Euro 2000, aquele Verão quente!

Brás AssunçãoJulho 3, 20239min0

Euro 2000, aquele Verão quente!

Brás AssunçãoJulho 3, 20239min0
O Euro 2000 continua a ser recordado por muitos como um dos melhores europeus de sempre e recordamos o espectáculo que foi

Euro 2000! Fez esta semana 23 anos desta magnífica edição. Para muitos o melhor europeu de sempre. Foi o primeiro torneio a ser organizado por dois países, Bélgica e Países Baixos, uma competição com muita classe, grandes golos e claro, grandes craques em todas as seleções.

Mas para os portugueses que estão hoje na casa dos 30 anos, o Euro 2000 ainda teve um bônus, a “Seleção das Quinas”! Numa altura em que só havia 4 grupos a jogar, estar presente no Euro era pertencer a nata do futebol europeu. Portugal, que já havia jogado o Euro 96 em Inglaterra, repetia agora o feito em 2000.

A nossa qualificação foi sofrida. Não conseguimos  o 1º lugar, mas com impressionantes 23 pontos, acabamos qualificados diretamente como 2º melhor classificado de todos os grupos. Apenas uma derrota nos dez jogos, frente à Roménia no antigo Estádio das Antas. Já no Estádio da Luz, palco do jogo decisivo, Portugal precisava de vencer a Hungria por 3-0, e conseguiu a vitória com tentos de João Vieira Pinto, Rui Costa e Abel Xavier. A geração de ouro estava no seu auge e o seu futebol também.

Fase de grupos

Apesar da ótima seleção, ninguém adivinhava que Portugal seria uma das grandes surpresas do torneio, vencendo o grupo A, com três vitórias em três jogos. Duas delas históricas. A primeira no jogo inaugural contra a Inglaterra de Shearer e cia. O jogo começou de feição para os ingleses, que entraram com tudo e fizeram dois golos nos primeiros minutos. Portugal não se abalou e quando ninguém esperava, empatou o jogo ainda na primeira parte. O primeiro por Figo, com um remate mitológico do meio da “rua”,  e o golo do empate por João Pinto, “de peixinho”, movimento fantástico de cabeça. Já na segunda parte, é consumada a reviravolta por Nuno Gomes. Rui Costa também foi protagonista aqui, com duas assistências. Lembrar do Figo, Rui Costa, João Pinto e Nuno Gomes… Já podemos chorar de nostalgia?

O segundo jogo épico foi contra a Alemanha. Portugal, que já estava qualificado, rodou quase toda a equipa principal, exceção feita para os centrais Jorge Costa e Fernando Couto. Os germânicos não estavam a fazer uma grande prestação neste Euro e tinham que vencer para poder revalidar o título de campeões europeus, conquistado em 1996. Sérgio Conceição foi o herói da noite, ao apontar um hat-trick perfeito, pé direito, pé esquerdo e cabeça. A outra presa foi a Roménia, que deu que fazer, porém nos minutos finais, Costinha selou a vitória.

A equipa das quinas venceu todos os jogos, numa fase de grupos fantástica, com 7 golos marcados e apenas 2 sofridos, deixando as favoritas Inglaterra e Alemanha de fora.

O grupo B foi ganho pela Itália, orientada pelo lendário Dino Zoff e tinha ao seu dispor jogadores como Del Piero, Totti, Nesta, Cannavaro e Maldini. Já a Turquia, bebia muito da fase do Galatasaray de Terim, uma vez que grande parte desta seleção era composta por jogadores desta equipa, e com o seu estilo aguerrido, passou para os quartos-de-final.

No Grupo C a favorita a passar à próxima fase era a Espanha, a “La Roja”. Mas como era habitual, quando chegavam às fases finais acabavam por perder o norte, e desta vez não foi diferente. No jogo de estreia perderam contra a Noruega por 1-0. No jogo entre jugoslavos e eslovenos foi um verdadeiro vendaval de golos, 3-3 foi o resultado final. A Jugoslávia dava neste Euro o seu último suspiro como seleção. Talvez por isso vimos o pior e o melhor dela nesta prova. Mas é factual, golo esta seleção tinha, e isso lhe valeu.

