6 clubes que foram ao “inferno” e que regressaram ao mais alto nível pt.2
O cair na segunda divisão é sempre visto como um perigo para a existência de um clube ou mesmo a reformatação total que força um recomeço desde as divisões inferiores… contudo, para estes quatro emblemas esse “problema” abriu caminho para uma era mais estável e até recheada com títulos e glórias. Escolhemos agora estes três clubes que superaram a descida divisão ou o reinício quase total para voltarem à divisão principal do seu país num par de épocas!
SOUTHAMPTON FC
O Southampton FC merecia ter sido alvo de um documentário-série do género do “Sunderland Till’ I die”, porque a sua história nos últimos 15 anos foi recheada de emoção, drama, problemas e sucesso com um português metido pelo meio. Depois de 27 anos consecutivos na Premier League, com treinadores como Glenn Hoddle ou Harry Redknapp a terem passado por lá, desceu até à Championship em Maio de 2005 adensando-se uma crise económica e desportiva num dos clubes mais reconhecidos do futebol inglês, verificando-se uma troca intensa não só a nível de técnicos principais mas, e especialmente, na direcção do clube que foi tentando evitar uma falência ou até bancarrota de um projecto sem rumo e sem lugar no futebol moderno. No meio deste desastre profundo, e depois de dois anos em que a subida não aconteceu, os Saints foram forçados a transferir em 2007 duas das suas estrelas mais jovens, Gareth Bale (18 anos na altura) e Kenwyne Jones (20 anos) de forma a estancar os problemas financeiros que continuavam a aumentar de época para época.
Contudo, e mesmo com as constantes trocas na administração, o Southampton não evitou nem a descida de divisão no final da época de 2009 nem a falência técnica, forçando uma série de directivas desde logo: rescisão de contrato com vários jogadores; pedido ao staff técnico e administrativo para aceitarem uma renovação de contrato por valores inferiores; redefinição de estratégia junto da formação; observação de campeonatos secundários europeus como fonte de recrutamento.
Com um novo investidor e presidente, Markus Liebherr, chegou também um dos elementos que iria ajudar a “refundar” o clube e que mais saudades hoje em dia deixa por Southampton, Nicola Cortese. O italiano chegou ao emblema do sul de Inglaterra com a ideia de não só reconstruir o plantel, mas igualmente garantir uma saúde financeira forte e sólida que fosse inteligente na forma como operava no e com o mercado – olhando para jogadores mais “baratos” mas de qualidade – e no envolvimento da formação como solução às lacunas que pudessem surgir no plantel sénior. Alan Pardew assumiu o lugar de treinador e o Southampton mesmo começando a época com 10 pontos negativos (por se ter declarado insolvente no final da época anterior) conseguiu terminar em 7º lugar e conquistar o Football League Trophy (uma taça que só é disputada entre clubes das League One, Two e Three).
O mais importante foi também a chegada de vários jogadores que viriam a marcar uma era no Southampton como Rickie Lambert (que em 2014 assinaria pelo Liverpool), José Fonte, Dean Hammond, Lee Barnard, Radhi Jaïdi, David Connoly ou Jason Puncheon, que seriam essenciais para a subida de divisão em Maio de 2011 já sob a liderança de Nigel Adkins, que os guiaria novamente na época seguinte no Championship.
Com um plantel revigorado e um projecto bem estruturado, os Saints conseguiram garantir a subida de divisão logo nessa época de retorno ao Championship e regressariam à Premier League em 2012, oito anos após a primeira descida às divisões inferiores do futebol inglês. De um clube extremamente gastador e que não conseguiu realizar negócios minimamente bons, para um emblema sólido, apetrechado e que fincou as suas “garras” desde então na Premier League, o Southampton procurou se transformar num projecto de qualidade, tendo ultrapassado aqueles anos na League One graças a uma relação simbiótica com jogadores que procuravam ascender a uma carreira mais ambiciosa e de qualidade, como foi o caso de José Fonte.
O momento mais auspicioso do Southampton após anos de luta para retornar à Premier
VITÓRIA SC
Maio de 2008, o FC Porto levanta o título de campeão português, seguido do Sporting CP com o Vitória Sport Clube a fechar o pódio a apenas 2 pontos dos leões, encerrando assim uma época em grande… naquele que foi o seu regresso à Primeira Liga, depois de uma época na Liga de Honra. Para quem não se recorda bem, o emblema vimaranense caiu para este segundo patamar do futebol profissional português em 2006 depois de uma temporada turbulenta que foi no mínimo estranha: participação na Taça UEFA com chegada até à fase-de-grupos, onde jogaria inclusivé com o futuro campeão dessa competição o Sevilha; meia-final da Taça de Portugal. Ou seja, o Vitória SC teria em 2005/2006 uma época concorrida, com diversos jogos e várias competições e… três treinadores diferentes, com Jaime Pacheco, Basílio Marques e Vítor Pontes a terem passado pela cadeira de treinador do clube só nessa época.
A instabilidade vinda da direcção vitoriana não garantiu as melhores funcionalidades a um plantel que não era de todo mediano, já que continha alguns de qualidade como Saganowski, Antchouet, Benachour, Wesley, Flávio Meireles, Neca, Rogério Matias, Geromel ou Nilson, mas a verdade é que da época 2004/2005 (5º lugar) para 2005/2006 houve “só” 25 jogadores novos a chegarem não garantindo desde logo uma estabilidade à estratégia e forma de jogar, revelando demasiados problemas no decorrer da época.
