Francisco Isaac, Author at Fair Play

467399833_1116683213157030_3850148660372372033_n-1280x842.jpg
Francisco IsaacNovembro 20, 20244min0

António Salvador e o SC Braga fizeram um ataque público a Rui Duarte, treinador que foi estranhamente despedido no início de época após ter somado uns poucos resultados acinzentados, com a reacção da Associação Nacional de Treinadores de Futebol a realizar um total de… zero comunicados. Zero comunicados públicos. A honra de Rui Duarte foi colocada em causa, com o emblema bracarense a fazer uma espécie de extorsão ao ex-treinador numa tentativa de que este prescinda dos seus direitos. João Pereira é o escolhido para assumir o lugar de Rúben Amorim ao leme da equipa sénior masculina do Sporting Clube de Portugal e… processos judiciais à vista. Do nada, a ANTF sai da escuridão e assume uma atitude agressiva na defesa dos direitos dos treinadores, exigindo que o Sporting CP abdique de escolher o seu treinador, seguindo o manual à risca sob pena de ser levado à UEFA e a todo o tipo de tribunal desportivo e administrativo.

Dois pesos e duas medidas, é a única e possível forma de qualificar o pensamento da ANTF. Já quando foi Rúben Amorim a assinar pelo Sporting de Braga, a instituição qualificou de ‘vergonha’ e que iria lutar pela justiça desportiva até ao limite, numa demanda que facilmente se compara às cruzadas religiosas realizadas na Idade Medieval. O tom é exagerado e transpira de uma arrogância superlativa que deveria chocar o adepto comum.

Ninguém está a dizer que João Pereira não deve terminar os referidos graus da UEFA Pro, já que essa é a vontade demonstrada pelo agora técnico principal dos “leões”. Ninguém está a dizer que o Sporting CP, SL Benfica, FC Porto, FC Famalicão, ou qualquer outro clube têm permissão para saltar por cima de regulamentos e leis. Porém, quando a ANTF e a instituição que administra os cursos de treinador não estão dispostas a facilitar horários e arranjar soluções que resultem para todos, então devemos questionar a agressividade das palavras proferidas pelo responsável máximo pela organização que vela pelos direitos dos treinadores.

Quando voltamos a olhar para a situação de Rui Duarte e a falta de voz da ANTF para mover um processo contra António Salvador, a única reacção possível é de revolta e choque. Como é que a liderança da ANTF está mais preocupada com João Pereira do que Rui Duarte? Como é que se permite ao SC Braga fazer o que lhe apetece do seu antigo treinador sem sequer emitir um comunicado? Por isso, a preocupação da associação é que as pessoas tenham as ‘habilitações necessárias’, e uma vez que esse objectivo tenha sido alcançado, estão entregues ao Mundo. Uma habilitação académica não é sinónimo de sucesso ou competência, e a ANTF achar que basta isso para estar tudo bem encaminhado, demonstra o mesmo tipo de comportamentos que a Ordem dos Advogados ou Psicólogos, dois órgãos que estão só preocupados em fazer dinheiro.

Mas se o leitor pensa que não existe este universo de dois pesos e duas medidas, sugiro o seguinte exercício. Pesquisem no Google por “Miguel Afonso, Famalicão, ANTF” e deixem nos comentários quantos resultados encontraram. Irão encontrar um par de notícias, e apenas um par de frases do presidente, José Pereira, a dizer que uma investigação é necessário e que os suspeitos devem ser punidos. Mas de resto, nada mais se ouviu. A ANTF que devia ter levado a cabo uma luta total pelos direitos das mulheres, optou por lançar uma aglomeração de palavras que deverá ter sido escrita num escritório qualquer de advogados. Quando se dá mais importância ao facto de um treinador tem ascendido a um lugar de importância – e que deverá tirar o curso, como Rúben Amorim o fez também – do que a um que está sobre ataque do seu antigo clube, ou de um sujeito que abusou sexualmente de atletas, fica tudo dito da sua importância para a sociedade civil portuguesa.

466977385_872981591710127_3681460190033891252_n-1280x813.jpg
Francisco IsaacNovembro 20, 20243min0

Final para os sub-20, vitória dos sub-18 ante a Bélgica, e uma ronda amplamente positiva para as selecções jovens de Portugal que mostraram bons pormenores nos jogos desta terça e quarta-feira passada, sendo estes os três destaques de ambos os encontros.

