O Diário do Estagiário 3# Primeiras Intervenções
Esta é uma rubrica onde um treinador estagiário partilha a sua experiência. Num contexto de aprendizagem, onde irá ser confrontado com as diferenças teóricas e práticas, vai procurar compartilhar com os leitores todas as suas vivências.
Mais um mês e agora bem assente no meu contexto de estágio. Sem grandes mudanças, já estou perfeitamente enquadrado, tanto com a equipa em si, como com a equipa técnica. Para quem perdeu o último episódio, podem recordar aqui a minha entrada como treinador estagiário na equipa B feminina do SCU Torreense.
Já estou há cerca de 2 meses com a equipa e deixem-me dizer que o fator competição (algo que não estava a ter em contexto de futebol infantil) torna tudo muito mais motivante e interessante. Em boa verdade, não estamos a ter competição todas as semanas. Devido às várias restrições em relação ao COVID e também devido à própria natureza do calendário, contabilizamos apenas 4 partidas (fica a promessa de contar a minha experiência em jogo e de falar um pouco das minhas funções pré, durante e pós jogo).
Mas o simples facto de trabalharmos durante a semana para atingirmos um objetivo no jogo ao fim de semana, faz com que a mentalidade, a metodologia e também a própria pré-disposição sejam outras. É muito mais motivante saber que todo o trabalho no treino vai ser culminado no jogo, sendo que o próprio jogo é uma panóplia de emoções que só quem está lá dentro é que sente.
Passando para o processo de treino, onde, a priori, teria pouca intervenção acabo por já ter tido várias oportunidades para não só intervir ativamente em vários exercícios, como também liderar algumas sessões de treino. E aqui deixem-me mostrar-vos os 2 lados da moeda.
Por um lado, se o treinador principal me dá a oportunidade/abertura para intervir é porque tem confiança nas minhas capacidades e me sente capaz de o fazer (estou seguro que se assim não fosse, ele não o faria) e também se estou a intervir tenho mais conteúdo por onde refletir e para poder melhorar. Isto é, quanto mais eu intervenho, mais consigo olhar para as minhas ações (feedback, posicionamento, etc) e consequentemente consigo perceber onde errei para poder melhorar.
Por outro lado, quanto mais intervenho mais me exponho e estou mais exposto ao erro. Tendo em conta a minha pouca experiência e sendo um mero treinador estagiário, o erro é normal de acontecer, mas as consequências que o meu erro tem no processo de treino de toda a equipa é que pode ser um problema. Para além disso, considerando que a diferença de idades não é assim tão grande e que estou com a equipa à relativamente pouco tempo, todo o processo de construção da relação treinador-atleta é muito mais demorado e faz com que aquelas atletas que notem mais os meus erros, possam ter dificuldades em aceitar e compreender o meu feedback, de uma maneira geral.
Posto isto, considero que estas primeiras intervenções têm um rescaldo positivo, na sua globalidade. Apesar de alguns erros, seja no planeamento ou na própria intervenção (que, naturalmente, fazem parte de todo este processo), sinto que ao intervir tenho vindo a ganhar cada vez mais capacidades, fazendo de mim, sessão após sessão, um melhor treinador. Conheço, por exemplo, colegas que não têm qualquer intervenção em treino no seu estágio e nesse sentido podem demorar mais tempo a atingir certas capacidades.
Fecho assim o ano civil de 2020, com esperanças de que o 2021 que aí se avizinha seja repleto de saúde (que neste momento é aquilo que todos precisamos) e também de aprendizagens e partilha. Só a “mexer na massa” é que conseguimos retirar aprendizagens, então há que encarar os momentos difíceis como oportunidades para crescermos e aprendermos.
Despede-se um “treinador estagiário normal” com a promessa de que no próximo ano a partilha de experiências vai continuar.