa, Ajax, PSV, West Ham, Atlético de Madrid, Nápoles, e afins supostamente interessados no médio-ofensivo, elevaram a corrida por Filip Djuricic até ao dia 13 de Junho, altura em o SL Benfica avançou decididamente para a sua contratação e completou a operação a troco dos tais 8M€, pondo fim à especulação. O internacional sérvio saía dos Países Baixos visto como um dos melhores jogadores do campeonato, um dos atletas mais promissores dos últimos anos, e catalogado como um pequeno “génio” que podia combinar com excelência com Lazar Markovic no ataque, munindo Jorge Jesus da possibilidade de jogar um futebol mais solto, dinâmico e animado na frente-de-ataque… isto era a teoria. E na prática?

Bem, na prática Djuricic começou bem, conquistando a titularidade nos primeiros jogos oficiais dessa temporada, onde até conseguiu marcar um dos golos da vitória ante o Anderlecht para a Liga dos Campeões (2-0), com alguns dos seus detalhes mais especiais a virem ao de cima no arranque da época. Porém, e aqui começa a se dar o volte-face, Filip Djuricic não era o típico jogador apreciado por Jorge Jesus, muito pela falta de intensidade nos processos de recuperação de bola e transição entre ataque e defesa, isto para além de ter de lutar contra Enzo Pérez, Lazar Markovic por um lugar no onze titular, com esta combinação de factores a tirar espaço e oportunidades ao sérvio, que acabou relegado para o banco de suplentes na maior parte da temporada.

É preciso ver que nos últimos 30 metros, Filip Djuricic tinha franca qualidade e era um jogador minimamente diferenciado, necessitando só de mais espaço, tempo e paciência para ganhar alguns automatismos que podiam ir de encontro com as exigências de um titular no SL Benfica, como ficou visto em alguns jogos durante essa temporada de 2013/2014.

Contudo, Jorge Jesus, e quem conhece bem o técnico verá isso com facilidade, se um dado activo não conseguia apresentar sinais de evolução e crescimento num determinado espaço de tempo, o seu destino estaria selado no fim da temporada, mesmo que existisse uma boa possibilidade de poder vir a ser um reforço para a equipa de boa/alta qualidade, se lhe fosse atribuído essa etiqueta. Um dos jogos mais críticos de Djuricic foi frente ao FC Porto na segunda volta do campeonato, com o médio-ofensivo a gozar de 82 minutos para mostrar as suas competências… infelizmente, para o sérvio, Jorge Jesus não voltou a ser chamado ao 11 inicial, e acabou na lista de dispensas no fim da temporada.

Para a história ficou um campeonato conquistado, dois golos e duas assistências em 24 jogos, saindo para o Mainz, inicialmente, seguindo-se, na mesma temporada, o Southampton, Anderlecht e Sampdoria, clube que acabaria por o contratar a custo-zero em Janeiro de 2017. Em nenhuma das cedências realmente despontou, o que ser uma espécie de certidão de “óbito” antecipada em termos da carreira profissional, até surgir a ida para o Sassuolo, onde realmente voltou a impor aquele brilhantismo especial visto ao serviço do Heerenveen, concretizando 14 golos e 18 assistências nas últimas duas temporadas e meias.

Ou seja, a pergunta se Filip Djuricic foi um flop no SL Benfica é aceitável de se colocar, mas não tanto pela falta de talento ou qualidade individual, pois o sérvio teve momentos de brilhantismo especiais que pareciam prometer algo mais. Todavia, as exigências tácticas e físicas de Jorge Jesus, o (bom) excesso de talento no plantel, e as algumas lesões musculares – aconteceu o mesmo nesta época ao serviço do Sassuolo – acabaram por ser decisivas no seu “adeus” precoce à Luz.


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