O Diário do Estagiário 6# Monitorização do Treino

João NegreiraMarço 28, 20216min0

O Diário do Estagiário 6# Monitorização do Treino

João NegreiraMarço 28, 20216min0
Com os treinos presenciais ainda parados, o nosso treinador estagiário continua a realizar tarefas extra com as suas atletas. Descobre tudo!

Esta é uma rubrica onde um treinador estagiário partilha a sua experiência. Num contexto de aprendizagem, onde irá ser confrontado com as diferenças teóricas e práticas, vai procurar compartilhar com os leitores todas as suas vivências.

O desporto amador em Portugal continua parado e o meu contexto não é exceção. No entanto, como referi no episódio passado, estou a realizar algumas tarefas extra com as atletas que foram chamadas a treinar com a equipa A. No mês passado fiz as análises individuais em vídeo e expliquei-vos todos os pormenores da operacionalização dessa tarefa. Neste mês que agora termina, decidi realizar outra tarefa para continuar a acompanhar e ajudar as atletas.

Se na tarefa anterior o objetivo era analisar/ajudar a nível técnico-tático, esta tarefa tem como objetivo analisar/ajudar a nível físico/fisiológico. E para isso surge a monitorização do treino, pois só assim conseguimos perceber a que cargas as/os atletas estão sujeitos, que influência essas cargas têm e quais as implicações a nível físico, é que o treino tem nas/nos atletas. Poderia até adiantar-me mais sobre a monitorização do treino (pois esta não é apenas feita da maneira que estou a fazer) e sobre como podemos controlá-lo através da carga interna ou da carga externa (porque há muito para teorizar antes da prática), mas vou diretamente à minha tarefa.

De forma muito objetiva, as atletas têm que responder a 2 questionários. Um de wellness e bem-estar e outro da perceção do esforço no treino. Os questionários respondidos pelas atletas serão sempre subjetivos e permitem à equipa técnica perceber como é que a/o atleta se sentem em relação ao tema que for avaliado no questionário. Escolhi estes 2 questionários pois são de fácil compreensão por parte das/dos atletas e são muito ricos no sentido em que oferecem muita informação às equipas técnicas. No entanto, sendo subjetivos temos que ter isso sempre em conta e não extrapolar os resultados para além daquilo que realmente são.

O questionário de Hooper (Hooper & Mackinnon, 1995) avalia o sono, o stress, a fadiga e as dores musculares numa escala de 1 a 7. Normalmente é respondido 30 minutos antes do treino e permite à equipa técnica perceber se há algo desviante no bem-estar das/dos atleta para depois adaptar o treino segundo essas respostas. Isto é, se uma/um ou mais atletas dizem que dormiram muito mal a equipa técnica pode adaptar o seu feedback para essa/esse atleta. Se a/o atleta diz que está muito fatigado, a equipa técnica pode adaptar o treino.

Exemplo da escala do Questionário de Hooper. (Foto: Barça Innovation Hub)

O questionário da Perceção Subjetiva de Esforço (Foster et al., 1995; 1998; 2001) avalia o esforço que a/o atleta sentiu durante o treino. Vários estudos referem que este questionário deve ser aplicado 30 minutos após o treino. Este questionário permite à equipa técnica não só perceber qual a perceção do esforço que as/os atletas tiveram, mas também calcular a magnitude da carga (através da multiplicação da PSE pelo volume de treino) e consequentemente, analisar outras variáveis, como a monotonia e a tensão de treino, que nos permitem perceber se as/os atletas estão em sobretreino (que pode causar lesões) ou até em subtreino.

Exemplo da Escala da Perceção Subjetiva de Esforço.

Apesar de estes serem os objetivos gerais para estes questionários eu não os apliquei com estes objetivos. Faz sentido recordar que as atletas com quem estou a trabalhar estão enquadradas na equipa A e por isso, podendo ainda assim transmitir informação à equipa técnica, tive que delinear outros objetivos. Posto isto, para estes questionários os meus objetivos passam por ajudar as atletas nestas questões de bem estar e dar-lhes a oportunidade de contactarem com ferramentas que (digo eu) apenas jogadoras profissionais contactam.

Ou seja, ao invés dos resultados dos questionários terem uma influencia muito mais direta no treino, o meu objetivo é agrupar e recolher vários dados para depois ajudar as atletas individualmente. Isto é, os resultados forem muito desviantes algo se passa com a atleta e, podendo controlar isso, consigo falar com ela e ajudá-la mais facilmente, seja porque dorme mal, está sob profundo stress ou sofre de demasiadas dores corporais/físicas.

A nível da operacionalização fazemos tudo à distância – apesar de eu assistir à maioria dos treinos. Criei um formulário no GoogleForms para que as atletas possam responder de forma autónoma e envio para o grupo de Whatsapp. Criei também um Excel para poder organizar toda a informação da maneira que me for mais confortável para analisar posteriormente. E por fim resta a análise em si, para perceber que atleta necessita de mais atenção em certo ponto, para poder falar com ela.

Esta é uma tarefa diferente. As/Os atletas podem não perceber logo de início os benefícios que isto lhes podem trazer, e isso dificulta, possivelmente, o seu empenho e interesse nesta tarefa. No entanto, a monitorização do treino é importante a todos os níveis e só assim conseguimos ter mais informação para ajudar as/os atletas.

No que me diz respeito a mim como estagiário tem sido muito interessante poder operacionalizar este tipo de conteúdos que só tinha trabalhado de maneira teórica. Assim, consigo perceber o que posso fazer de diferente no futuro e ganhar experiência neste tipo de tarefas.

O regresso dos treinos presenciais (ainda sem confirmação oficial) está previsto para 19 de abril. Espero no próximo episódio poder dar-vos mais novidades sobre o meu estágio!


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