Enter The Sandman 1# Entrevista a João Gonçalves “Von” (Sporting CP)
Enter the Sandman é uma rubrica onde iremos dar-vos a conhecer melhor alguns jogadores menos conhecidos do mundo do futebol praia nacional. Será um espaço para que os atletas possam partilhar histórias, curiosidades e algum do seu dia-a-dia. O objetivo deste projeto passa mesmo por divulgar aqueles não têm tanta visibilidade e acabam ofuscados pelas lendas e referências mais antigas da modalidade e outros que como não estão em contexto de seleção nem sequer têm espaço para se mostrar, vamos ao longo do tempo tentar destacar alguns internacionais mais jovens e jogadores que disputem os campeonatos nacionais projetando e promovendo cada vez mais a linda e apaixonante modalidade que é o futebol praia. O meu primeiro convidado é o meu grande amigo, João Gonçalves, mais conhecido por “Von”, internacional português desde 2017, e era inevitável iniciar um projeto desta natureza com a primeira pessoa que tive contacto na modalidade no meu primeiro treino de futebol praia.
Em seguida fica um excerto da conversa com o craque do Sporting CP e o link para ouvirem na integra o momento.
VON, DA SELECÇÃO, AOS TREINOS E À AREA MOLHADA
Das coisas que acho que é clichê já, mas que vai ser um bocadinho […] na tua carreira igual aquilo que é a história do Madjer sempre que alguém o entrevista ou [em] algum podcast ou algum programa [há] a típica pergunta de onde vem o nome Madjer, a ti é de onde vem o nome Von?
Olha, o nome Von, claro que já me perguntaram isso várias vezes, vem já do meu irmão, começaram-lhe a chamar […] primeiramente [a ele] Von e tem a ver somente porque quando jogávamos FIFA, ele escolhia sempre a seleção holandesa, praticamente sempre, e os jogadores eram praticamente todos Van, Van Nistelrooy, Van Bommel, era tudo na altura e começaram-lhe a chamar Von por fugir ali um bocadinho à regra, mas era basicamente pelo gosto que ele tinha de escolher sempre a seleção holandesa e pronto, depois começaram a chamar a mim também e colou e ficou e desde então quase toda a gente me trata assim [por Von].
Olha e de certeza que foste praxado, podes contar a tua praxe na seleção?
[Risos] Já tive algumas, já tive algumas, desde me virarem a cama do quarto, é assim praxe não houve logo praxe inicial, a questão é que tive uma praxe e já estava a alguns anos [na seleção], que foi no meu aniversário, porque dia de aniversário na seleção significa, principalmente o Sr. Bruno Torres, fazer algo para praxar alguém (…). Posso contar uma que estávamos em Salou [Catalunha, Espanha], para os jogos mundiais, qualificação para os jogos mundiais em 2019 e eu fiz anos e portanto fazer anos significa praxe, e portanto estávamos basicamente a almoçar, almoçar ou jantar, estávamos numa refeição e portanto o Sr. Bruno Torres foi buscar musse de lima e esbarrou-me na cara a musse de lima e em frente a todas as seleções, que aquilo era uma sala enorme que todas as seleções estavam, ou quase todas estavam a comer e pronto ele decidiu levar com a musse de lima.
E para não bastar também havia musse de chocolate e portanto voltou lá à mesa e quando eu estava distraído levei com uma dose de musse de chocolate e depois lá fora ainda tive de levar com um banhinho de água, [risos] portanto são momentos que são marcantes e que é por isso que também temos o à vontade que temos uns com os outros e o espirito de grupo que temos. Se não houvesse estas brincadeiras também [não existia], eu pelo menos gosto, acho que é assim que fomenta um bocado o espirito de grupo.
Revista Olímpica# Bruno Torres e a Selecção Nacional de Futebol de Praia https://t.co/3njoG1AkDx
— Fair Play (@FairPlaypt) September 24, 2021
Tocas-te aí num ponto que te ia perguntar agora, que sacrifícios é que esta modalidade te obriga? Sabemos que isto não é uma modalidade anual, é sazonal, que implicações é que isso tem na tua vida pessoal?
