Jovens estrelas que caíram cedo demais: Jonathan Reis

Francisco IsaacAgosto 5, 20187min0
Um jogador eléctrico que foi etiquetado como o próximo Fenómeno do Eindhoven mas que acabou em fracasso. Sabes quem é Jonathan Reis?

Quantas jovens estrelas atingiram o patamar mais alto do futebol mundial para depois caírem abruptamente ou, pior, devagar sem nunca encontrarem um rumo de regresso aos títulos internacionais e aos grandes palcos?

Nesta rubrica não procuramos descobrir quem tem culpa, mas sim as razões dessa desaparecimento, perceber onde foram parar e se há alguma hipótese de redenção. E atenção, não dissemos desaparecemos porque ainda jogam seja numa primeira, segunda ou terceira divisão.

Se conheces mais casos deixa nos comentários para investigarmos e falarmos desses nomes.

O NOVO FENÓMENO DE EINDHOVEN QUE ECLIPSOU NUM INSTANTE

Desde que apareceu Ronaldo O Fenómeno que todos os clubes procuram um atleta do mesmo calibre e que meta todos os adversários deitados no chão pelas suas fintas, dribles e toques de magia deliciosos. Em 2007 o PSV Eindhoven, um emblema propício a descobrir jovens talentos na América do Sul, vai buscar aos sub-20 do Atlético Mineiro um avançado que estava a despontar no Brasil: Jonathan Reis.

Loucura de um drible, um jeito especial para tocar e fugir, genial no um para um e um finalizador que conseguia antever o lance todo para atingir as redes da forma mais eficaz possível. O clube de Minas Gerais não conseguiu “agarrar” o jovem portento e facilitou a saída do brasileiro para o PSV, ficando acordado um valor a ser pago numa futura transferência.

Jonathan Reis era um desconhecido no geral, nunca tinha ido às selecções jovens canarinhas, actuando só ao serviço das equipas juvenis do tal clube de Minas Gerais. Teria o PSV descoberto mais um talento fantástico que agora ia dominar o futebol mundial ao jeito do Fenómeno? Com 16 anos de idade, o PSV decidiu lançá-lo na equipa de esperanças para ver o seu desenvolvimento percebendo que tinham em mãos um talento único, mas que iria necessitar de ganhar alguma raça a nível sénior.

Com esse objectivo, o clube de Eindhoven cede-o ao Tupi, clube que jogava, na altura, na Série C do Brasil. Nesse empréstimo, e só com 19 anos, Reis assume o papel de 2º avançado, com vários detalhes de interesse, acumulando 25 jogos, a maioria como titular. Os elogios chegaram e o PSV decidiu que era altura de apostar no jovem brasileiro que tinha um toque de bola especial e uma virtuosismo ímpar.

Fred Rutten promove-o à equipa principal no Verão de 2009 e Jonathan aos poucos convence o técnico que seria um risco controlado. Nos primeiros jogos ficou-se pelo banco do suplentes, entrando timidamente em alguns jogos. Chega o grande momento, Liga Europa fase-de-grupos… adversário? Sparta de Praga. Registava-se um empate até aos 80, altura em que os checos conseguiram meter o primeiro para o pânico dos holandeses, já com Reis dentro de campo.

Em 10 minutos, faz dois golos, um deles em cima do apito final e que deu um empate precioso ao PSV, naquilo que foi uma das fase-de-grupos mais destacadas do clube holandês na Liga Europa. Começava a brotar uma nova estrela brasileira em terras holandesas e Reis não se ficou por estes dois golos. Na primeira metade da época completa 19 jogos e 8 golos, assumindo-se como uma das novas pérolas do plantel.

Golos vibrantes acompanhados de uma técnica de requinte e um capricho para dar sequência a boas jogadas do PSV, Jonathan Reis rapidamente ganhou o apoio e carinho do público… todavia, esta subida ao estrelato também foi o início de um caminho muito sinuoso do brasileiro.

