“Cromos” com paixão social-política: Sócrates e Lucarelli
Alguns jogadores nunca abandonaram as causas sociais-económicas, lutando por um sistema mais justo e equatativo, como foi o caso da lenda canarinha Sócrates, ou do italiano e goleador Cristiano Lucarelli, merecendo ambos ter uma página especial na Caderneta dos Cromos!
O MOVIMENTO OPERÁRIO NA FRENTE DE ATAQUE
Falar deste cromo exige unir a política aos golos. Por isso o chamam de “o goleador comunista”. Lucarelli nasceu em Livorno, terra italiana marcadamente comunista e seguidora de Karl Marx. Livorno é a cidade berço do movimento da Resistência contra o fascismo Mussolinista, tanto que o Partido Comunista Italiano foi criado em 1921 nesta mesma cidade. O clube, seria criado também nessa altura, em 1915, intitulado de “o clube comunista”. Lucarelli nasceu no meio desta ideologia da sua cidade e do seu clube. Nos clubes juvenis nunca jogou no Livorno mas perseguiu esse sonho. Começou o futebol profissional em 1992 mas só em 2003 conseguiu chegar ao clube do seu coração.
Numa fase ascendente da sua carreira, Lucarelli decidiu baixar o seu salário para metade para poder jogar pelo seu clube que tinha acabado de subir para a série B italiana. “Para alguns, o sonho é ser milionario. Comprar um carro ou um iate. Para mim, o melhor do futebol é jogar pelo Livorno”, disse Lucarelli no dia da apresentação. Nessa primeira época no @livornocalcio , apontou 29 golos e conseguiu levar o clube à Liga Europa, pela primeira vez na história do clube. Choviam propostas dos grandes clubes europeus mas ele estava em casa.
O salário aumentou mas ele direcionou o dinheiro para a criação de hospitais e escolas para a cidade de Livorno. Um dos momentos mais fervorosos que revela esta enorme conexão entre o Livorno e Lucarelli aconteceu em 1997, quando o cromo comunista jogava pelos sub-21 da selecção italiana. O jogo era especial , já que foi realizado na cidade de Livorno e Lucarelli nunca tinha jogado naquele estádio com a maioria dos seus adeptos a seu favor. Acontece que o menino fez golo e corre para a bancada onde normalmente está a Brigate Autonome Livornesi (claque de Livorno) para festejar, tirando a camisola italiana e mostrando a camisola interior com a imagem de… Che Guevara. O público enlouqueceu. Tinha nascido um ídolo no Estádio Armando Picchi.
O DOUTOR E A LUTA POR UM CORINTHIANS MAIS JUSTO
Na década de 70 e 80, Brasil vivia uma ditadura militar. O Bolsonaro é ignorante e diz que não, não honrando quem lutou pela democracia naquele país. Sócrates foi uma dessas pessoas. E utilizou o futebol para disseminar a voz do povo e da vontade democrática. Na impossibilidade de mudar o mundo num estalar de dedos, Socrates começa a mudar o seu pequeno mundo, dentro do Coritnthians.
O clube estava numa competição equivalente na altura a uma segunda divisão nos dias de hoje. Sócrates começou a implementar a democracia dentro do clube.
Com reuniões semanais, todos os elementos do clube se reuniam para tomar decisões sobre a equipa. Se os jogadores estavam satisfeitos; os jogadores casados passaram a não integrar os estágios antes dos jogos para poder estar mais com a família; quando se ia decidir sobre contratações de jogadores ou treinadores, todos votavam; implementou sessões de yoga no clube para ajudar os jogadores a lidar com a ansiedade da competição.
Do presidente ao roupeiro, todos votavam e cada voto tinha o mesmo peso. Com esta democracia, Sócrates conseguiu transmitir uma ideologia através de uma língua que todo o brasileiro entende: o futebol. Antes dos jogos, a equipa mostrava uma tarja que dizia,
“Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”.
Para um povo sufocado pela ditadura, o perfume da democracia corinthiana servia como oportunidade para pensar sobre os moldes políticos da sociedade.