E por último, no grupo D, os Países Baixos foram “mecânicos”. Semifinalistas do último mundial e com a responsabilidade (ou pressão) de jogar em casa, não tremeram e ganharam todos os jogos. Todas as seleções já haviam sido campeãs europeias. A França era a atual campeã mundial e campeã europeia em 1984. A Dinamarca em 1992, que ainda tinha Peter Schmeichel na baliza. E para finalizar, a R. Checa dos talentosos Tomas Rosicky, Pavel Nedved e Karel Poborsky, campeã em 1976. Apesar de todas as seleções contarem com enormes talentos, a união e o equilíbrio tático foram essenciais, tanto para os gauleses como para os neerlandeses. No jogo que apenas seria para cumprir calendário, os Países Baixos quiseram mostrar a sua força ao ganhar à atual campeã mundial em título por 3-2, num jogo frenético.

Quartos-de-final

É aqui que começa a afunilar o talento e a sorte de cada equipa. Portugal e Itália venceram com relativa facilidade a Turquia e Roménia. No jogo grande dos quartos, a França soube tourear uma Espanha com muita “fúria”, mas muito ingênua. Como um predador, esperava pelo momento certo para aplicar o golpe fatal, vencendo por 2-1.

 Já no último jogo houve uma goleada das antigas. A Jugoslávia perdeu por 6-1, numa partida em que Kluivert fez quatro golos. Como já referido anteriormente, o último suspiro desta seleção. Devido a movimentos políticos, o país iria se desmembrar para virar Sérvia, Montenegro, Kosovo e Macedônia. Já que a Croácia e Eslovênia declararam independência em 1991.

Meias-Finais

Ora, os semifinalistas foram os que melhor futebol praticaram ao longo da edição. Uns mais, outros menos, mas era inegável. O talento supremo do ano 2000 estava aqui presente.

Lembram-se de como ficou o jogo dos franceses contra os espanhóis? Pois é, aqui o resultado foi o mesmo. Portugal até se adiantou no marcador por Nuno Gomes, mas a França era superior tecnicamente e mentalmente. Henry empatou no início da segunda parte, e Zidane acabou por dar a volta com um pênalti polêmico (polêmico só para os portugueses), graças a Abel Xavier, por mão na bola, deixando a prestação Portuguesa por aqui. Portugal era bom, diria a melhor geração que tivemos (controverso, eu sei), mas esta França era melhor. Ponto!

No dia seguinte ao desastre Português, os neerlandeses também saíram a chorar, desta vez por azar ou incompetência própria, deixo a decisão ao vosso critério. Isto porque a Laranja Mecânica falhou dois pênaltis, ainda no decorrer dos 90 minutos. E quando assim é, o estado de espírito fica como para o desempate por grandes penalidades?!  Óbvio que a Itália seguiu para a final.

Final

Foi a melhor das Finais? Não!

Houve catenaccio? Um pouco!

Houve mais uma vez inteligência por parte dos Gauleses? Com Certeza!

Houve arrogância dos Italianos? Também…

A Itália marcou primeiro por Delvecchio no início da segunda parte. E a partir daí, já sabem, catenaccio em cima dos franceses. Só que desta vez, com uma dose de arrogância à mistura que os franceses não gostaram muito, como contaram mais tarde Lizarazu e Barthez. Ao ver que o banco italiano já estava comemorando o título, os gauleses foram para cima com sangue nos olhos e a quatro minutos dos descontos, Wiltord marcou o golo do empate. A arrogância virou medo e aí, aconteceu história.

No prolongamento, Trezeguet praticamente sozinho finaliza num remate espetacular, depois de uma jogada de insistência do luso-francês, Robert Pires. De uma forma caótica, França sagra-se campeã europeia, dois anos depois de ter sido campeã mundial.

Para muitos, o melhor europeu de sempre. Para mim, um refúgio!


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