Faltava identidade ao clube vimaranense e no fim de uma temporada problemática, acabariam por descer à 2ª liga na última jornada, sofrendo uma derrota por 1-0 na recepção ao Estrela da Amadora numa das jornadas mais “tristes” para um emblema habituado a estar no maior palco do futebol nacional.
Domingos de Magalhães, presidente do Vitória SC na altura, aguentou com a avalanche de críticas e frustrações do público vimaranense que desde o final dos anos 50 não sabia o que era jogar na segunda divisão, reestruturando o plantel profundamente, com uma nova sequência de saídas – como Neca, Benachour ou Saganowski – e de entradas, contratando jogadores que iriam ser importantes no revivalismo do emblema da cidade de Guimarães não só nessa época mas nas seguintes. Chegariam Rissutt, Sereno (foi emprestado durante uma época em 2006, mas seria integrado no plantel), Desmarets, Ghilas, Nemouthé, Brasilia, Hélder Cabral e Henrique, mais outros 12 reforços, empurrando o clube para a subida de divisão, a par do campeão Leixões.
Em 2007 foi eleito Emílio Macedo da Silva como presidente do Vitória Sport Clube, num momento de viragem total que ficaria ainda mais vincado quando na época de subida conseguiriam a tal proeza de terminar em 3º lugar, demonstrando que a descida até à 2ª liga só beneficiou o clube em termos de reformatação nos objectivos, redefinição de rota e devolução de um orgulho e sentimento de luta que lhes tem valido excelentes prestações na Liga NOS desde então, tendo ficado apenas por três ocasiões em dez abaixo da metade da tabela do campeonato, destacando claro o 3º lugar de 07/08, o 5º de 10/11 e 14/15 e o 4º de 16/17. Relembrar que Manuel Cajuda foi essencial para dar uma segunda vida a um clube que antes daquela descida estava a viver numa montanha-russa classificativa e de plantel demasiado bipolar.
Alguns dos golos da incrível época do 3º lugar
AS MONACO
É considerado um dos clubes mais especiais do futebol francês, profissionalizado a partir dos anos 50 do século XX e com significativas conquistas na sua história, desde os oito títulos de campeões da liga francesa (o último dos quais com Leonardo Jardim ao leme) e as cinco Coupe de France, que ajudaram a solidificar o seu estatuto como um dos candidatos crónicos ao estrelato do futebol francês.
Contudo, e apesar de várias páginas significativamente “perfeitas” os monegascos viveram momentos desesperantes nos últimos 20 anos, em especial aqueles dois anos em que caíram para a Ligue 2, provocadas por constantes más decisões da sua administração que conseguiram contratar e despedir sete treinadores diferentes no espaço de 12 temporadas diferentes, contratar jogadores de qualidade duvidosa como Freddy Adu e em reacções tempestivas que viram presidentes ou directores desportivos a invadir balneários para acusar a equipa de falta de compromisso.
Depois do sucesso atingido durante os 4 anos em que Didier Deschamps liderou o clube, que culminou com a chegada à final da Liga dos Campeões em 2005, o AS Monaco continuou na sua senda de vórtice de problemas financeiros – que já anteriormente quase levaram o clube para a segunda divisão, tendo sido revertida só em tribunal isto no ano de 2003 – e a “trama” adensou-se quando o clube foi forçado a divulgar a extensão das suas dívidas, confirmando o pior… mais de 80M€ em dívidas, salários em atraso (principalmente ao staff) e falhas de pagamento aos investidores.
A situação foi sendo cada vez pior de ano para ano e só em Dezembro de 2011 abriu-se uma nova “era” para os monegascos e deveu-se à chegada de Dmitry Rybolovlev, bilionário russo que procurou desde o primeiro momento rentabilizar este negócio, começando por devolver o clube à Ligue 1 sob a liderança de um novo treinador… Claudio Ranieri. O italiano seria responsável pela primeira fase de reconstrução do plantel sénior, recebendo excelentes jogadores como Radamel Falcao (60M€), James Rodriguez (40M€), Sergio Romero, João Moutinho (25M€), Fabinho, Eric Abidal, Anthony Martial (5M€) e Jérémy Toulalan (5M€), sendo o clube mais gastador no Verão de 2013. Com estes reforços, Ranieri ficou a 9 pontos de fazer a proeza de ser campeão imediatamente no ano a seguir à subida, mas foi visto como um esforço insuficiente para o “dono” do emblema monegasco, não renovando o contrato com o italiano.
Para o seu lugar chegou Leonardo Jardim e, como todos sabem, a segunda fase de reafirmação do AS Monaco atingiu o seu expoente máximo no ano de 2017, quando o AS Monaco levantou o título de campeão da Ligue 1, pondo um fim – momentâneo – ao domínio imperturbável do Paris Saint-Germain, com um futebol rico em ideias, intenso e que lembrava aquela período de Didier Deschamps e o super-Monaco da final da Liga dos Campeões de 2005. Apesar da crise de resultados e financeira nos três últimos anos, o clube monegasco parece estar melhor e mais saudável em comparação com aquele período entre 2007 e 2011, altura em que as contas atingiram números tão problemáticos que a palavra “insolvente” chegou a ser entoada nos corredores do futebol francês.
A subida à Ligue 1 como campeões da Ligue 2