A estreia na Championship – Francisco “Mini” Vieira ep. III
O episódio III da vida de profissional de Francisco “Mini” Vieira em Inglaterra… do jogo contra os gigantes do Newcastle até à estreia no Championship| The 3nd episode of Francisco “Mini” Vieira and his profissional life in the Rotherdam Titans… from playing against the Newcastle Falcons to his debut in the Championship!
“Nervos à flor da pele, o libertar da adrenalina e o coração a acelerar cada vez mais e mais.. É aí que sabes que tudo está prestes a começar e agora não há volta a dar..felizmente!”
Primeiro jogo da pré-época contra os Sheffield Abbeydale, uma equipa da 4a divisão e bem pertinho de casa. Sair do balneário e ter tudo pronto e estipulado para o aquecimento, adeptos a chegar, rotinas de aquecimento previamente treinadas e o primeiro cheirinho do sonho de jogar numa equipa profissional. A meio do aquecimento individual, e por breves momentos, permiti-me parar para apreciar o momento, recordar de onde vim e perceber onde estou, esbocei um pequeno sorriso, mas rapidamente me lembrei que ainda há muito mais para caminhar e “voltei ao trabalho”.
Este primeiro jogo foi dividido em 3 partes, 1a parte de 20 minutos, 2a de 40 e para acabar uma última de 20. Joguei os primeiros e os últimos 20 num jogo em que acabamos sem sofrer qualquer ensaio e onde marcámos 61 pontos, mas o mais incrível foi perceber que das 500/600 pessoas que marcaram presença, a grande maioria era adepta dos Titans!
O fim de semana seguinte a história foi diferente, viajámos até Newcastle para defrontar os Newcastle Falcons, equipa da Premiership e logo à chegada as diferenças saltam à vista. O Kingston Park, a quantidade de Staff que caminha pelos corredores e obviamente os craques que vemos na televisão como o Toby Flood, Josh Matavesi, Sonatane Takulua, Maxime Mermoz ou até mesmo o Diogo Hasse Ferreira ! (risos). Um pequeno cumprimento durante o Aquecimento e no fim do jogo, na famosa 3a parte, foi bom falar um bocadinho de português para variar.
Relativamente ao jogo, como seria de esperar de uma equipa da 1a divisão, o ritmo foi outro, especialmente na velocidade que impunham no jogo ao largo. Começei no banco e entrei ao intervalo e, se sempre me senti orgulhoso da minha defesa, este foi claramente um jogo para esquecer neste aspecto, deixei-me ser apanhado algumas vezes em contra pé, mas a semana seguinte tratou disso, e depois de cada treino, com a ajuda do Jamie, acabei todos os treinos com 10/15 minutos de exercícios de defesa individual.
O nosso último jogo de pré-época foi contra o Coventry, equipa da 3a divisão mas com jogadores como Sam Tuitupou, antigo All-Black, e Luke Narraway, antigo internacional Inglês, era uma equipa com o objectivo claro de subir à nossa divisão, e por isso, um excelente teste. Tive a oportunidade de usar a camisola 9 neste jogo e, fiel à política de todos terem o mesmo tempo de jogo na pré-época fui substituído ao intervalo. Conseguimos um boa e importante vitória contra uma boa equipa que jogava em casa. Um momento marcante da 3a parte, foi a simplicidade e humildade de um jogador como o Tuitupou, tive a oportunidade de trocar umas palavras com ele e ninguém diria que estaria a falar com alguém que jogou pelos All-Blacks ou venceu o super 14.
Ultrapassada a minha primeira pré-época num clube profissional, o primeiro jogo do campeonato era em Casa contra o Nottingham. Todos os jogos, a equipa da casa faz um pequeno programa para vender aos adeptos com factos sobre a equipa. Uma das rubricas inseridas no programa é o “Team mates who needs them?” E o objectivo é que o jogador convidado a responder a estas perguntas, brinque com as respostas e “envergonhe” certos colegas de equipa. Devem imaginar o meu espanto quando a primeira pessoa que escolhem para o primeiro programa da época sou eu..
A ideia era entrar no escritório do TJ ( Team Manager) e responder às perguntas directamente, mas o meu desconforto em fazer isto era tanto que tive lhe pedir para levar as perguntas para casa e responder com calma. Ainda não sabia bem com quem podia brincar ou não, e era como se estivesse a atravessar um campo de minas. Tentei equilibrar um pouco de verdade com um pouco de brincadeira e, no dia de jogo, como se já não fosse suficiente a ansiedade pelo meu primeiro jogo em casa, ainda tinha mais isto na cabeça.
Felizmente todos reagiram de forma positiva e gostaram bastante, especialmente aqueles que não mencionei! Quanto ao jogo em si, começámos bem mas pequenos erros nas alturas erradas acabaram por favorecer uma experiente equipa como o Nottingham que aproveitou os nossos erros da melhor maneira possível, e quanto a nós como equipa, muitos pormenores interessantes mas ainda precisamos de nos conhecer melhor e de nos habituarmos uns aos outros dentro de campo.
