Jovens estrelas que caíram cedo demais: Dominic Adiyiah

Francisco IsaacJulho 27, 20226min0

Jovens estrelas que caíram cedo demais: Dominic Adiyiah

Francisco IsaacJulho 27, 20226min0
Um goleador lendário nos sub-20, mas que nunca confirmou o talento no nível mais alto do futebol mundial... esta é a história de Dominic Adiyiah

Quantas jovens estrelas atingiram o patamar mais alto do futebol mundial para depois caírem abruptamente ou, pior, devagar sem nunca encontrarem um rumo de regresso aos títulos internacionais e aos grandes palcos (como é o caso de Dominic Adiyiah?

Nesta rubrica não procuramos descobrir quem tem culpa, mas sim as razões desse desaparecimento, perceber onde foram parar e se há alguma hipótese de redenção. E atenção, não dissemos desaparecemos porque ainda jogam seja numa primeira, segunda ou terceira divisão.

Se conheces mais casos deixa nos comentários para investigarmos e falarmos desses nomes.

DE GOLDEN BALL NOS SUB-20 A REFORMA AOS 32

A 16 de Outubro de 2009, pela primeira vez na história dos Campeonatos do Mundo de sub-20, uma selecção africana levantou a taça de campeão com o Gana a ser a nação vencedora depois de uma competição feroz, adornada com cores vibrantes de golos supremos, defesas extraordinárias e uma série de jovens jogadores a ganharem destaque naquele que é o ultimo trampolim antes de atingirem o topo do futebol profissional.

Na final frente ao Brasil, o Gana viria a derrotar os canarinhos na marcação das grandes penalidades, isto depois de terem eliminado Hungria, Coreia do Sul, África do Sul, Inglaterra (somaram apenas um ponto na fase-de-grupos) e Uzbequistão, atingindo um feito estrondoso e que os colocou (ainda mais) nas bocas dos adeptos do Desporto-Rei. Entre as várias jovens estrelas que se destacaram pelos The Black Satellites, Dominic Adiyiah foi quem vibrou mais, ao ponto que conquistou o título de melhor jogador de todo o torneio – Golden Ball -, somando ainda o registo de melhor marcador com 8 golos, tendo ainda efectuado 4 assistências para remates certeiros de colegas seus, sendo cogitado como um dos futuros grandes nomes do futebol africano e mundial.

A guelra que este ponta-de-lança de 19/20 anos tinha quando agarrava no esférico e a potência alocada em cada remate ou drible, enchiam as bancadas com um oxigénio cheio de esperança e expectativa, encabeçando bem uma das gerações mais talentosas do futebol ganês, e que iria certamente conquistar o seu lugar nas fileiras dos principais emblemas do futebol.

Após o fim do Mundial, Adiyiah, que era atleta do Fredrikstad, emblema norueguês, conseguiu conquistar a atenção do AC Milan, um clube conhecido por acertar e desenvolver em pérolas e futuras estrelas, e a troco de 500 mil euros seguiu viagem para Itália, isto sem ter uma licença de trabalho legalizada ou com os trâmites negociais finalizados. Entre a alguma confusão durante a sua chegada a Itália, o avançado foi chamado aos trabalhos do Gana para participar na Taça das Nações Africanas, o que forçaria um adiamento na sua estreia pelo clube, algo que, na altura, não caiu bem a Leonardo, o treinador-principal à altura dos rossoneros.

Do “nada” para o estrelato do futebol ganês, Dominic Adiyiah realizaria dois encontros pela selecção na CAN, jogando uns meros 18 minutos durante um mês, tendo entrado nos últimos 5 metros frente ao Egipto, que acabou por não ser suficiente para ajudar a dar a volta ao 0-1. De qualquer forma, a estreia estava feita em campeonatos internacionais – já tinha jogado três jogos pelo Gana anteriormente – , e o facto de ter conseguido obter a internacionalização pela selecção principal do seu país, acabou por ajudar no visto de trabalho, podendo, finalmente, dar os primeiros pontapés oficiais pelo seu novo clube.

Contudo, e apesar de tudo estar a correr bem ao avançado, Leonardo não o utilizou em qualquer encontro durante essa temporada, com esta decisão a deixar pairar algumas dúvidas em relação à capacidade de Adiyiah ter o que era preciso para ganhar destaque a esse nível. Veio a nova temporada e… tudo igual, com o antigo melhor jogador do Mundial de sub-20 de 2010 a só conseguir somar 55 minutos numa temporada, todos eles feitos na Coppa de Italia, o que acabou por forçar o seu primeiro empréstimo para outro clube, o Reggina 1914 da Serie B, onde também teria poucas oportunidades para brilhar. Mas porque é que o internacional ganês tinha tantos obstáculos para ultrapassar?

Porque tinha falta de três elementos que nenhum treinador teve paciência para os incutir durante a sua estada em Itália: compreensão das mudanças tácticas e do respeitar da estratégia nas transições; capacidade mental de aguentar os maus momentos de forma; e falta de presença a defender, optando por ficar excessivamente colado ao seu papel enquanto membro do ataque. Perante isto, Dominic Adiyiah perdeu tempo, espaço e oportunidades para se afirmar no díficil contexto do futebol transalpino, e optou pela solução fácil, mas perceptível: emigrar para um campeonato que lhe fosse oferecido mais oportunidades, e um salário robusto para gerir melhor o fim de carreira. Depois de passar por empréstimos ao Partizan, Karisyaka e, finalmente, Arsenal Kyiv, foi o emblema ucraniano a acertar a contratação a custo-zero do ganês, confiando na possibilidade do seu crescimento e talento, uma vez que ainda tinha 22 anos – tinha passado por 6 clubes diferentes nas últimas três temporadas, estando aqui, talvez, o problema para a sua queda acentuada.

Na capital da Ucrânia somou 6 golos em 50 jogos, e acabou mesmo por não ser o activo que se esperava… solução? Rescisão em 2013 e saída para um campeonato ainda mais periférico, o do Cazaquistão, Atyrau, permanecendo aí durante uns meses do ano 2014, até sair novamente para outra “casa”, desta feita na Tailândia! Entre 2014 e 2021, Dominic Adiyiah Esteve três anos ao serviço do Nakhon Ratchasima, passando depois para o Sisaket, também da Tailândia, e, finalmente, fechou a carreira (aparentemente) no rival dos Nakhon, o Chiangmai United, somando um total de 130 jogos, 30 golos e 8 assistências nesse período da carreira, ganhando relativo destaque neste país do sudeste asiático, que todavia não foi suficiente – como esperado – para regressar à selecção do Gana, pela qual não alinhava desde o ano de 2013.

Dominic Adiyiah foi sem dúvida alguma um eterno talento do futebol mundial, com uma aptidão apaixonante para incutir medo aos seus adversários nas selecções de formação, algo que depois nunca foi capaz de provocar quando chegou ao escalão sénior, passando por 13 clubes em toda a sua carreira, 7 países, sem nunca atingir a fasquia dos 50 golos no total, isto para quem no Campeonato do Mundo de 2009 terminou no primeiro lugar de melhor marcadores.


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