Vítor Gonçalves. “Ser campeão pelo Nacional foi o meu melhor momento”

Francisco IsaacJunho 19, 201810min0

Vítor Gonçalves. “Ser campeão pelo Nacional foi o meu melhor momento”

Francisco IsaacJunho 19, 201810min0
O médio-centro do CD Nacional da Madeira foi um dos maiores desequilibradores na época que agora findou e explica todo o sucesso dos alvinegros.
Vítor, ao fim de dois anos valeu a pena dares o salto do Gil Vicente para o Nacional da Madeira, correcto? O que é que viste nos alvinegros que te cativou?

VG. Sim penso que valeu a mudança, apesar da primeira época não ter sido boa tanto a nível individual como colectivo, este ano conseguimos voltar a meter o nacional nos palcos onde merece jogando um futebol agradável e dominador. 

O que me cativou mais no Nacional foi a ambição de lutar por outros objectivos sem ser apenas a manutenção que tinha inclusive história de nos últimos anos ir a liga Europa alguma vezes.

Depois da descida de divisão do ano passado, como é que o plantel se uniu? Acreditaram que voltariam à Liga NOS já na época seguinte?

VG. Depois da descida de divisão do ultimo ano, sabíamos que tínhamos de mudar o chip, criar um bom grupo de trabalho que tinha tanto de ambição e motivação como sentimento de parceria, todos queriam jogar e trabalhavam para tal mas mesmo assim o ambiente era óptimo e o grupo uniu-se pois tínhamos tanto de cumplicidade e qualidade, tanto que mesmo quando não estávamos nos lugares cimeiros senti-mos que merecíamos mais, mas tudo tem um processo e felizmente adaptamos-nos rapidamente. 

Foste um dos médios mais trabalhadores da Ledman Pro… sempre foste intenso na forma como lutas no “miolo” de jogo? Quais são as tuas melhores características em campo?

VG. Sempre foi a minha forma de jogar, sempre fui intenso e gosto de ter vários tipos de tarefas em campo, o que combina com as minhas melhores características penso ter tanto bom passe como cruzamento, gosto de fazer a equipa jogar e procurar causar desequilíbrios nos espaços entre linhas ou nas costas.

Existem tantos prodígios técnicos por aí mas por um motivo ou outro nunca chegam a outro patamar, pois falta sempre qualquer coisa e a maior parte das vezes o atributo mental é o principal, não falo só a nível de inteligência, concentração e decisão no jogo mas também da própria atitude e carácter.

Defensivamente não sou nenhum génio táctico mas gosto de estar atento e por vezes corrigir um ou outro colega, aliás ás vezes até sou chato de mais, mas é por um bem comum e eles sabem.

Vítor Gonçalves no CD Nacional (Foto: Getty Images)
Como é que começaste a jogar futebol? Alguém da tua família deu-te o “empurrão”?

VG. Comecei a jogar futebol no clube da minha terra Messinense logo com 5 anos pois tenho uma família muito ligada ao futebol. Desde que comecei a dar os primeiros passos tinha sempre uma bola e recordo-me de passar tardes inteiras com o meu padrasto a jogar, inclusive o meu avô trabalhou como roupeiro lá alguns anos e eu aproveitava e passava as férias inteiras no campo, mas foi o meu tio que me levou a treinar ao clube pois ele já tinha exercido funções de dirigente lá, pois era muito novo e treinava e jogava com rapazes 3 anos mais velhos, mas eu adorava.

Como foram os teus anos de formação pelo Portimonense? Tens boas recordações dessa altura?

VG. Depois de ter saído do Benfica algo magoado porque sempre me disseram que eu não ia conseguir chegar ao futebol profissional por ser demasiado franzino e pequeno mas também não estava preparado mentalmente para o desafio. Era muito novo e vinha de um meio muito pequeno, nos 3 anos que lá passei, o primeiro vivi com uma tia da minha mãe aos 12 anos, no segundo tive na casa de uma amiga da família e finalmente no último foi a altura da construção da academia do seixal e lá estive,  passei por muitas dificuldades mas serviu para crescer muito e moldar a minha personalidade. 

Fiquei com a sensação que o meu sonho tinha acabado mas foi no Portimonense onde me reencontrei e voltei a ter prazer em jogar, encontrei colegas fantásticos mas também tive treinadores e dirigentes que acreditaram no meu valor, foram 4 anos de formação com muitas boas recordações em que no ultimo ano fizemos história na formação do clube a sermos a única equipa no Algarve a ser campeã no Campeonato Nacional de Juniores da 2ª divisão.

A saída de Portimão para Barcelos proporcionou-te os teus primeiros anos na Liga NOS. Ainda te recordas do teu primeiro jogo? E  era um ambiente mais intenso em comparação com a segunda liga?

VG. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro jogo em Barcelos na primeira liga foi contra o Olhanense e empatámos 1 a 1, estava com o nervoso miudinho no inicio mas depois soltei-me e correu bem, o futebol não era assim tão diferente mas era mais intenso e com pouca margem para erro.

O teu primeiro golo foi contra o SL Benfica em 2014/2015, com um remate indefensável da fora da área. Recordas-te do momento em que marcaste? E nos dias seguintes qual foi a reacção?

