10 momentos do Campeonato da Europa de futebol pt.1
Estamos a poucos meses do Campeonato da Europa de futebol, um dos eventos “vítima” do SARS-CoV-2 em 2020, tendo sofrido um ligeiro adiamento de um ano… mas mais vale tarde do que nunca, e o maior torneio de selecções do Velho Continente vai para o ar neste Verão de 2021. Para aguçar o interesse, escolhemos 10 dos melhores momentos do Europeu que valem a pena recordar!
A parte deste recordas de “tesouros” de antigas edições do torneio de selecções europeu.
DINAMARCA CONTRA TODOS OS IMPROVÁVEIS… É CAMPEÃ!
Estamos em 1992, o Muro de Berlim já tinha caído, a URSS igualmente e a Europa começava a moldar-se para uma nova era da sua história, incluído o futebol, já que a Alemanha iria entrar em campo como a selecção dos dois lados deste país. Lembrar que neste altura só 8 selecções se apuravam para o torneio, sendo uma qualificação dura e de grande sofrimento, levando a que inteiras gerações de países não qualificados não tivessem qualquer hipótese de actuar neste palco… e este parecia ser o cenário para os jogadores dinamarqueses de 1992. Peter Schmeichel, Brian Laudrup, Kim Vilfort ou John Sivabaek (sem esquecer o capitão Lars Olsen) eram jogadores de bom/alto nível que iriam falhar um campeonato da Europa, uma situação comum para tantos outros elencos de jogadores, como italiano, outra selecção que não foi capaz de se apurar para a edição de 92′.
Contudo, para a Dinamarca surgiu um volte-face inesperado positivo que lhes abriu a porta do Campeonato da Europa: a desistência da Jugoslávia. A selecção dos balcãs foi banida do torneio devido ao conflito interno jugoslavo, promovendo a Dinamarca como o 8º apurado para o torneio, isto porque tinham ficado atrás dos jugoslavos no grupo 4 da fase de qualificação para o Europeu. Os dinamarqueses chegavam assim à competição, inseridos no grupo da Suécia, França e Inglaterra, e acabariam por passar às meias-finais graças à vitória conseguida frente à França na última jornada da fase-de-grupos, terminando com 3 pontos (2 pela vitória frente aos gauleses e 1 pelo empate ante a Inglaterra).
Nas meias-finais esperava-os a Holanda, ladeado por jogador como Frank de Boer, Ruud Gullit, Marco Van Basten ou Frank Rijkaard, com o comando da selecção a caber ao genial Rinus Michels… resultado? 2-2, e vitória nos penaltis, com Schmeichel a protagonizar uma estirada (discutível se foi fácil ou não) a um remate de Marco Van Basten. Dinamarca na final pela 1ª vez na sua história, algo improvável ao início do Europeu, mas não impossível. O adversário na final era a unificada Alemanha, que tinha nas suas linhas Matthias Sammer (internacional pela RDA), Thomas Doll, Jürgen Klinsmann ou Andreas Brehme, que tinha ficado também em 2º lugar na fase-de-grupos, atrás da Holanda, e à frente da Escócia e CIS (selecção dos antigos estados que compunham a União Soviética).
Quando se poderia pensar que os alemães sorririam com a taça, acabou por ser a Dinamarca com uma vitória por 2-0 a garantir um título que ninguém alguma vez pensaria ser possível… de não apurados a campeões, de fracasso na qualificação para total glória no fim, esta foi a história da Dinamarca no Campeonato da Europa de 1992.
E KIRÁLY É O MAIS VETERANO DE SEMPRE
Uma entrada mais curta, mas que merece o pleno destaque já que concerne ao veteranos dos veteranos, Gabor Király. O guardião chegou ao nível sénior nos idos de 1993, ao serviço do Haladás (clube onde viria a terminar a carreira) e passou pela Bundesliga, Premier League, 2. Bundesliga e Championship, alinhando pela selecção da Hungria em mais de 108 encontros no decorrer de 26 anos a jogar como profissional. Sem grandes títulos conquistados, Király tinha um sonho… jogar num Europeu ou Mundial ao serviço dos magiares, algo que não acontecia desde 1972 e 1986, respectivamente.
No Europeu de 2016, o primeiro com 24 equipas qualificadas, a Hungria acabou por conquistar o lugar depois de passar ter ganho no playoff (vitória à Noruega num somatória de 3-1), isto depois de ter sido um dos melhores 3ºs da fase-de-grupos. Ou seja, dramatismo, emoção ao quadrado e paixão ao rubro. Gábor Király acabaria por se estrear frente à Áustria e ao fazê-lo atingiu o feito de ser o jogador mais velho de sempre a actuar num Campeonato da Europa, uma marca só ultrapassada pelo facto dos hungaros terem atingido os oitavos-de-final da prova em 2016.
Ficam as calças fato-de-treino, fica aquele sorriso de criança e fica o duelo frente a Cristiano Ronaldo… que foi ganho pelo português no fim de contas.
