Diego Maradona, relembrado por quem (não) o viu jogar

Fair PlayNovembro 25, 20206min0

Diego Maradona, relembrado por quem (não) o viu jogar

Fair PlayNovembro 25, 20206min0
O astro argentino deixou o Mundo, mas o Fair Play faz uma homenagem na voz de alguns dos seus autores. Diego Maradona relembrado no Fair Play

Maradona, o maior de todos (José Nuno Queirós)

Falar de Maradona é falar de futebol no seu estado mais puro. Ninguém tratava a bola como tu, ninguém teve sequer parte da magia com que nos brindaste, ninguém conseguiu ser tão polemico e ainda assim tão amado.

Como é óbvio não tive o prazer de te ver ao vivo e em direto. Uma pena enorme mas que fica ligeiramente colmatada com a presença eterna da tua obra pela internet.

Vi e revi quase todos os teus vídeos nomeadamente o mundial de 86. Fazias o que ninguém fazia… Era para marcar canto direto? Então eu Marco! Era para marcar livres? Eu Marco! Era para assistir de costas? Então eu assisto! Era para fintar uma seleção inglesa inteira? Então eu finto!

Teve os seus problemas mas nem isso tirou a magia do campo de futebol!

Vi assistências de bicicleta, vi golos de todos os feitios, vi dribles sobre um ou 6 jogadores, vi fintar uma equipa inteira, vi carregar um clube ao topo do futebol italiano (nunca mais lá chegou sem ti mágico) vi a Argentina limpar e encantar (nunca mais limpou nem ganhou sem ti mago) e tenho também o orgulho de te ter visto com a listada verde e branca ainda que de forma apenas decorativa!

Adeus ao verdadeiro melhor de sempre! Descansa em paz no Olimpo do futebol!

Maradona envergando a camisola do Sporting CP (Foto: Lusa)

O homem do povo napolitano… (por Helena Amorim)

Morreu com 60 anos, Diego Armando Maradona, El Pibe.  Sucumbiu a um ataque cardíaco fulminante. Um homem que nasceu e cresceu numa favela da periferia de Buenos Aires, passou pelo Boca Júniores, Barcelona (82-84) até chegar a Napóles, onde correspondeu o seu ponto mais alto mas também o mais baixo (foi essencial na conquista do scudetto em 87 e deixou-se emaranhar pela Camorra Napolitana, que alegadamente frequentava as suas festas.

Depois de Péle e Cruyff e antes de Messi e Ronaldo , foi a grande figura mundial, pelo seu toque fácil na bola, os treinos com uma bola de trapos e infindáveis toques, os golos e jogadas de génio pela Argentina em 86 (além da mão frente à Inglaterra!), as incontáveis fintas frente aos adversários, o virtuosismo inigualável.

É um Deus de uma mão só, aquele que nos deixa, mas as mãos que o amparam até ao Olimpo são claramente muitas e são genuinamente Napolitanas!

Diego Mardona… a paixão num pé tamanho 39 (por Pedro Pereira)

Hoje faz anos o maior de sempre (conta a minha humilde opinião). Hoje a bola salta e rebola de alegria, embriagada pelo prazer de ter sido tocada com tanto carinho por aquele mago baixinho que calçava o 39.

Os relvados que tiverem o prazer de te serem pisados choram hoje de saudade; os relvados que nunca te serviram como palco de espectáculo, choram de tristeza. A essência do que é o futebol está nele: se virem como ele transporta a bola naquele golo a Inglaterra, reparem: à medida que transporta a bola e a empurra em direcção à baliza contrária, a bola, sentindo-se confortada por cada toque, faz questão de desacelerar, na esperança de voltar a ser tocada pelos pés de veludo.

Conta-se que em Nápoles, a cada jogo no San Paolo, os adeptos lamentavam-se nos cemitérios, junto dos seus entes queridos que outrora foram apaixonados pelo clube da cidade, dizendo: “não sabem o que perdem”. O seu pé esquerdo foi abençoado com o dom de dominar a bola, aquele ser que os intelectuais dizem ser apenas um objecto sem vida, destinado a controlar massas e classes. Enganam-se. Está cheia de sonhos, de vontades, de sorrisos ou de choros.

Está cheia de catarse para aqueles que a vida decidiu colocar 30 mil adversários ao mesmo tempo. Maradona foi um deles. Driblou-os a todos e chegou ao topo. Errou, pecou, fumou, bebeu, cheirou. “pero…. la pelota no se mancha”, diz ele no coração da Bombonera de mãos abraçadas ao seu próprio corpo, como que abraçando aquela consciência colectiva que diante dele lhe prestava homenagem. E arrepio-me ao lembrar-me desse momento. Assim como me arrepio a lembrar-me do aquecimento alucinante ao som de Life is Life em Munique, do campeonato italiano pelo Nápoles, do Campeonato do Mundo de 86, do regresso a casa no Boca ou de ele dar toques no chão, colocar-se em pé e colocar a bola em cima da cabeça com a mesma facilidade de quem se veste de manhã.

Foi isso que Maradona me passou. Arrepiar quando falo do jogo. Sensações. Sentir o jogo de forma apaixonada. Obrigado por isso.

 Aquele ano quente de 86 (por João Camacho)

Capricho dos Deuses, porque estamos a falar de deuses, no dia em que faz 15 anos que George Best nos deixou, outro grande jogador, para mim o melhor jogador de futebol de todos os tempos, parte deixando uma enorme saudade e tristeza.

Tinha 13 anos, quase 14, porque nestas idades isto é muito relevante, e concluída a coleção de cromos do Mundial 86 da panini, recordo-me de ter tornado argentino, depois da eliminação precoce da seleção Portuguesa, que apesar de um inico promissor com uma vitória frente à Inglaterra, acabou a sua participação com uma desprestigiante derrota frente à seleção Marroquina. A magia daquele pequeno numero 10, que jogo após jogo, até ao titulo, carregou uma equipa e um país às costas, era apaixonante, contagiante, épica!

Maradona é tudo aquilo que idealizamos num jogador de futebol, rebelde, bondoso, líder, irreverente, decisivo e talentoso, muito talentoso!

Era tudo isto e muito mais! Maradona não morreu hoje, dia 25 de Novembro de 2020, ele começou a morrer no dia em que deixou os estádios e deixou de ouvir as palmas e os gritos do publico que o idolatrava e venerava! AD10S!

“Quero voltar a ser jogador de futebol” (por João Freitas)

Hoje deixa-nos o astro do povo, que jogava pelo o povo e para o povo, parafraseando a máxima de Abraham Lincoln. Don Diego, nascido no seio da pobreza e coroado rei por todas as bancadas dos estádios por onde passou levou-nos a sonhar não só com um futebol melhor, mas também com um mundo mais justo e solidário. Representou a esperança de um povo num dos momentos mais sombrios da história do seu País, onde honrou todos os jovens que como ele foram arrastados para uma guerra e que sofriam as mais infames torturas de um regime militar assassino.

Em homenagem a todos esses jovens ofereceu a todos nós o “Golo do Século”. O nosso Deus mais humano deixa-nos, com todas as suas idiossincrasias que o tornam divino e humano como todo nós.

“Se morrer, quero voltar a nascer e quero ser jogador de futebol. E quero voltar a ser Diego Armando Maradona. Sou um jogador que dei alegria para as pessoas e isso me basta e sobra.”


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