Duarte Marques. “A entreajuda e espírito de sacrifício definem o Técnico”

Francisco IsaacFevereiro 20, 20188min0

Duarte Marques. “A entreajuda e espírito de sacrifício definem o Técnico”

Francisco IsaacFevereiro 20, 20188min0
O internacional português do Técnico Rugby, Duarte Marques, falou sobre o início de carreira, os objectivos e muito mais nesta entrevista em exclusivo
Duarte… uma pergunta logo directa: o que é ser jogador do Técnico? Como defines o espírito dos “engenheiros” das Olaias?

DM. Ser jogador do Técnico é fazer parte de uma grande família, onde a entreajuda e o espírito de sacrifício fazem parte do nosso ADN. O nosso espírito é definido pela nossa coesão como equipa dentro e fora de campo o que nos torna a equipa que somos.

Como começaste a jogar rugby? Foi uma ligação familiar, um amigo que te convidou ou interesse individual? E recordas-te do primeiro dia que pisaste o campo das Olaias?

DM. O meu pai jogou no Técnico e, por isso, desde pequeno que tive bastante curiosidade de experimentar. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia, cheguei ao Técnico com o meu irmão, fui treinar para os Benjamins e ele para os Infantis. Nesse treino lembro-me de ter calhado com o temido Luís Madaleno, num jogo de 1 para 1 e ele não marcou. Desde esse dia que nunca mais larguei este nosso desporto!

Apesar de seres o único da geração de 93’ ainda em actividade no Técnico, fizeste parte de uma das equipas de maior sucesso nos últimos anos do Técnico… como explicam o vosso crescimento? E porque é que são “diferentes”?

DM. A razão para o nosso sucesso foi o nosso espírito de equipa que aliado a uma grande vontade fez com que tivéssemos bons resultados. Neste momento, ainda jogo com dois jogadores da minha geração, o Lourenço Pyrrait e também o Luís Madaleno que voltou recentemente a jogar, depois de ter parado dois anos.

Sempre jogaste a defesa ou foste transitando entre posições? E o que é preciso para ser um bom nº15?

DM. Transitei entre posições. Quando era miúdo jogava a abertura, depois ganhei uns kilos e fui para os avançados, onde comecei na primeira linha e fui avançando até à 3ªlinha. Quando subi aos sub 18 voltei para os três quartos, comecei a jogar a 12 e no meu segundo ano de sub-18 voltei para abertura onde joguei até chegar aos seniores. Com a chegada do Kane Hancy a Portugal, comecei a jogar a 15 e, no último ano, voltei a jogar a abertura. Na minha opinião, as principais características de um bom 15 são a segurança nas bolas do ar, a visão de jogo e a comunicação para organizar a defesa.

Pelo que nos contaste esta época estás a jogar a abertura…posição nova? Já tinhas jogado? E como te tem corrido?

DM. Não, como disse foi a posição que tinha vindo a jogar até à chegada do Kane a Portugal, e por isso, penso que foi uma passagem mais fácil. A abertura tenho menos tempo para fazer as coisas, mas acho que este desafio tem corrido bem.

Esta temporada o Técnico acabou por ficar de fora dos 1ºs seis, mas para o ano achas que estarão de volta ao topo da tabela?

DM. Foi um início de época um pouco atípico que não nos correu nada bem! No entanto, penso que serviu para crescemos como equipa e para o ano podem contar connosco de novo na luta pelos primeiros lugares.

O teu foco é voltar à selecção Nacional? Como o vais conseguir e o que tens feito em trabalho especifico para demonstrares que tens qualidade para estar lá?

DM. O meu foco é continuar a evoluir como jogador e se isso for suficiente para voltar à seleção nacional melhor. Penso que o objetivo de qualquer jogador é representar o nosso país, por isso claro que continuo com esse objetivo. Continuo a trabalhar fora dos treinos, tanto a nível de ginásio como também treino específico para a minha posição (pontapés, passes, …)

Qual foi o teu objectivo no teu primeiro jogo pela Selecção Nacional? E usaste a pressão a teu favor?

DM. O meu objetivo era conseguir entrar bem no jogo e ajudar Portugal a vencer o jogo. Infelizmente, foi um jogo que não correu bem, tivemos poucas bolas e perto do intervalo levei o primeiro amarelo da minha vida. Apesar de não me ter corrido bem esta estreia, a pressão nestes tipos de jogo desaparece assim que o árbitro apita para o início do jogo.