VG. O meu primeiro golo curiosamente foi contra o Benfica, assim que entrei no jogo passados poucos minutos tivemos o canto que deu origem ao golo, no festejo nem pensei apenas me deixei levar o futebol é mesmo para ser sentido assim, foi um misto de emoções foi de tanto efusivo pois a equipa precisava como de raiva e prazer ao mesmo tempo, o golo deu-me bastante confiança estava a ganhar o meu espaço na equipa e ali estava a afirmar que tinha algo a dizer, infelizmente 2 dias após o golo lesionei-me no joelho no treino e fiquei quase 3 meses parado, acabou por ser o momento mais frustrante da minha curta carreira.



Sentes que merecias outra oportunidade no escalão máximo do futebol português? O que é preciso para singrar na Liga NOS

VG. Se sinto que mereço outra oportunidade? Claro que sim penso ter demonstrado que tenho qualidade para isso, mas todos sabemos que o futebol é o momento, não vou estar a espera que me metam lá a jogar por o que joguei há 3 meses atrás, as oportunidades conquistam-se todos os dias e pretendo continuar a demonstrar que estou apto para tal. O que é preciso para jogar a este nível? Qualidade e mentalidade.

És um dos médios mais versáteis da Ledman Pro, com possibilidade de jogar a 8 a 10 ou mesmo descair para as alas. Sempre tiveste este “jeito” para saltar entre posições?

VG. Curiosamente já corri várias posições, lembro-me já em sénior pelo Portimonense ter jogado tanto a lateral direito como a lateral esquerdo porque a equipa precisava. Sei que consigo jogar nessas posições (8 10 e ala) mas por vezes tenho de adaptar o jogo, se sou bom no cruzamento a jogar a extremo não vou estar sempre a procurar o drible, a 10 talvez procure bascular nos espaços e criar desequilíbrios para depois decidir mas a 8 é onde me sinto mais livre e mais a vontade para dar o meu contributo, enfim, digo que sou médio mas jogo onde me colocarem e tento dar sempre o meu melhor.

A nível físico pareces frágil mas consegues ganhar a maioria dos duelos. É um dos teus “segredos” em campo? E que qualidades mais aprecias no teu jogo?

VG. Segredo não, apenas tento estar concentrado na percepção dos timings tanto de antecipação como de salto, depois é a intensidade que coloco no lance, o físico certamente ajuda mas também é sobrevalorizado em certas situações, o Kanté por exemplo é muito pequeno no entanto é dos melhores recuperadores de bola do mundo e raramente perde um lance.

 E é mesmo isso que aprecio  no meu jogo apenas pelo facto de pegar numa das coisas que sempre quiseram dizer que não dava e eu agora provar o contrário, mas o meu jogo tem muito mais que isto.

Melhor conselho que um treinador já te deu? E a reprimenda que te ficou sempre gravado na cabeça?

VG. O melhor conselho que um treinador já me deu foi para ter confiança em mim e acreditar no meu valor, se eu não acreditasse quem iria? Enquanto que a maior reprimenda que tive foi no meu primeiro ano de sénior com o treinador Mozer, estávamos a fazer um jogo reduzido e eu na altura era agressivo de mais e muito irreverente, um colega meu guarda redes sofreu um golo que facilitou um bocado e eu desatei a chamar-lhe nomes e a mete-lo para baixo, nem sei o que me passou pela cabeça, no final o treinador muito calmamente veio perto de mim e disse, “achas bem?

Primeiro faltas-te ao respeito a um colega teu especialmente mais velho e com mais experiência que tu, segundo por muito melhor ou pior que sejas perante os teus colegas nunca deves perder a humildade e isto ficou-me na cabeça.”

O campeonato conquistado pelo CD Nacional foi o teu melhor momento no futebol? Consegues descrever a sensação de ouvir o apito final e saberes que és campeão?

VG. Foi o melhor momento que vivi no futebol, após uma longa época de altos e baixos, chegar ao fim e sentir que somos campeões é uma emoção muito forte, é um sentimento de dever cumprido em que olhamos para trás e o que passamos compensou, a nossa cumplicidade e união vai ficar marcada não só como um bom grupo mas sim como um grupo campeão.

Colega mais divertido dos alvinegros? E há algum que é complicado de lidar nos treinos?

VG. Não vou nomear nenhum porque todos nós tínhamos os nossos momentos de diversão, felizmente como já mencionei o grupo era fantástico

Tens algum sonho que gostavas de cumprir no futebol?

VG. Gostava de jogar numa competição europeia, num grande palco.

Houve alguém importante na tua carreira?

VG. Sem duvida a minha família que sempre me apoiou.

Queres deixar umas palavras ao público do Nacional? E, já agora, tens vontade de continuar a jogar pelo Nacional nos próximos tempos?

VG. Apenas que continuem a apoiar incondicionalmente o clube, vai haver momentos bons e momentos maus mas a vossa presença faz a diferença. Foram uma grande ajuda nos momentos finais do campeonato conseguiam puxar por uma equipa fisicamente cansada a dar sempre mais. Sim gostava de jogar cá mais uns tempos mas tenho ambições e tenho sonhos, entretanto vou dar sempre o meu melhor.


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