Brasil campeão…moral!

Virgílio NetoNovembro 28, 20184min0

Brasil campeão…moral!

Virgílio NetoNovembro 28, 20184min0
A selecção Canarinha terminou o Mundial de futebol de 1978, na Argentina, de forma invicta. Ao contrário, por exemplo, dos finalistas da competição: a equipa anfitriã e a Holanda. Um certame polémico, pelo menos para os brasileiros.

A Argentina foi sede, em 1978, do décimo primeiro mundial de futebol. Como quase todos os países da América do Sul, os argentinos eram governados por um regime militar após golpe de Estado em 1976. O Presidente era o General Videla, que garantiu a realização da competição em meio a acusações de violação dos Direitos Humanos e desaparecimento de opositores, o que por pouco não resultou na desistência da França. Entretanto, o astro neerlandês, Cruijff, em protesto contra o governo argentino, não se juntou à delegação dos Países Baixos.

A perseguição política na Argentina era bastante intensa naqueles tempos. A economia não ia bem e a insatisfação era grande. Em um trabalho de Relações Públicas, com base em símbolos pátrios, nacionalismo e discurso de identidade nacional, a “Casa Rosada” fez do torneio de futebol instrumento de propaganda para unir um país. 

O Brasil fez a estreia contra a Suécia. E a polémica começou no primeiro jogo, que com o tempo regulamentar da segunda parte esgotado, os brasileiros tinham um tiro de canto a seu favor, que logo após ser cobrado, cabeceamento e golo…anulado! O árbitro encerrara a partida durante a trajectória da bola. Reclamações em vão por parte dos canarinhos. Após outro empate, contra a Espanha, e uma vitória sobre a Áustria, o Brasil avançou de fase.

As equipas que passaram da primeira etapa do torneio eram reunidas em dois grupos. Os dois primeiros de cada grupo fazem a final do Mundial e, os segundos colocados, a decisão de terceiro e quarto. No grupo do Brasil, os anfitriões, a Argentina, Polónia e o Peru. Primeiro jogo e vitória brasileira por 3 a 0 sobre o Peru. Na segunda partida, conhecida como “A Batalha de Rosário”, clássico sul-americano contra os argentinos e empate em nenhuma bola. Depois de dois jogos de cada selecção, chegava-se à terceira jornada e à grande polémica. 

Brasil x Polónia e Argentina x Peru. Empatados com o mesmo número de pontos, argentinos e brasileiros disputavam uma vaga na grande final. A fim de evitar manipulação de resultados, como actualmente acontece com a última jornada da fase de grupos nos mundiais de futebol, eram os dois jogos para começarem à mesma hora. Por motivos escusos, argentinos e peruvianos disputaram a partida na parte da noite, enquanto que brasileiros e polacos jogaram à tarde. Ou seja: os alvi-celestes entraram em campo a saberem de quanto deveriam ganhar, porque a Canarinha jogara horas antes e ganhara dos polacos por 3 a 1.

A Argentina venceu por 6 a 0. Um marcador surpreendente e que levantou inúmeras suspeitas de manipulação de resultados, contribuição financeira a alguns futebolistas do Peru, acordos governamentais, e a revelação pública da visita do Presidente argentino ao balneário peruviano momentos antes do pontapé de saída. No mínimo, intimidador. 

O preço político da ditadura argentina em não ter a sua selecção de futebol campeã era muito grande. 

Com tudo isso, os argentinos passaram para a grande final contra os Países Baixos. Vitória por 3 a 1 sobre os europeus e a conquista do primeiro mundial. O Brasil conseguiu o terceiro lugar ao superar os italianos por 2 a 1 e terminava a competição sem ter sido derrotado. Cláudio Coutinho, o treinador brasileiro, após o último jogo disse que a equipa Canarinha era a “Campeã Moral”. 

Em tempo: há mais de 40 anos o Brasil questiona esta Copa do Mundo e o resultado de Argentina e Peru.


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