O NEGATIVO: INCONSISTÊNCIA QUASE QUE COMPLICOU AS CONTAS

Um jogo com duas partes diferentes. Os sub-18 entraram a ganhar, mas depois permitiram uma recuperação da Bélgica, que chegou a estar na frente do encontro por um ponto (15-14), o que começou a gerar preocupação por parte de quem assistia ao encontro. Falhas de placagem gritantes, um jogo ao pé com pouco sentido e uma manobra ofensiva que se deixou apanhar em falso em diferentes momentos, especialmente entre os 15′ e 36′. A segunda-parte foi uma mudança radical de atitude, com os atletas de João Baptista Malta a quererem ser a equipa dominante e a não esperar pelo erro do adversário. A entrada de Salvador Guimarães agitou a equipa e deu uma pulsação alta a uma equipa que precisava de acordar e de operar de forma diferente. Com esta vitória Portugal garantiu acesso à final do 5º lugar, um pormenor positivo naquilo que foi uma campanha longe dos objectivos mínimos.

O POSITIVO: MATREIRICE AJUDOU A CHEGAR À FINAL

Três anos depois os sub-20 de Portugal retornam às finais do Men’s Rugby Europe Championship, derrotando a Bélgica por 30-12, num resultado que só ganhou forma a partir dos 28 minutos de jogo. Os Lobos sub-20 até começaram com o pé esquerdo, não chegando à área-de-ensaio contrária, sofrendo até um ensaio à passagem do 20º minuto de jogo. Contudo, a partir desse momento a selecção nacional começou a operar como uma equipa, impondo diversas dificuldades ao conjunto belga que acabou por recuar no terreno e a cometer uma onda de erros, um dos quais a resultar no primeiro ensaio marcado por Guilherme Vasconcelos. A agressividade física subiu de nível, o domínio táctico ganhou outra expressão e o ataque mostrou outra lucidez, resultando numa reviravolta de 00-05 para 17-05 no espaço de 12 minutos.

Um dos momentos do encontro esteve guardado para a bola de jogo da primeira-parte, com a Bélgica a jogar rápido e a cair numa boa placagem colectiva, com o talonador António Peixoto a se lançar à bola e a conseguir um precioso turnover. A solidariedade defensiva foi de excelência, com os atletas portugueses a se unirem nos momentos críticos para colocar um travão aos avançados do adversário que só nos últimos oito minutos voltou a chegar à área-de-validação portuguesa. Outro ponto importante foi a inteligência da operação ofensiva dos Lobos sub-20, conseguindo apanhar a equipa belga de surpresa, com destaque para Manuel Vareiro, Mathis Silva e Guilherme Vasconcelos. Nota final vai para nova boa actuação de Martim Souto, com o pilar a se impor nas fases-estáticas e até no jogo corrido.

O MVP DA RONDA: JOSÉ MONTEIRO (SUB-20)

Marcou um tremendo ensaio, fez o quis da defesa belga a partir da formação-ordenada e reinou com assertividade no alinhamento, tendo sido um dos jogadores portugueses em grande destaque nesta 2ª ronda dos Campeonatos da Europa sub-18 e sub-20. O atleta do CDUL foi gigante no que toca à fisicalidade imposta no contacto, agilizando bem os processos dos Lobos sub-20 para dar outro músculo, força e domínio à equipa portuguesa, especialmente naqueles vinte minutos iniciais. O terceira-linha ainda somou dois turnovers, doze placagens efectivas, uma dezena de linhas-de-vantagem conquistadas e dois offloads, injectando um dinamismo tremendo que fez a diferença.

465271918_598191402563566_3873706896043226199_n-1280x854.jpg
Francisco IsaacNovembro 9, 20244min0

No primeiro jogo de Simon Mannix em solo nacional, Portugal acabou derrotado frente aos Estados Unidos da América no Estádio de Coimbra, com a equipa da selecção nacional a deixar escapar uma vantagem de 17 pontos com um ensaio marcado nos derradeiros minutos do encontro. Estes são os três destaques do jogo.

MVP: SIMÃO BENTO (DEFESA)

80 metros de conquista, duas assistências para ensaio, uma quebra-de-linha, seis recepções ao pontapé e cinco defesas batidos… este foi o pecúlio de Simão Bento, um dos melhores jogadores portugueses na derrota de Portugal frente aos Estados Unidos da América. O defesa do Stade Montois teve tarde de qualidade, desenhando uma mão-cheia de jogadas que deram outra vitalidade aos Lobos, especialmente quando parecia que os Eagles estavam a dominar o encontro por completo, enchendo o campo com esse virtuosismo técnico e táctico. Não tendo sido a melhor prestação colectiva de Portugal, a verdade é que o três-de-trás conseguiu ser ameaçador durante vários momentos do encontro, com Simão Bento a liderar com convicção e a impor uma energia que tentou empurrar Portugal na direção da vitória. Cody Thomas também esteve em grande, com o pilar a ganhar a linha-de-vantagem cinco vezes de seis entradas, forçando dois erros à formação-ordenada contrária. Hugo Aubry e Hugo Camacho também merecem um destaque pelo jogo positivo realizado, especialmente Camacho que

PONTO ALTO: DEFESA FOI DANDO UMA SEGUNDA VIDA

Sim, os EUA marcaram três ensaios e conseguiram garantir uma vitória mesmo antes do apito final, mas houve um sentido de união na hora de defender e de tentar recuperar a oval para regressar ao ataque. No total, Portugal somou mais de 120 placagens, conseguiu arrancar três turnovers e forçar outras três penalidades, o que prova algum positivismo de um departamento de jogo fundamental para Portugal. A velocidade na saída pós-ruck ou formação-ordenada ajudou a limitar as possibilidades dos Estados Unidos da América em aproveitar o espaço, com Nicolás Martins, José Madeira, Tomás Appleton, Cody Thomas, Raffaele Storti a terem realizado um bom esforço neste aspecto.

