Onde é que anda o Flop: Mota em Alvalade, mas nem de bicicleta marcou
Tens recordações do Sporting Clube de Portugal de 2004/2005? Sabes quem era o treinador da altura? Oferecemos algumas dicas:
– Os “leões” estiveram em 1º da Bwin Liga até à penúltima jornada, deixando escapar o título num cabeceamento de Luisão;
– Liédson, Ricardo Sá Pinto, Hugo Viana, Polga e Ricardo eram alguns dos grandes nomes da equipa;
– Foi o mais longe que os verde-brancos foram numa competição europeia no século XXI;
– Será lembrado pela temporada do “quase-quase”;
Por esta altura, já devem ter chegado a uma conclusão: José Peseiro. Nessa altura, o treinador português teve a oportunidade de fazer algo de espectacular perdendo todas as frentes num par de semanas, para desilusão de todos os adeptos do Universo leonino.
A época teve momentos estupendos com o apuramento para a final do campeonato, as vitórias contra o SL Benfica e FC Porto, os 34 golos de Liédson, o surgimento de João Moutinho, assim como os tais de tristeza.
UM GOLEADOR CEARENSE COM TOQUE PARA TERRAS EXÓTICAS
Para além disso, há que dizer que nessa temporada os reforços no geral não foram maus registando-se a chegada de Pinilla (tinha 20 anos na altura, ninguém esperava que não evoluísse na época seguinte), Douala (jogou bem na 1ª época), Joseph Enakarhire (central nigeriano de 21 anos), Rogério e Hugo Viana (emprestado pelo Newcastle). Todavia, tinha de haver alguém a estragar a “pintura”: João Soares da Mota Neto, ou simplesmente Mota.
Quem era Mota? O que se sabia mais para além de que tinha jogado no Brasil pelo Cruzeiro e Ceará, mas que tinha estado os últimos meses na Coreia do Sul?
O avançado brasileiro fora formado no Ferroviário Atlético Clube do Estado do Ceará, dando o salto para o clube principal desse estado, o Ceará Futebol Clube. Desde cedo se afirmou como um talento, munido de um toque de bola curioso e que era suficiente, na altura, para marcar golos. Note-se que não era extremamente veloz, nem um atleta que lesse o jogo com elevada qualidade, mas tinha dom e capricho na grande-área, em que as suas intervenções arrancavam aplausos da bancada.
Com 18 anos conquistou alguns interessados na Europa pelo seu concurso e o Mallorca, que na altura ainda estava na La Liga. Pelos insulares pouco ou nada jogou na equipa A, actuando quase exclusivamente pela formação secundária entre 1999 e 2001. Após três anos pelo emblema espanhol, Mota acabou por rescindir o contrato e regressar à sua casa-mãe do Ceará.
Foram quase 80 jogos e 40 golos pelo clube, divididos pelo Campeonato Brasileiro B e Estadual do Ceará entre 2001 e 2002. O apogeu de Mota valeu-lhe novamente um crescendo interesse por clubes de maior calibre, sendo que foi o Cruzeiro a apresentar a melhor proposta. Mudança para o clube do estado de Minas Gerais e, como no Ceará, voltou a entrar com golos atrás de golos. No total, Mota terminou o Mineirão e Brasileirão com 16 golos no total, mais 12 em outras competições, sendo uma peça importante na conquista de ambos os campeonatos.
A confirmação do valor e qualidade de Mota era no entanto escassa perante os seus “rivais” no Brasil, quer fosse o seu colega de equipa Deivid, Alex ou Aristizábal, Ilan (Atlético-PR) ou o “fabuloso” Luís Fabiano (São Paulo). Perante a competição complicada, o ponta-de-lança aceitou um novo convite vindo do exterior: Chunnam Dragons da Coreia do Sul.
Neste destino exótico, Mota novamente conquistou títulos individuais como o de melhor marcador da K-League (14 golos), vincando cada vez mais pela capacidade de fazer golos, de fugir aos seus centrais directos, acerto e eficiência nas oportunidades que possuía e de alguma genialidade em “inventar” alguns lances de melhor recorte. Os sete meses de qualidade na Coreia do Sul, convenceram o Sporting Clube de Portugal em avançar para a contratação do brasileiro em Janeiro de 2005.
UMA ÉPOCA QUE ESTAVA EM NOTA ALTA, MAS QUE ACABOU MUITO BAIXA
Até chegar a Alvalade, João Soares da Monta Neto tinha passado a fasquia dos 50 golos, praticamente a chegar aos 70, e nada fazia prever um fracasso total como acabou por ser em Alvalade. José Peseiro precisava de uma opção de recurso a Liédson, pois nem Marius Niculae (sempre fustigado por lesões), Maurici Pinilla ou Ricardo Sá Pinto (ainda em actividade) conseguiram-no fazer.
Mota parecia possuir todos os argumentos para, pelo menos, fazer uns 5/10 golos nos 6 meses que restavam da época… todavia, o brasileiro nem um conseguiu concretizar nas seis oportunidades que teve para tal. Na altura, toda a sua acção parecia desconexa do que a equipa procurava, posicionando-se mal junto da área ou a surgir muito tarde tanto aos cruzamentos como passes em profundidade, muito longe da forma que demonstrou tanto no Ceará, Cruzeiro e Chunnam Dragons.
O fracasso individual de Mota foi duplicado pelo resultado final do colectivo: o tal “quase-quase” de 2005. Mota que até Janeiro de 2005 tinha-se afirmado como um goleador, praticamente, nato em Alvalade e com José Peseiro não foi capaz de fazê-lo. A “sorte” dos leões é que o brasileiro chegou a custo-zero e com um contrato só de 1 ano com o emblema português.
José Peseiro decidiu não apostar mais no reforço de Inverno e abriu-lhe a porta para regressar à Coreia do Sul, algo que Mota aceitou. Não era opção para o técnico leonino (que viria a ser demitido em Outubro de 2005) que não conseguia descortinar como utilizá-lo no seu esquema táctico.
UM REGRESSO AO LOCAL ONDE FOI ESPECIAL
Felizmente, para o flop leonino a carreira correu da melhor forma com o regresso ao continente asiático para o serviço do Seongnam Ilhwa, onde viria a conquistar o título de campeão de 2006 e melhor marcador da Liga dos Campeões da Ásia em 2007. Novamente, Mota provou a sua qualidade à frente da baliza com 79 jogos e 31 golos.
Depois de três anos e meio na Coreia do Sul, voltou ao Brasil para jogar pelo Ceará, que foi só de forma curta para depois regressar… à Coreia do Sul. Nunca mais apostou numa ida para a Europa, recusando-se a partir para uma “aventura” que fosse negativa a nível competitivo.
Entre 2010 e 2011 jogou pelos Pohang Steelers onde foi campeão (50 jogos e 21 golos), 2012 e 2013 no Ceára em que ajudou-os a conquistar o título de campeões do Estudal Cearense, passando depois por divisões inferiores. Actualmente com 37 anos, Mota alinha pelo seu clube de “coração”, o Ferroviário.
Mota fez mais de 100 golos em toda a carreira, levantou diversos títulos tanto no Brasil como na Coreia do Sul, faltando-lhe uma ponta de sorte (e um maior crescimento em termos tácticos ou de intensidade) na sua experiência tanto em Espanha como Portugal.
Não há dúvidas que foi um flop em Alvalade, onde acertou sempre ao lado ou por cima nas ocasiões de golo que dispôs, o que significou no fim um fracasso total quando devia ter sido essencial naquela recta final de época… fez 150 minutos e não fica para a História do Sporting Clube de Portugal de forma alguma.