É assim, é uma modalidade sazonal em termos de competições [nacionais] e mesmo assim para quem já vai à seleção acaba por ser uma modalidade que dura quase o ano todo. Por isso nós temos de estar a um nível elevado quase todo o ano, ou todo ano buscar sempre estar o mais em bom nível o ano todo. Posso dizer que a partir do momento em que comecei a ir mais regularmente à seleção houve muita coisa que teve de ficar para segundo plano, eu estudava na altura, eu já jogava pela seleção, eu trabalhava, fazia alguns trabalhos ainda, na altura acho que dava explicações se não me engano e eu tinha uma vida imensamente preenchida e claro que houve coisas que tiveram de ficar para segundo plano, as festas com os meus amigos, certos convívios, jantares, relação muitas vezes pessoal, eu queria estar com os muitos amigos meus, mas muitas vezes não conseguia, ou sabia que ia ter jogo no dia a seguir e não podia sair, não podia comprometer a minha performance de alguma forma.
Sem dúvida que também em termos de universidade eu comecei a ter melhor rendimento a partir do momento em que comecei a estar mais ocupado com o futebol [praia], porque me concentrava mais nos momentos em que tinha para estudar e isto é uma coisa que eu notei, mas também sei que se calhar se tivesse tido mais tempo também poderia ter tido uma maior disponibilidade para a universidade e para estar com os meus colegas e isso tudo, portanto uma pessoa tem de abdicar de muita coisa, tem de as vezes abdicar de convívios com a família, com os amigos, de certas coisas que também gostas de fazer. Mas para ganhar títulos e para estar ao mais alto nível é assim e hoje em dia eu trabalho, tenho o meu trabalho, estou a conseguir até agora fazer as duas coisas e orientar as duas coisas, também porque me foi dado essa disponibilidade do meu trabalho, mas sem duvida continuo a abdicar de muita coisa e então com trabalho. Hoje em dia quem trabalha sabe que para estar no futebol praia num nível destes tem de abdicar de muita coisa e pronto, mas quem abdica é por uma boa razão e ninguém é obrigado a nada e eu quero continuar a abdicar porque eu adoro a modalidade em que estou inserido.
Olha tu falas-te aí de uma coisa que naturalmente um jogador de seleção tem que estar preparado o ano inteiro, mas nem sempre durante o ano inteiro há competição, nem sempre há treino de equipa clube, nem sempre há estágio de seleção e há alguns tempos mortos, portanto que tens de treinar sozinho e as pessoas fora do contexto do futebol praia muitas vezes não têm a noção de que este desporto torna-se um bocadinho individual nesses momentos, fala-me um bocadinho dos teus treinos de inverno por assim dizer, quando não há competição, quando não há treino nem de seleção nem de equipa [clube], como é que tu te preparas? Vens para a praia? É ginásio? É fora da areia? É na areia? Como é que preparas esses tempos para depois estares ao mais alto nível quando és chamado?
Olha, eu cada vez mais acho que fazer um trabalho de ginásio e areia em simultâneo é a melhor opção, eu acho que não devemos estar só a fazer ginásio, porque depois chegamos à areia e a areia pede-nos outras coisas que o ginásio não nos dá e cada vez mais acho e cada vez mais, devido também a algumas lesões e condições/condicionantes que fui tendo ao longo das épocas, acho que o ginásio é algo que tem de ser englobado no treino de um atleta de futebol praia, principalmente para colmatar algumas fraquezas.
O que eu faço e o que tenho feito agora é alternar ginásio com areia, muitas vezes no inverno mesmo que esteja frio nós compramos aquelas, nós chamamos meias de surfistas, para não estarmos a pisar completamente [e] diretamente a areia porque faz um frio, e tu que de certeza, pronto, também sabes disso porque também já experiencias-te isso no inverno, é muito complicado treinar na areia porque a areia está imensamente fria e eu já cheguei a acabar treinos com os pés praticamente, eu não sentia os pés, estavam completamente dormentes e já para não falar que depois ficava doente. Mas tem de ser isso, tem de se fazer sempre algo mais, os treinos não bastam, porque se os treinos param e a pessoa se mantem inativa depois para começar é muito mais complicado. Portanto o que eu faço é continuo a ir à areia tento treinar sempre com alguns jogadores para me motivar a mim mesmo, levo o meu material, os meus cones, estacas, tudo isso e depois tento complementar com algum trabalho de fortalecimento no ginásio, basicamente é isso.
[E] Quando chove? Vais à areia também?
Já aconteceu várias vezes que sim. No inverno então, não faz assim tanto sol e uma pessoa tem de se acostumar. Leva o casaco impermeável, leva a camisola térmica e siga não é? Vai ter de ser.”
Cliquem no link e ouçam a mensagem que o Von deixou para vocês! E fiquem atentos para os próximos Sandman!