O Diário do Estagiário 5# Análises Individuais em Confinamento
Esta é uma rubrica onde um treinador estagiário partilha a sua experiência. Num contexto de aprendizagem, onde irá ser confrontado com as diferenças teóricas e práticas, vai procurar compartilhar com os leitores todas as suas vivências.
A meio de janeiro todas as competições não profissionais pararam, assim como os treinos presenciais. O meu contexto não foi exceção e no episódio passado falei disso mesmo. Neste episódio vou falar-vos daquilo que tenho feito tendo em conta a paragem dos treinos.
Como disse no artigo anterior, algumas jogadoras da minha equipa foram chamadas à equipa A. Algumas delas já lá tinham ido, outras nem por isso, mas na verdade, é sem dúvida uma excelente oportunidade, já que a equipa feminina do SCU Torreense está na Liga BPI, a primeira divisão feminina em Portugal. E nesse sentido é uma boa chance para continuarem a evoluir e aprenderem com jogadoras mais velhas.
Da minha parte, tendo em conta que não tinha qualquer produção documental para realizar, nem que estar presente em treinos, decidi acompanhar essas jogadoras na equipa A e realizar diariamente uma análise individual dos seus treinos. Falei com o meu orientador académico e com o meu treinador principal (que também é adjunto na equipa A) e tive toda a abertura para gravar os treinos e ir ajudando as jogadoras.
Essencialmente, o meu principal objetivo é/era ajudar as atletas a evoluírem individualmente. Sem querer opinar/corrigir questões coletivas ou que estivessem diretamente ligadas àquilo que a equipa técnica pedia queria, sobretudo, mostrar-lhes aquilo que estavam a fazer de bem e menos bem. Fundamentalmente, foquei-me em ações técnico-táticas individuais ofensivas e defensivas, tentando algumas vezes ajudar na questão psicológica de ansiedade e stress.
De referir também que eu nunca sei o que analisar, porque analiso aquilo que o treino me dá. Ou seja, não faria sentido dizer que em certo treino ia focar-me nos passes longos e depois quando ia analisar, a jogadora só fez 3 passes longos em todo o treino. Assim, só quando estou a analisar é que estou à procura, estando sempre dependente do tipo do exercício (o que exige das jogadoras) e daquilo que a jogadora dá ao exercício (se mal tocar na bola, terei pouco para analisar).
Muitas vezes as/os atletas têm noção dos seus erros (outros nem tanto), mas é natural que rapidamente se esqueçam do que fizeram. É aqui que entra a importância da análise em vídeo e a base desta tarefa. Como referi anteriormente, gravo todos os treinos e faço uma análise em vídeo de aspetos a melhorar e aspetos positivos de cada atleta (5).
Ora, como é que operacionalizei esta tarefa? Tendo a gravação do treino por exercícios, junto-os num só vídeo para que tenha mais facilidade em codificá-lo. Realizo a análise (da maneira que referi acima) através do software VideoObserver, que me permite codificar vários momentos e ficar com os cortes de vídeo e termino com a edição de vídeo (algum texto e foco de luz na atleta) através do software METRICAPLAY. De mencionar a importância de colocar cortes de aspetos positivos e de os colocar no final do vídeo. Isto para que possamos fazer entender que ela não fez só coisas más e que também está a evoluir em certos aspetos.
Para me assegurar que as atletas vêm os vídeos e os interpretam da maneira que quero, reúno individualmente com cada uma delas antes do treino desse dia começar, mostrando-lhes o vídeo do treino do dia anterior. Assim posso dizer mais alguma coisa que não disse na edição do vídeo e procurar questionar em certos momentos para que sejam também elas a descobrir o caminho e não eu a mostrar-lhes. Depois ainda envio o vídeo por Whatsapp, para que fiquem com o vídeo e o possam voltar a ver se assim o quiserem (e devem).
E tem sido assim que substitui a falta de treinos e competição. Esta é a 4ª semana de análises que fazemos e o rescaldo tem sido positivo. Penso que o objetivo principal tem estado a ser cumprido e fico ainda mais contente quando noto, efetivamente alguma evolução.
E assim não fiquei parado, continuei a ganhar competências ao nível da análise, experiência a trabalhar com softwares de análise e edição de vídeo e tive a oportunidade de observar os treinos de uma equipa de Liga BPI. Termino assim mais um episódio, na esperança de quando vos voltar a escrever, os treinos presenciais já tenham sido restaurados.