Jovens estrelas que caíram cedo demais: Luboš Kalouda

Francisco IsaacAbril 6, 20244min0

Jovens estrelas que caíram cedo demais: Luboš Kalouda

Francisco IsaacAbril 6, 20244min0
Tens recordações de Luboš Kalouda? Um médio versátil e que chamavam-no do novo Nedved que acabou esquecido até pelos adeptos checos

Quantas jovens estrelas atingiram o patamar mais alto do futebol mundial para depois caírem abruptamente ou, pior, devagar sem nunca encontrarem um rumo de regresso aos títulos internacionais e aos grandes palcos (como é o caso de Luboš Kalouda)?

Nesta rubrica não procuramos descobrir quem tem culpa, mas sim as razões desse desaparecimento, perceber onde foram parar e se há alguma hipótese de redenção. E atenção, não dissemos desaparecemos porque ainda jogam seja numa primeira, segunda ou terceira divisão.

Se conheces mais casos deixa nos comentários para investigarmos e falarmos desses nomes.

UMA FLECHA QUE SE ESFUMOU

Os Mundiais de sub-20 são o melhor viveiro para o surgimento de novas coqueluches, especialmente na última década dos anos 90 e a primeira dos 2000, com vários talentos jovens a se transformarem em atletas séniores conhecidos como Lionel Messi, Jozy Altidore, Alexandre Lacazette, Oscar, Erik Lamela, Neymar, etc. Porém, há outros que caem no esquecimento quando se tornam séniores, apesar de terem realizado uma campanha memorável num dito Mundial, como é o caso do checo Luboš Kalouda. Quem era Kalouda? Médio-centro de 1,76, formado no 1. FC Brno. E dentro de campo quem era Kalouda? Um jogador verstávil e inteligente, munido de um pé direito potente e capaz de colocar a redonda no síto e hora certa.

Não era o jogador mais entusiasmante do planeta, nem o mais rápido, mas existia um equilíbrio nas suas qualidades individuais, capacitando qualquer equipa de uma inteligência mordaz e uma facilidade no controlo da posse de bola. A calma que nutria transmitia confiança e isso fez a diferença em no Campeonato do Mundo de 2007, a única final da história do futebol checo em termos de categorias juvenis. A Chéquia, e Kalouda, tiveram pela frente a Argentina, Coreia do Norte e Panamá na fase-de-grupos, qualificando-se para os oitavos-de-final depois de uma vitória (2-1 frente ao Panáma, em que Luboš Kalouda marcou um dos golos) e dois empates (Kalouda marcou um dos golos da igualdade a dois golos frente à Coreia do Norte). Na fase-a-eliminar, a Chéquia parecia sempre destinada a perder, mas acabou por superar o Japão e Espanha na marcação das grandes penalidades, dois jogos em que o médio checo de 18 anos se afirmou como um dos melhores, arrebatando comentadores e analistas. Aquele toque de bola bem definido e a inteligência na tomada de decisões ficou bem exposto, assumindo-se como um dos protagonistas.

Nas meias-finais derrotaram “facilmente” a Austrália, chegando à final. Aí esperava a Argentina de Kün Aguero, com este a ser um dos heróis da reviravolta, pois aos 60′ tinha a Chéquia feito o 1-0, seguindo-se dois golos da selecção das Pampas. Kalouda, o camisola 19, realizou uma prestação positiva e parecia que se seguiria a ascensão do médio. Efectivamente, meses depois do Mundial, o CSKA de Moscovo avançou para a contratação do médio, um clube reconhecido por recrutar jovens estrelas, refinando e soltando-as no escalão sénior. Como Daniel Carvalho, Vágner Love, Chidi Odiah, Osmar Ferreyra e Miloš Krasić, Kalouda parecia estar destinado ao mesmo fim, mas infelizmente, não foi o que aconteceu. O ex-Brno esteve ligado ao CSKA de Moscovo, estando só no clube uma temporada, no qual somou 6 jogos em 40 possíveis. Uma pequena lesão acabou por acentuar os seus problemas de afirmação e o CSKA, como clube que queria ser sempre candidato ao título, não teve paciência para esperar pela ascensão de Kalouda. Nem mesmo com as palavras de Nedved, que apontava como seu sucessor, valeu de nada e Kalouda foi cedido ao Sparta de Praga, outra experiência negativa na sua curta carreira que acabaria aos 29 anos. 16 jogos, nenhum golo (no Brno tinha feito 5 golos em 25 jogos).

O Sparta não se mostrou interessado na sua contratação e então acabou por parar a um clube da segunda divisão russa: Volgar-Gazprom. Nova passagem altamente negativa, que foi desde poucos minutos de jogo a um ambiente tóxico, Kalouda acabaria por sair em 2011 e jogar nos ucranianos de Oleksandriya… voltou só a realizar 7 jogos. Em quase quatro anos, Kalouda só apareceu como titular em dez jogos, passando a maioria das temporadas a treinar à parte, lesionado ou no banco de suplentes, uma realidade que não encaixava com os sonhos traçados durante aquele Mundial de sub-20 em 2007.

Em 2014 assinaria pelo 1. FC Slovácko, clube em que se retirou como jogador aos 29 anos. Em quase 10 anos de carreira sénior, Kalouda atingiu só os 120 jogos como profissional, nunca chegou pela selecção principal checa e foi desaparacendo dos radares dos vários clubes europeus, incluindo so principais checos. O virtuosismo e o calculismo foram se extinguindo à medida que não jogava, passando de um novo Nedved para um jogador que o tempo forçou os adeptos a esquecê-lo.


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