Manuel Murteira. “Foi o realizar de um sonho quando joguei por Portugal”

Francisco IsaacAbril 28, 20197min0

Manuel Murteira. “Foi o realizar de um sonho quando joguei por Portugal”

Francisco IsaacAbril 28, 20197min0
Um dos melhores jogadores do CN1 foi entrevistado em exclusivo para o Fair Play. Fica a conhecer melhor Manuel Murteira do CR Évora!
Manuel, depois de anos ao serviço pela AEIS Agronomia onde ganhaste alguns troféus, este ano acabas a época com a camisola do “teu” CR Évora… era o regresso que pretendias? Foi fácil o 1º dia de treinos?

Olá Francisco, antes de mais gostava de agradecer pelo convite e realçar o teu excelente trabalho em manter vivo todo o rugby português.

Relativamente à primeira pergunta: não, não era o que pretendia, mas devido à exigência pedida em Agronomia, não me era possível conciliar com a minha vida profissional. O primeiro dia de treinos foi fácil até cair na realidade de que a diferença é grande entre os dois clubes.

Neste teu regresso encontraste alguns dos teus companheiros dos tempos de juvenil e juniores? Como foi voltar a jogar ao lado do António Fonseca, Frederico Couto, José Benjamim e outros tantos?

Foi devido a muitos deles que voltei para o CRÉ e jogando ao lado deles tudo se tornou mais fácil.

Porquê é que saíste do Évora há quase 10 anos atrás? Foi uma decisão fácil ou difícil na altura?

Sinceramente foi uma decisão mais fácil do que esperava porque quando cheguei à Agronomia tinha já amigos na equipa e a acrescentar a isso contei com outros tantos que me acolheram como se fizesse parte da família.

Ao serviço do clube da Tapada atingiste a Selecção Nacional… como te sentiste a envergar as cores de Portugal?

Jogar por Portugal é sempre um grande orgulho e traz principalmente uma enorme responsabilidade. Quando vesti a camisola pelas primeiras vezes foi como realizar um sonho de miúdo, estar a representar o meu país é sem dúvida um momento único.

Se tivesses ficado no CR Évora achas que era possível ter atingido esse estatuto de internacional?

Tocaste num ponto importante, pois é com muita pena que digo que não é só a divisão de honra que tem jogadores de qualidade (sem a querer desvalorizar minimamente) e aproveito para dizer que quem é responsável pela selecção dos jogares, na minha opinião, deveria ter mais atenção e avaliar outros clubes que não façam parte da principal divisão do rugby português.

Tens saudades de alguma época ou momento em particular quando jogaste pela Agronomia? O que tiveste de melhorar nos primeiros tempos?

Tenho, claro! Na minha primeira época que joguei pelos seniores em que ganhámos uma super taça e uma Taça de Portugal em que tive o prazer de ser o chutador nestes dois jogos.

Quando falamos em saudades, não posso deixar de referir o treinador e amigo Zé Ricardo Sequeira que foi muito importante nesta minha evolução como jogador. No geral tive que melhorar tudo, mas principalmente a cabeça porque para mim o rugby é um desporto que exige uma “inteligência” e estratégia ao mais alto nível.

Foto: Filipe Monte Fotografia
Sentes que o Évora evoluiu como clube durante o tempo que estiveste na Tapada?

Ao longo destes 10 anos acompanhei vivamente o CRE e foram tempos de altos e baixos. A nível de infraestruturas, foi sempre instável o que dificultou o crescimento e desenvolvimento das camadas jovens que são o futuro do clube. A nível de equipa independentemente das condições acreditaram sempre nos valores que foram passados e conseguiram atingir grande parte dos objectivos.

No presente graças ao esforço e dedicação de toda a direcção capitaneada pelo presidente Manuel Couto temos umas condições maravilhosas.

Como foi estar às ordens do Miguel Avó, que no teu último anos antes deste regresso era jogador do Évora?

Antes de ser treinador já era um grande amigo e foi fácil. Tentei sempre passar o melhor que sabia da experiência que ganhei. Tenho a certeza que vai ter muitos anos pela frente para aprender e desenvolver cada vez melhor a sua qualidade como treinador.

Sentiste uma grande diferença em termos de qualidade de rugby entre divisões? O CN1 é um campeonato competitivo e que vale a pena seguir?

Senti muita diferença, principalmente no ritmo e nas paragens por erros básicos que acontecem muito nesta divisão. Sem dúvida que o CN1 é um campeonato para seguir, temos jogadores incríveis e cada vez mais temos jogos equilibrados e uns bastante agradáveis de ver.

Jogaste a centro, defesa e abertura nesta temporada… qual foi a posição que mais gostaste de jogar? E o que faltou acontecer nesta temporada?

Sem dúvida que a posição que sempre adorei jogar foi a 2°centro, estou muito mais em jogo e isso dá-me uma maior concentração e foco!

Durante a temporada, na minha opinião, acho que tivemos todos as qualidades e requisitos para cumprir com os objectivos, mas estando mais de metade do plantel em Lisboa e com os treinos em Évora, era difícil treinarmos todos juntos, com isso acabaram por surgir as lesões graves em alturas importantes, o que não ajudou que mantivéssemos o mesmo nível do início

O que para ti falta no rugby nacional? Tens alguma proposta para o futuro da modalidade?

Podia dizer que falta aquilo e o outro, mas Portugal sempre teve dificuldade em gerir o rugby no geral. Um presidente pensa de uma forma, chega outro que pensa de outra e andamos sempre em altos e baixos. Acredito que a forma de o melhorar seria, de alguma forma, conseguirmos que quase todos para não dizer todos os clubes, tivessem a mesma maneira de pensar e remassem todos no mesmo sentido porque são os clubes que são os verdadeiros responsáveis do rugby nacional.

Tens o objectivo de volta à Selecção Nacional mas agora vestido com a camisola do Évora?

Na verdade tenho ainda essa ambição de jogar na selecção de quinze, dizem que é a partir dos 28 que chegas ao auge da carreira, sei que não vai ser fácil mas com trabalho e dedicação sei que chegaria lá.

Melhor jogador com quem jogaste na Agronomia e Évora? E na Selecção Nacional?

Poderia dizer muitos com qualidade que hoje são jogadores de topo mundial mas a minha referência em Agronomia foi o maestro Duarte Cardoso Pinto, era bastante fácil jogar com ele e quando jogava a ponta divertia-me muito a jogar. No Évora joguei pouco nos seniores mas quem gosto de ver jogar é o meu primo António Fonseca. Na selecção sem dúvida que foi o Vasco Uva.

Qual foi o treinador que mais te influenciou?

O treinador que mais me influenciou foi o Ze Ricardo Sequeira no clube e o Pedro Netto também foi bastante importante.

Achas possível o José Lima voltar a jogar ao teu lado no CR Évora? Queres deixar-lhe uma mensagem?

Gostava claro, mas se voltasse seria só para jogar nos veteranos. Se por acaso voltar nos próximos 10 anos é porque se passou alguma coisa onde está, sendo o atleta incrível que é, adorava que ficasse onde está, pois está a realizar o seu sonho de pequenino!

Uma mensagem para o Rugby português, os teus colegas, treinadores, dirigentes do Évora e amigos que ficaram na Agronomia?

Em Évora, se continuarmos a trabalhar como têm/temos trabalhado nos últimos 3 anos acredito que será certamente possível fazermos história e a todos os agrónomos digo um “ate já”.

Foto: Filipe Monte Fotografia

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