O primeiro dia de regresso aos treinos depois dos jogos é sempre dedicado a nós e ao que fizemos no fim de semana. Para diminuir o número de pessoas no ginásio, enquanto os 3/4s fazem uma revisão do jogo, os avançados estão no ginásio e a meio da manhã trocamos. Depois do segundo jogo e outra derrota, estava focado em saber o máximo possível sobre a próxima equipa.
Inexperiência e desatenção minha, achei que os 3/4s só tinham ginásio as 11 da manhã, então acordei bastante mais cedo e fiquei, em casa, a analisar o Hartpury College, até que, por acaso, um dos 3/4s ficou preso no trânsito e mandou uma mensagem para o grupo de WhatsApp a avisar que poderia chegar atrasado. Estranhei a preocupação e fui rever o horário, ao que reparo que estava marcada reunião às 09:30 e eram 09:12.
Eu moro a 2 km e pouco do clube e a sair de casa às 09:18, poucas eram as chances de chegar a horas. Num percurso que normalmente faço em meia hora, não podia chegar atrasado caso contrário era multado e as multas não são de todo agradáveis, para além de que pessoalmente odeio chegar atrasado ao que seja.
Saí de casa a correr, e não parei até chegar, mas para isso tive de ignorar o meu próprio pensamento, que numa última subida antes de chegar ao clube e, com 3 minutos para as 9:30, me dizia constante que não ia chegar a tempo e que não valia a pena o esforço e para parar de correr, felizmente, não era a minha primeira vez que enfrentava este tipo de pensamentos (que são uma constante nos treinos de pré-época) e por isso só parei mesmo à porta da sala de reuniões ainda com 1 minuto de sobra, onde entrei a tentar esconder e controlar a respiração.
Um outro episódio que lembro são os 10 minutos que tive em campo frente ao Hartpury College. Foram os 10 minutos mais intensos que alguma vez participei (sem contar com os Sevens!). Era uma oportunidade que me estavam a dar e estava determinado em aproveitá-la ao máximo. Entrei com a nossa equipa a dar o Pontapé de Saída, recuperámos a bola e a partir daí tentei imprimir o máximo de velocidade ao jogo, sem parar, correr para um ruck enquanto tomo uma decisão, tirar a bola e pensar já na próxima decisão e assim sucessivamente. Para esquerda, para a direita, a avançar no terreno, a recuar, passes curtos, passes longos, quebras de linha e inversões.
O resultado foram 4 minutos e meio de jogo sem paragens onde fiz 26 passes e 1 quebra de linha. Pode não ter tido nenhuma influência no marcador a nosso favor mas sem dúvida que estabeleci uma referência pessoal para onde quero estar. Este é o ritmo a que quero jogar.
Algo que tenho gostado bastante é a abertura que existe no campeonato, a comunicação entre os clubes e os treinadores e sem dúvida as 3as partes no fim de todos os jogos, e obviamente, os nossos adeptos, sempre positivos e prontos a apoiar, joguemos em casa ou fora, o entusiasmo não muda, mas particularmente em casa, adoro sentir a força que nos dão quando nos encaminhamos para o balneário depois do Aquecimento.
Estamos a melhorar semana após semana, e apesar de ainda não termos qualquer vitória, não falta muito! É só uma questão de afinar pequenas coisas que acabam por fazer a diferença e as vitórias virão! Individualmente, tenho sido presença assídua na equipa já tendo acumulado alguns minutos no Campeonato, o único problema é que o facto de serem só alguns minutos implica treinos extra durante a semana para que consiga ter o mesmo ritmo daqueles que jogam mais do que alguns minutos, e quando a equipa acaba o treino, lá vou eu para mais uns minutos extra de corrida e de ignorar os meus pensamentos, há sempre mais alguma coisa que podemos fazer.
ENGLISH VERSION
“Anxiety building, adrenaline rushing and the heart pounding faster and stronger..That’s when you know it’s all about to start, and fortunately there’s no escaping it!”
First Game of the pre-season against Sheffield Abbeydale, a close by team that plays in the Nat2 North League. Coming out of the changing rooms with everything on the pitch ready for us, the warm-up routines all previously planned, fans arriving and my first taste of a professional environment at club level. Mid through the individual warm-up, I allowed myself a brief moment to remember where I came from and where I am now which led to a little smile, but quickly reminded myself that there is so much more to do and immediately got back to my “Game face”. T his first game was split into 3 sections where 2 20 minutes periods sandwiched a 40 minute half.
I played the 2 20 minutes periods in a game, we end up scoring 61 points without conceding any, but the most remarkable was realizing that out of the 500/600 fans, most of them where ours! The next weekend, it was all a different story when we played against the Newcastle Falcons at Kingston Park and immediately you could sense the difference.
