Futebol e eleições são compatíveis?
É uma pergunta que tem dividido opiniões e que levou inclusive o Governo a estudar a hipótese de proibir a realização de encontros futebolísticos em dia de eleições. Pois bem, a questão, sinceramente, requer uma “entrada a pés juntos”: um redondo não. O futebol não impede a concretização do dever cívico de um cidadão. Vota quem quer. É tudo uma questão de organização do tempo que qualquer indivíduo dispõe. Como se costuma dizer, “dá tempo para tudo”, se formos organizados.
Para além do futebol nacional, existe também futebol internacional este fim-de-semana. Uma pessoa se quiser, pode muito bem ficar em casa, no conforto do seu sofá a ver futebol em vez de ir votar. Há muito por onde escolher, não só aqui, como pela Europa fora. Não sejamos tão extremistas, ao ponto de proibir a realização de espectáculos desportivos. Mais uma vez, a questão das mentalidades vem “à baila”. Deve haver responsabilidade e acima de tudo maturidade para conciliar o futebol com a ida às urnas.
Futebol e eleições cruzam-se pela terceira vez
Esta é a terceira vez que a Liga marca jogos em dias de actos eleitorais, depois das eleições legislativas em 2015 e as presidenciais de 2016. Nesse sentido, o Governo quer elaborar uma lei que proíba jogos e espetáculos desportivos em dias de eleições.
Depois da divulgação das datas dos encontros para o dia 1 de outubro, o executivo contactou a Liga para tentar “travar” o normal acontecimento da actividade futebolística.
“O governo contactou a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) propondo a alteração das datas dos jogos marcados para 1 de outubro: Braga-Estoril (16:00), Sporting-FC Porto (18:00), Marítimo-Benfica (20:15) e Belenenses-Vitória de Guimarães (20:30)”, disse em comunicado o executivo português.
Segundo o DN, a LPFP justificou-se ao executivo com explicações que já tinha dado publicamente: “Perante a participação de equipas portuguesas em competição europeia na semana anterior, à necessidade de acautelamento do intervalo regulamentar de descanso entre jogos de pelo menos 72 horas, bem como a obrigatoriedade de libertação de jogadores para as seleções nacionais, no dia 2 de outubro”.
A Liga sublinhou ainda que “não podia marcar os jogos para outro dia, adiantando que alterou a data de outros jogos da 8.ª jornada da I Liga e todos da 9.ª jornada da II Liga, por causa do ato eleitoral”.
Por outro lado, também a Comissão Nacional de Eleições (CNE) reiterou que é desaconselhável a realização de eventos como jogos de futebol no dia das eleições autárquicas porque podem potenciar a abstenção.
“Não havendo lei que expressamente os proíba, é desaconselhável a realização de eventos desta natureza que, em abstrato, potenciam a abstenção de um número que pode ser significativo de eleitores que, para além dos profissionais envolvidos, se deslocam para fora do local da sua residência habitual”, escreveu em ata o organismo.
Nesse sentido, a Liga promove a campanha “democrata e adepto”, tendo como objectivo reduzir o impacto na abstenção dos jogos dos campeonatos profissionais nas eleições autárquicas de 1 de Outubro, depois do Governo ter tornado público o desejo de proibir jogos.
“A LPFP tem noção de todo o género de impactos socioeconómicos que o futebol gera. Por essa razão, entendemos que, também nós, podemos contribuir para a sensibilização dos cidadãos quanto à importância dos actos eleitorais”, disse a entidade do futebol português.
O apelo ao voto na campanha “Democrata e Adepto” vai estar visível nas plataformas de comunicação da LPFP, assim como nos cenários das entrevistas rápidas às televisões da I e II Ligas.
Vote e “vá à bola”
Noutros países, vota-se por exemplo em dias de trabalho. O que seria se isso acontecesse em Portugal? Estavam todos dispensados da actividade laboral para se dirigirem às urnas?
O que se pede é o mínimo de bom senso nesta questão. O futebol, ou a realização de partidas no dia de eleições é compatível com o acto eleitoral. O que se passa, prende-se com uma falta de credibilidade que ameaça cada vez mais a classe política, batendo-se recordes na abstenção de 4 em 4 anos. Nada tem a ver com futebol.
Por isso, sucintamente: vote e “vá à bola”. Porque votar é um acto de consciência e cidadania compatível com outras actividades! Verá que terá um “dia completo”, com o sentimento de dever cumprido e ainda com o prazer de apoiar o seu clube ou assistir a qualquer partida do “desporto rei”, tendo um domingo “em cheio”.