Ora em Dezembro de 2009, Reis tem o seu primeiro caso grave, uma falha que vai marcar a sua carreira desde logo: apanhado num controlo anti-doping. O assunto ficou estampado nas várias capas de jornal, com algumas fontes a apontarem para a cocaína como a droga consumida pelo avançado. O clube prestou-se desde o primeiro minuto para ajudá-lo na recuperação, mas Reis teve a pior reacção possível, recusando e ameaçando com a rescisão de contrato.

O PSV perante este problema, apresentou a sua defesa e explicou ao brasileiro que em caso de saída abrupta iria agir legalmente contra si, de modo a garantir algum dinheiro da formação, num caso em que o clube não teve qualquer culpa no cartório. Depois de várias voltas e reviravoltas, Jonathan Reis foi reintegrado no clube, cumpriu 6 meses de suspensão e em Julho de 2010 estava de regresso.

Ao bom jeito de quem gosta de estar numa montanha-russa, o problemático mas genial avançado fez uma pré-época estável sem ser opção para Rutten, que não confiava ainda plenamente na recuperação do brasileiro. Chegamos a Outubro e Jonathan Reis é lançado contra o Venlo…faz dois golos em 45 minutos e começa a fugir dos problemas que alimentaram a sua vida nos últimos 7 meses. Seguem-se vítimas do faro de goleador do brasileiro com o Willem II, Feyenoord, Vitesse, NAC Breda e Debrecen a sucumbirem perante a genialidade técnica e remate mortífero de alguém que só tinha 21 anos.

Contudo (e nesta história é normal surgir esta troca de destinos), em Dezembro volta a “desaparecer”, desta feita devido a uma lesão grave no joelho. Foi enviado pelo PSV para os Estados Unidos da América onde foi operado por um dos melhores cirurgiões da altura, Richard Steadman. Quando o atleta devia procurar repouso e recuperar, Jonathan Reis é apanhado com cocaína e a conduzir embriagado, condenando a sua vida no futebol holandês… ou não.

Mesmo com o contrato a findar a Maio de 2011, o PSV teve a ousadia de propor mais uma no de renovação e de oferecer toda a reabilitação no clube. Reis aproveitou a parte da recuperação, só que sem renovar pelo clube que o promoveu à Eredivisie, optando por aceitar um contrato com o Vitesse. Mais um erro numa carreira que começou mal direccionada.

Os problemas de Jonathan Reis foram se acumulando, com lesões (no Vitesse esteve de baixa mais de 14 semanas), drogas (suspeitas de uso de drogas mais leves) e discussões com o público (foi atacado pelos adeptos do Vitesse que nunca lhe deram uma oportunidade e os do PSV lançaram sacos de açúcar para dentro de campo em jeito de gozo e escárnio com a situação de cocaína que foi uma e outra vez apanhado).

A situação chegou a um ponto de ruptura tal com o futebol holandês que o Vitesse viu-se forçado a rescindir o contrato em 2013, forçando o avançado a procurar novo clube. Infelizmente, para Jonathan Reis ninguém se interessou por um jogador que era anti-profissionalismo e que estava mais preocupado com o extra-futebol do que dar o máximo dentro das quatro linhas.

Entre 2014 e 2016 jogou em clubes de divisões semi-profissionais do Brasil, actuando pelo Tombense (ganhou a Série C do Brasileirão) e Campolina FC, equipas que não têm sequer expressão a nível nacional no Brasil. Esteve muito perto de se retirar, procurando outras opções de carreira. Aguentou esses anos de queda até conseguir convencer um novo emblema em apostar na sua capacidade como um jogador errático, mas móvel, dotado mas complexo, emigrando para o Japão.

Hoje em dia joga no HC Sapporo, clube que conquistou a J2 League em 2016, com golos do brasileiro. Em 2017 e 2018 prossegue a carreira no mesmo clube, assumindo-se como um dos melhores jogadores da formação do Sapporo, onde ainda apresenta alguns daqueles detalhes que mostrou em Eindehoven, chegando a ser cogitado como o novo Romário ou Ronaldo.

Uma carreira que merecia muito mais, só que acabou vítima de um sucesso demasiado precoce. Vítima ou carrasco do seu destino?


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