The amount of Staff wandering around and the TV Stars like Toby Flood, Josh Matavesi, Sonatane Takulua, Maxime Mermoz or even Diogo Hasse Ferreira! hehehe. We first greeted during the warm-up and after the match it was good to speak a little bit of Portuguese for a change.
Concerning the game, as you would expect from a Premiership side, the tempo was high, specially out wide where they really made a difference. I started on the bench and got my chance at half-time and, well, if I’ve always been proud of my Defense skills, this was certainly a game to forget, I got caught to many times on my inside shoulder but the next week took care of it as I stayed behind after every single practice with Cookie to do 10/15 minutes of defense drills.
Our last pre-season game was in Coventry against a side from Nat1 who had the clear objective of promotion signing the likes of Sam Tuitupou, former All-Black and Luke Narraway, former England International. A very good test where I had the opportunity to wear the no.9 jersey, but was subbed at half-time with the coach sticking to his policy of everyone having the same amount of minutes in pre-season.
We managed a good win against a good side playing in front of their own fans. A defining moment happened after the game, where I had the chance to exchange a few words with Tuitupou and no one could say I was talking to a former all-black and winner of the Super 14, his simplicity and modesty were amazing. Finished with my first pre-season in a Professional club, our Championship opener was at home against Nottingham.
Every home game the team makes a program of the day for the supporters and one of the pages is dedicated to “Team mates, Who needs them?” where the main purpose is to have banter with your team mates. As you can imagine I was quite surprised when I realized I have been picked for the first issue of the season. I had to step into TJ’s office and answer the questions in a informal way, but my discomfort was such that I had to ask TJ if I could take the questions home with me and bring the answers the next day. I wasn’t yet sure with whom I could have a banter with so for me it was like walking on a minefield.
I tried to balance the truth with banter and on game day (as if the pre game anxiety wasn’t enough I also had this to deal with). Luckily they all took it as very friendly banter and enjoyed it a lot especially the ones I left out! About the game, we started well but a couple of mistakes favored the more experienced side of Nottingham who knew how to take advantage of it in the best way possible, however, despite the loss, we had a lot of positives but we still needed to gel a lot more and get used to each other on the field. The first day back in training after a game is always dedicated to us and to what we have done on the previous match.
To ease off the number of people at the gym, we split in backs and forwards and when backs start with review the forwards are in the gym and midway through the morning we swap. After our second game and another loss, I was determined to know as much as I could of our next opponent.
Due to my inexperience and inattention I thought the backs only had gym at 11 am so I woke up at 7 am so that I could preview Hartpury on my own, until, out of the blue Caolon texts our WhatsApp group saying he was stuck in traffic and there was the chance he might be late. I found it very strange his message so early since it was only 9:12 am so I went and double checked our weekly schedule to find that there was a meeting at 9:30!!
My house is about 1,5 miles from the club and as I left the house the clock said 9:18 am so, as you can imagine there were very little chance of me arriving on time, and despite the fact that there are fines for late arrivals I hate being late for anything. I flew out of the house and I didn’t stop until I was outside the meeting room.
For me to able to do this and still make it on time I had to ignore my own thoughts that, when there was a final hill before the club and 3 minutes left on the clock, they were telling me it was not worth the effort and that I would never make it on time.
Fortunately this was not my first time having to deal with these kind of thoughts ( they really are part of pre-season training) and so I soldiered on until I was on the door of the meeting room with 1 minute to spare and trying to control and hide my panting. Another episode I can remember is the 10 minutes I played against Hartpury. It where the 10 most intense minutes I had ever been involved with (apart from Sevens).
I was being given my chance and I was determined to grab it in any way. I got on on a Kick-off where we retrieved the ball and from this moment on I tried up the tempo as much as I could.
No Stop. Run into a ruck while I make a decision, take the ball out and immediately start accessing my next move. And so on. Left, right, going forward, backwards, short passes, long passes, line breaks and sudden changes of direction. This resulted in 4 and half minutes of ball in play without any stops where I made 26 passes and 1 linebreak. It may have not influenced the score line but without doubt I established a benchmark for what has to be my impact on the game and the way I want to play. Something I’ve been enjoying is the openness you get over here between clubs and coaches and definitely the post-match meal which is so characteristic of our Game, and obviously our fans!
Always so positive and supportive, always ready to back you up in either a home or an away fixture but I got to say, I absolutely love the energy you get from the Shed when go back to the changing rooms after the warm up. We’re improving every week and although we haven’t a W yet, it won’t be long until it comes our way. It’s just a matter of tuning some small bits and gel a bit more with each other and that much wanted W (and plenty others!) will be ours. Individually I’ve managed to be on the Squad for every game, having already accumulated a couple of minutes in the Champ, the thing is, with it being just a couple, that means doing my extras during the week so that I am on the same rhythm as the ones who are playing more than just a couple of minutes.
That means that when the team finishes a session, there I go again for another extra minutes of running and ignoring my own thoughts. There is always something we can do to ensure victory.