Stranger Rules: Jogadores como árbitros, porque não, NHL?
Como em Hawkings de Stranger Things, coisas e regras estranhas existem em todos os desportos e aqui vamos abordar as mais estranhas, confusas e surpreendentes de todas! Não percas nenhuma e diz-nos qual a mais estranha (o verdadeiro Demogorgon) de todas!
Num dia frio de inverno em Hartford no estado americano Connecticut, aconteceu história. Quem conseguiria prever que, no longínquo dia de 15 de janeiro de 1983, Mickey Volcan e Garry Howatt se tornariam nos únicos jogadores da NHL a arbitrarem um jogo? Sim, o leitor leu bem, dois jogadores arbitraram um jogo da liga norte-americana de hóquei no gelo. Mais uma regra estranha que dá origem a uma bela história!
A causa e a regra
Para esse dia 15 de janeiro estava marcado um encontro entre os Hartford Whalers e os New Jersey Devils. As duas equipas já se encontravam prontas para o jogo, mas faltavam 2 dos árbitros (o principal e um assistente). Ron Fournier e Ron Asseltine estavam presos numa tempestade de neve ao viajarem de Boston para ajuizar a partida em Hartford.
Com apenas um árbitro disponível, o que fazer? Adiar a partida até que os dois Rons cheguem? Começar com apenas um árbitro? Não. As regras da NHL são bem claras quanto ao que fazer nesta situação. A regra 31.11 da Liga diz “Se os árbitros destacados para um jogo não puderem comparecer, a Liga fará tudo para encontrar árbitros substitutos. Se tal não for possível, os treinadores ou responsáveis pelas duas equipas envolvidas devem escolher, em conjunto, substitutos capazes.”
Sem possibilidade de haver árbitros substitutos, Ron Foyt (o assistente que já se encontrava no recinto) assumiu o papel de árbitro principal e, 15 minutos antes da hora prevista de início do jogo, reuniu-se com os treinadores de ambas as equipas. Nessa reunião decidiu-se que um jogador de cada equipa iria ser assistente de Ron Foyt. Quem melhor? Os jogadores conhecem as regras, patinam melhor que ninguém e, levando um de cada equipa, há justiça e equilíbrio. Mickey Volcan dos Hartford Whalers foi o escolhido por estar fora do jogo com uma lesão na mão. Dos New Jersey Devils o escolhido foi Garry Howatt também indisponível para o jogo graças a uma lesão no joelho.
O jogo período histórico
Ron Foyt reuniu com os dois jogadores e, segundo Volcan, disse-lhes para não atrapalharem o seu trabalho. Os dois jogadores equiparam-se e vestiram cada um uma camisola preta já que nem equipamento de árbitro havia no recinto. Estava tudo pronto para começar e assim foi.
Garry Howatt estava numa posição complicada mas segura ao mesmo tempo pois jogava pelos Devils e tinha jogado no ano anterior pelos Whalers. Conhecia bem todos os jogadores e todos o conheciam a ele. Segundo o próprio, isso foi uma vantagem já que a fama de ser um jogador físico e temperamental fez com que nem colegas nem ex-colegas tentasse tirar partido da situação.
Já Volcan teve de se impor e mostrar o quão a sério estava a levar o trabalho de árbitro de emergência. Num faceoff na área dos Whalers, Ron Francis (sim, demasiados Rons nesta história) estava a tentar aproveitar-se de o árbitro presente ser o seu colega de equipa para fazer batota e ganhar a bola. Volcan não deixou passar e expulsou o jogador e colega da área, dando bola aos adversários Devils.
No fim do primeiro período do jogo, os árbitros oficiais conseguiram chegar ao recinto e acabou a “brincadeira”. Foi apenas um período, mas continua a ser histórico na liga norte-americana de hóquei. A partida terminou com uma vitória para os Devils por 2-1, mas ao lado da história isso é irrelevante.
O futuro na/da arbitragem
Mickey Volcan, depois de terminar a carreira na NHL obteve o certificado de árbitro e apitou jogos amadores e, depois do jogo mítico em 1983, recebeu uma camisola de árbitro da Liga. Já Garry Howatt disse em entrevista que não se lembra de ter recebido qualquer camisola.
Depois deste jogo esta regra nunca mais foi necessária na NHL e, com a facilidade de comunicação e mobilidade que existe hoje, é pouco provável que volte a acontecer. Assim, Volcan e Howatt são e serão os únicos jogadores da NHL no ativo a arbitrarem um jogo, mesmo que só por um período.
Como seria esta regra noutros desportos? Imaginam isto a acontecer ao mais alto nível num desporto como o futebol ou o basquetebol? Imaginem um Clássico entre Porto e Benfica e vermos Sérgio Oliveira e André Almeida como “bandeirinhas”. Ou um jogo da NBA e vermos Kevin Durant e Klay Thompson (ambos lesionados neste momento), a marcarem faltas a companheiros de equipa. Cenários hilariantes e descabidos, mas não para a NHL em 1983. No hóquei no gelo, como cantavam os Queen, “the show must go on”, mesmo sem árbitros.