O flagelo do desporto de formação
O problema desporto de formação
Vivemos tempos de enorme incerteza numa altura em que somos confrontados com uma crise de saúde pública a nível mundial que tem vindo a afetar-nos no nosso dia-a-dia, mais do que alguma vez acharíamos que iria acontecer. Esta malapata que nos tem assoberbado está a restringir-nos de forma “desconfortável” e terá tremendas consequências a nível económico e no contexto social – que tão importante é para as nossas relações interpessoais – para um bem “maior”, o da não propagação desta pandemia que nos assola. No que toca às repercussões que esta pandemia tem vindo a ter no desporto de formação, os números são ainda mais catastróficos e é inegável que atravessamos uma emergência que, infelizmente, não parece ter resolução próxima.
Segundo dados recolhidos em algumas das modalidades com mais praticantes em Portugal a taxa de desistências no desporto de formação varia entre os 55% e os 90%, o que poderá criar uma verdadeira hecatombe no futuro, num meio que já de si vinha desprovido de grandes ajudas e acompanhamento pelas altas patentes.
Portugal, o país dos grandes
Em Portugal, temos uma cultura desportiva muito fechada, onde o futebol como modalidade rainha é, naturalmente, o desporto mais acompanhado pela sociedade. Porém, é preciso recordar que estamos perante um país que, com cerca de 10 milhões de habitantes, produz enormes talentos nas mais diversas modalidades.
Nomes como Miguel Oliveira, Telma Monteiro, Fernando Pimenta, Nélson Évora, Filipa Martins, Tiago Apolónia, Jorge Fonseca, João Sousa, Sara Moreira, João Almeida, entre muitos, MUITOS, outros, fazem parte da elite do desporto mundial e muitos deles iniciaram a sua formação em clubes e associações humildes, liderados pela “carolice” de diretores e de pais que tentam manter vivo o verdadeiro desporto de formação.
Mais do que em qualquer outra altura, é preciso elevar estes nomes e mostrar o quão importante a formação em Portugal é. O trabalho que é desenvolvido apesar de todas as adversidades e o quão difícil será renovar gerações se, como acontece neste momento, os jovens continuem a desistir da prática desportiva ou, os que se mantêm, sejam proibidos de competir.
Adaptações à realidade
Os números da pandemia relativamente ao contexto desportivo são completamente residuais em países onde esse estudo foi realizado (porque, claro está, cá no burgo nem existe consideração por tal) e é imperativo que tal seja demonstrado as devidas identidades, porque tem sido feito um enorme esforço por parte de todas as modalidades para se adaptarem a este momento que atravessamos.
Dos clubes mais ecléticos em Portugal até às pequenas associações recreativas, foram criados planos de contingência para retomar a prática desportiva com vista a ter os jovens de volta aos lugares que os fazem felizes. Vimos adaptações a instalações, vimos investimento na segurança/higiene e vimos um conjunto de regras estabelecidas para que a propagação do contágio fosse a menor possível que, no final de contas, tem vindo a dar resultado.
É imperativo que continuemos estas adaptações consoante a evolução da pandemia, nunca descurando a importância deste vírus na sociedade.
Incertezas sem fim à vista
Estamos no limiar de uma tragédia no desporto português, serão precisas várias gerações para voltarmos ao nível que atingimos até agora (e que muita gente acha que já é de si baixo), os nossos jovens vivem não só a sua infelicidade social mas também uma infelicidade competitiva que terá repercussões inimagináveis no seu desenvolvimento pessoal a longo prazo e ninguém consegue parar isto.
O estado da nação é dúbio, em tudo, mas a perplexidade dos nossos governantes no que toca ao desporto e à formação, criará lacunas sociais e desportivas que não sei se os nossos bravos jovens conseguirão alguma vez suplantar.