Foto: Filipe Monte Fotografia
Aquela estreia de fogo contra a Roménia foi complicada? Achas que há uma grande diferença entre nós e eles?

DM. Foi um jogo difícil, sabíamos disso logo à partida, principalmente sabendo que a Roménia estava a preparar o Mundial e vinha na sua máxima força! A grande diferença que existe entre nós e a Roménia é a capacidade física dos romenos que é superior à nossa. Ao nível de skills estamos ao nível se não melhores do que eles, mas no rugby atual este não é o fator essencial para o sucesso.

Olhando para o que já conseguiste, gostavas de jogar fora de Portugal? Ou, devido aos estudos/trabalho queres ficar por cá e continuar no caminho de ser um dos nomes mais fortes do Técnico?

DM. Neste momento, e depois de ter concluído o meu percurso académico, já estou a trabalhar há dois anos, por isso apesar de ter tido esse sonho de jogar fora de Portugal penso que já não seria a altura certa. Claro que quero continuar a jogar no Técnico e a contribuir a atingir os nossos objetivos que passam por sermos campeões nacionais nos próximos anos.

Falando do teu jogo a nível individual, tu tens um jogo ao pé de excelente qualidade? São genes de futebol ou foram muitas horas de treino?

DM. Claramente que foram muitas horas de treino. Apesar de ter algum jeito para jogar futebol, foram investidas bastantes horas de treino para conseguir ter o jogo ao pé que tenho.

Achas que a modalidade está com dificuldades de crescimento? O que se pode fazer mais para termos ainda mais jogadores a jogar rugby?

DM. Acho que o Rugby podia ou devia ter bastante mais jogadores. Na minha opinião, tudo deveria começar nas escolas, tem de haver maior contacto com os miúdos desde pequenos para os conseguir cativar. Além disto, a cultura e os valores do rugby têm de ser transmitidos aos pais de forma a que estes vejam o Rugby como um desporto que pode formar os seus filhos a serem melhores pessoas e não como um desporto violento. No lado dos clubes, penso que devia existir um maior investimento para aumentar a capacidade de ter jogadores jovens. Lembro o que aconteceu após o Mundial 2007, muitos miúdos começaram a jogar rugby e os clubes não tiveram capacidade de absorver todos esses novos jogadores.

Fazes uso dos valores do rugby no teu dia-a-dia? Há algum entre eles que tomes como uma máxima fundamental?

DM. Claro que sim. Todos valores do Rugby me ajudaram a ser a pessoa que sou hoje. O respeito na minha opinião é um valor fundamental que se aplica tanto no rugby como na vida.

Umas perguntas mais bem dispostas… quem é que gostas de ter sempre ao teu lado na hora de defender? E aquele que nunca passa a bola mesmo que lhe passem 30 vezes?

DM. Ao meu lado a defender escolhia o meu irmão. Aquele que nunca passa a bola é claramente o Gonçalo Faustino (tem é de agarrar a bola!! Ahah)

Mike Brown, Ben Smith, Damian McKenzie ou Stuart Hogg?

DM. Stuart Hogg

Ser Campeão pelo Técnico ou jogar no Top14?

DM. Campeão pelo Técnico

Melhor placagem que já deste?

DM. Ainda está para vir!!

Que jogo repetirias ?

DM. Meia final do campeonato nacional 2013/2014 contra o CDUL, falhei um pontapé na parte final que podia por o Técnico na frente e acabámos por perder o jogo.

Umas palavras para os mabecos, adeptos do rugby português, amigos e familiares?

DM. Para os adeptos do Rugby que continuem a divulgar e apoiar de forma a conseguirmos ganhar expressão e tornar o Rugby um desporto com mais visibilidade em Portugal. Para os jogadores mais novos do Técnico dizia para trabalharem dentro e fora dos treinos porque esse trabalho extra dá resultados no futuro. Para o resto, apelo a que dêem a conhecer o nosso desporto aos vossos amigos e os tragam a ver jogos de forma a conseguirmos divulgar e espalhar o Rugby na vida das pessoas.

Foto: Getty Images

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