A ALEMANHA ENTRA EM CAMPO REUNIFICADA
Já falámos deste tema na entrada da Dinamarca, mas é sempre bom relembrar que a Alemanha só entrou em campo unificada no futebol a partir de 1990, com o Campeonato da Europa a ser o primeiro grande torneio em que jogadores de ambos os lados actuaram com a mesma camisola – no Mundial de 90′ foi a RFA e não a fusão conjunta. Depois de décadas de separação, de uma divisão violenta e que dividiu famílias e um país a meio, 1992 marcava o fim total de uma separação forçada, dando um teor especial ao Campeonato de Europa de 1992 organizado pela Suécia.
Jogadores emblemáticos da RFA e RDA juntaram-se e levaram a sua Alemanha à final, iniciando uma nova era para o futebol germânico que viria a levantar o título de campeões da Europa em 1996, com ainda duas das maiores lendas do oeste e este a actuar: Jürgen Klinsmann e Matthias Sammer.
A história da Europa fez-se também dentro das quatro-linhas, nunca esquecer desse pormenor.
A URSS… O 1º CAMPEÃO
Poucos são aqueles que sabem quem foi o 1º campeão do Campeonato da Europa da UEFA, com a sua primeira edição datada de 1960 (organizado pela França), e é importante o relembrar que foi a espectacular URSS a levantar o troféu. Recordar antes de tudo que só 4 selecções se apuravam para o Europeu, vindo de uma série de eliminatórias (a duas mãos), formato esse também adoptado para o próprio torneio. A União Soviética acabou por só realizar uma das eliminatórias – frente à Hungria -, uma vez que o seu adversário dos quartos-de-final decidiu não viajar até ao leste da Europa.
O adversário era a Espanha, que por uma questão política (decisão de Francisco Franco, ditador espanhol que vingou até 1975) não quis disputar esse encontro, forçando a UEFA a considerar o contingente espanhol excluído do processo de qualificação, atribuindo o lugar à URSS no Campeonato da Europa de 1960. As outras selecções apuradas foi a Jugoslávia, que derrotou Portugal na última fase-de-qualificação por um agregado de 6-3, seguindo-se a França e a antiga Checoslováquia.
Já dentro deste Campeonato da Europa em formato reduzido, os soviéticos derrotaram os seus adversários checos por contundentes 3-0, garantindo um lugar na final frente à super Jugoslávia, que vergaram a organizadora França por 5-4 num dos jogos mais emocionantes de todos os tempos da competição. A 10 de Julho de 1960, URSS e a República Federal da Jugoslávia entraram em campo para estrear a primeira final do Europeu de selecções, convergindo um sonho que décadas antes parecia impossível de concretizar, abrindo caminho para a continuação deste projecto do Velho Continente. Neste último encontro, seria a União Soviética a ficar com os louros após uma exibição lúcida, efectiva e fria, dando volta ao 1-0 inicial para acabarem na frente por 2-1, num jogo em que Lev Yashin foi o herói pelas defesas espectaculares realizadas e que deram URSS/CIS/Rússia o seu único título como selecção (a par de duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1956 e 1988).
VAN BASTEN ELEVA O EXPRESSIONISMO AO MAIS ALTO NÍVEL
Em 1988, a super Holanda levantou o título de campeão da Europa depois de derrotar a URSS por 2-0 na final, num duelo em que a Laranja Mecânica foi simplesmente superior do primeiro ao último minuto de jogo. Rinus Michels (treinador responsável por boa parte da filosofia táctica ainda hoje em dia vigente em vários treinadores) comandava uma selecção holandesa de alto brilho, comandada por Ruud Gullit, Frank Rijkaard, Ronald Koeman, Arnold Muhren e o fantástico, soberbo e genial Marco Van Basten, sobrevivendo a uma fase-de-grupos onde quase foram eliminados.
Regressando ao que se passou na competição, a Holanda sofreu inicialmente para chegar às meias-finais, pois só garantiria esse lugar no último encontro da fase-de-grupos frente à República Irlanda, com o golo da vitória a ser só alcançado aos 82 minutos, depois de mais de uma hora de desespero para os adeptos holandeses.
Meias-finais estava a RFA, ou a Alemanha do Oeste, à espera e naquele que é considerado um dos embates mais fantásticos das últimas décadas, foram os holandeses a garantir o acesso à final depois de novamente de muito desespero para os seus fãs… sofreram o 0-1 aos 55′, com o empate a chegar 20 minutos depois e a reviravolta surgiu pelos pés de um dos melhores jogadores da Europa e do Mundo, Van Basten. Seria o maestro a marcar o 2º golo que confirmou o título para os holandeses, num remate que desafiou as leis da física dobrando o espaço e o tempo num pontapé indefensável e extraordinário, que estava ao nível do génio e engenho do avançado.
Considerado um dos melhores golos de sempre em provas da UEFA, este golo de Marco Van Basten define aquilo que deve ser o futebol europeu!