“Cromos” com chá inglês: Ian Wright e Gareth Southgate
Inglaterra e a Premier League está carregada de grandes cromos do futebol, e a Caderneta dos Cromos dá-te a conhecer duas histórias de Ian Wright e Gareth Southgate, ambas com uma marca humana de grande impacto.
IAN WRIGHT E UM PROFESSOR QUE LHE MUDOU O DESTINO
Ian Wright tem uma carreira repleta de grandes conquistas. Dentro de campo é ainda hoje reconhecido como um dos avançados mais marcantes dos anos 90 da Premier League com épocas fantásticas pelo Arsenal (por falar neles, aiai será este ano?). Fora de campo, hoje em dia é um reconhecido apresentador de televisão em programas desportivos.
Mas o caminho até chegar à anterior descrição foi penoso. Wright fala muito sobre esse percurso ardiloso que poderia perfeitamente ter levado este sujeito por um caminho menos encantador. Na autobiografia Mr Wright e A Life In Football encontramos detalhes sobre a sua infância e adolescência.
Aqui, vamos encontrar um personagem que segundo Wright foi determinante para um adolescente decepcionado com a vida se tornar focado, com sonhos vivos em si e com o ultimate goal do existencialismo, um propósito: o professor Mr Pidgen.
Ian Wright cresceu num ambiente familiar e social violento. O seu pai abandonou-o muito cedo. Foi criado numa casa dos subúrbios de Londres com a mãe, padrasto e um irmão. O padrasto foi recorrenemente violento com a sua mãe. Chegou a ser violento física e psicologicamente com Wright. Todo este cocktail abusivo durante a sua infância e adolescência fizeram com que Wright abdicasse dos seus sonhos. Nestes momentos, um anjo dá jeito.
Foi assim Mr Pidgen, professor da Turnham Junior School… Um professor com a missão honrosa de ensinar conceitos e matérias mas, pelos vistos, também a ensinar viver. Wirght diz que Pidgen foi a primeira figura masculina na sua vida que acreditou nele.
“eu sabia que ele me amava. Eu não sei porque me escolheu a mim. Felizmente, escolheu. Ele deu-me responsabilidades. Eu recolhia as assinaturas das aulas dos professores. Era milk monitor. Eu sentia-me importante. Ele não me deixava jogar futebol se eu estivesse mal nas aulas. Ele fez-me sentir que eu importava. Deu-me um propósito”
E tu, tiveste algum professor que acreditou em ti e mudou a tua vida?
My teacher Mr Pidgen changed my life. He was my hero and the inspiration behind my new podcast where I chat to ordinary people doing extraordinary things.
Subscribe now and episodes will appear as soon as they drop.
Prepare for emotion, it’s deep. https://t.co/AyK1ZRoqTy
— Ian Wright (@IanWright0) January 22, 2021
GARETH SOUTHGATE E UM GESTO HUMANO
Nem todos os cromos que estão nas principais cadernetas têm de se sentir inalcançáveis. No final do dia, são meros funcionários de uma instituição, têm uma família, os seus dramas pessoais, os seus vícios, os seus demónios e os seus valores no lugar certo (we hope). Porém, este fosso entre adeptos e jogadores parece cavar-se à medida que o tempo passa. Sejam os directores de comunicação, os empresários ou os clubes, a verdade é que é cada vez mais raro conhecer o lado pessoal de um cromo. No final do dia, o máximo que conhecemos, é o seu jogo dentro das quatro linhas e os seus papéis comerciais. Mas há ainda quem nos mostre que a proximidade com os adeptos é fundamental e possível. Southgate é um desses casos e este episódio demonstra bem isso.
Jake Humphrey trabalhava para um programa de televisão infantil e uma das suas funções era fazer entrevistas a jogadores. Ele conta que era hábito esperar pelos jogadores 2/3 horas após hora marcada. Ou até mesmo ver a entrevista cancelada à última da hora ou fazer entrevistas em locais indescritíveis só para que não fosse possível o contacto entre jornalistas e jogadores. Jake reconhece que ser entrevistado para um programa infantil não é o sonho dos jogadores mas houve situações inacreditáveis. Até conhecer Southgate. Jake foi a Middlesbrough entrevistar o treinador principal, Southgate. 10 minutos depois da hora marcada, lá ao longe, Southgate vem a correr em direção à equipa do programa de Jake. Desculpou-se compulsivamente.
Ao chegar, já sabia o nome das pessoas com quem se ia encontrar. Rapidamente, convidou-os a todos para entrar no centro de treinos e conhecer os jogadores. Pouco antes do treino começar, chamou os jogadores para perto da equipa de gravação do Jake e apresentou-os, dizendo que acreditava muito na forma como o desporto a TV pode ter impacto na vida das próximas gerações.
De seguida, perguntou ao Jake quem é que ele queria entrevistar e se queria ficar a assistir ao treino até ao final. No final, despediu-se de toda a equipa do programa e agradeceu. Sem politiquices. Sem pretensionismos. São apenas duas pessoas a ajudar o outro a fazer o melhor possível para si, para a comunidade e para o futebol.