Crónicas do Sr. Ribeiro: É Carnaval ninguém leva a mal!

Fair PlayFevereiro 14, 20184min0

Crónicas do Sr. Ribeiro: É Carnaval ninguém leva a mal!

Fair PlayFevereiro 14, 20184min0
Tudo no rugby tem consequência e o Sr. Ribeiro explora a formação na arbitragem, o apoio dado pelos clubes e o que isso significa para o rugby no futuro

Uma das minhas características preferidas do rugby é que, ao contrário do brocardo da quadra em que nos encontramos, todas as acções têm consequências. Boas ou más.

Marcamos ensaio, podemos ainda chutar aos postes. Fazemos uma falta, pode chutar o adversário, se falamos, recuamos dez metros e se cometemos a “falta inteligente” dos outros desportos, recebemos um cartão amarelo que vem com dez minutos sentados a ver o jogo.

Também aprendemos, por via do rugby internacional, que não há jogos de treino, nem de preparação, há jogos de teste.

Esta situação é fantástica, mas onde se colocam os futuros árbitros?

Se tudo tem consequência, onde podemos treinar a arbitragem?

Começamos por arbitrar os escalões mais baixos, não porque sejam jogos sem consequência, que não são, de todo. São jogos tão sérios e importantes como qualquer jogo dos séniores. E se não forem encarados como tal, estamos a deitar fora o trabalho de dias e dias dos treinadores, e dedicação e compromisso dos jogadores com esse trabalho, o que é inadmissível.

Além disso, estes jogos, são menos esclarecidos que a primeira divisão sénior, sendo, tecnicamente bastante mais difíceis de arbitrar.

Por estes motivos, concordo apenas que estes jogos sejam indicados no início porque as nossas acções, quando más, não têm tanta consequência no desfecho do jogo.

Mas tem de haver um compromisso por parte das equipas.

Nós árbitros, tal como os jogadores desses escalões, estamos em formação. Eu pelo menos estou.

No nosso país não temos possibilidade de ter todos os nossos jogos filmados e podermos preparar um relatório de autoavaliação. Por outro lado, raramente temos observador.

Deste modo, não sabemos o que fazemos bem e mal.

Ter, do lado das equipas, uma avaliação, é, para mim, fundamental. Erros concretos apontados, situações concretas questionadas.

Algo que me obrigue a parar e pensar nas decisões que tomei, nas que não tomei, no posicionamento que tinha e na comunicação que utilizei.

Eu tenho vivido da caridade de alguns treinadores, de excepção, como o Luís Supico da Agronomia, ou o Miguel Vilaça, dos Jaguares, com quem me tenho cruzado mais vezes, e com quem tenho mais confiança e me apontam o que querem ver melhorado.

Creio que é dever das equipas olhar para a arbitragem como algo que faz parte do desporto e também da sua responsabilidade.

E respondendo à pergunta que se pode estar a formar, sim, vocês também são responsáveis pela nossa formação. É que só bons árbitros permitem bons jogos. Ou assumimos que queremos que o rugby em geral melhore, ou então, estamos aqui só preocupados com a nossa equipa, já nem digo clube, porque o escalão de cima pode querer “roubar-vos” jogadores!!!

Entretanto, ontem tive a minha primeira formação como árbitro.

Aproveitando o estágio da selecção regional de sub 16, fomos chamados sete novos árbitros para, numa parte teórica, nos dedicarmos ao jogo no chão e, posteriormente, arbitrarmos, apoiados por árbitros internacionais, os vários jogos de observação feitos no estágio.

Foi fantástico ver tanta gente, de tantos clubes, envolvida nos trabalhos desta selecção. Mas, mais fantástico ainda, foi poder contar com o Diogo Miranda e o Sebastião Villax na formação de árbitros.

De facto, ao ver a atitude de jogadores de topo, que actuam em vez de se limitarem a falar. Jogadores internacionais, ainda no activo, que não se contentam em mandar umas bocas, mas metem as mãos na massa, tentando ser eles a mudança que querem no desporto, percebo porque fui apenas um jogador mediano.

O exemplo dado por estes dois craques é tremendo. Os jogadores em estágio viram o Villax jogar no Sábado pela seleção principal, e tiveram-no como árbitro na terça-feira.

Acho que é este o caminho. Muito mais importante do que apenas ganharmos no próximo fim-de-semana é percebermos que fazemos todos parte de um desporto que precisa da ajuda de todos para crescer e que só cresce se todos crescermos.


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