Os três ensaios sofridos irão ser revistos, mas a verdade é que Portugal aguentou largos períodos a defender sem consentir pontos, sendo importante limitar o número de penalidades cometidas, um problema que já se tinha visto durante todo 2024.

PONTO A MELHORAR: ALINHAMENTOS INCERTOS E FALTA DE COESÃO

Seis alinhamentos perdidos, sucessivos erros de posse de bola, falta de energia e pujança e pouca cabeça nos momentos críticos do encontro, foram alguns dos erros que acabaram por condenar os Lobos a uma derrota ante a equipa anfitriã, tendo sido a quarta derrota em oito encontros jogados em 2024. Olhando só para os alinhamentos, a quantidade de boas oportunidades perdidas em lançamentos sem direcção de Luka Begic ou o timing atrasado dos saltadores acabou por penalizar excessivamente Portugal, ofertando várias oportunidades ao conjunto contrário para respirar e se reagrupar. Isto já tinha sido um problema vislumbrado frente à Geórgia e Springboks, o que nos diz que os Lobos estão a quebrar quando se sentem pressionados. A lentidão da construção do aparelho ofensivo esteve bem à vista, com o pack avançado a demorar oferecer uma segunda vaga intensa e rápida o que, mais uma vez, só ajudou aos Estados Unidos da América a se manterem em jogo.

Aos que dizem que os EUA têm mais minutos de jogos nas pernas, é importante lembrar que Portugal jogou bem mais encontros em 2024 do que os Eagles, com uma boa parte da equipa a fazer parte dos Lusitanos. A derrota de hoje, que tem mérito dos americanos, diz muito sobre os últimos dois jogos dos Lusitanos em que se sentiu falta de coesão, ideias e uma forma física que está a léguas de distância em comparação do que vimos em 2022 e 2023. Melhores dias virão, mas cometer erros destes frente à Bélgica e Alemanha em 2025 pode significar um adeus prematuro ao Mundial de Rugby 2027. Pode parecer um discurso demasiadamente alarmista, mas mais vale prevenir do que remediar e pede-se algum brio à estrutura da Federação Portuguesa de Rugby neste momento.

432207733_719476867003739_7487248034965810907_n.jpg
Francisco IsaacNovembro 4, 20245min0

Portugal já tem equipa para os internacionais de Outono 2024, com algumas novidades, regressos, ausências e certezas nesta lista de Simon Mannix para os encontros frente aos Estados Unidos da América e Escócia. Mas quem encaixa em cada secção? E o que podemos esperar dos Lobos?

NOVIDADES

Comecemos pelos estreantes, principalmente por Lucas da Silva, o talonador do CA Brive. Esta é a 3ª convocatória do avançado, que já tinha sido chamado por Patrice Lagisquet no Verão de 2022 e depois por João Mirra em Fevereiro de 2024, não tendo comparecido devido a pedidos expressos do Brive. Neste momento é o melhor marcador de ensaios da Pro D2 e um dos jogadores com melhor taxa de introdução no alinhamento da segunda divisão do rugby francês, podendo ainda se adicionar cinco turnovers e uma percentagem de 90% na eficácia a placar. Não beliscando o mérito e qualidade de Luka Begic – neste momento é titular no Stade Montois -, da Silva é um jogador numa forma estrondosa e que está a ser aliciado por clubes do Top 14, podendo vir a ser um elemento bastante útil para os Lobos… caso compareça às convocatórias.

Outra estreia nas chamadas à selecção nacional sénior masculina é a de Enzo Lopes, formação do Bassin D’Arcachon (Nationale 2). Formado no Union Bordeaux Bègles, o formação de 20 anos tem qualidade para chegar longe na modalidade, apesar de estar a sentir algumas dificuldades para se afirmar no seu novo clube da 4ª divisão francesa profissional. Neste momento está atrás de Samuel Marques, Pedro Lucas e Hugo Camacho, mas com tempo poderá conquistar um lugar na equipa.

Fábio Conceição, Vasco Leite, António Campos e Sebastião Stilwell são as restantes novidades no grupo de trabalho. Os três últimos três deverão estar na convocatória para o Campeonato da Europa sub-20 masculino.

RETORNOS

No que toca a regressos, Simon Mannix promoveu as chamadas de José R. de Andrade (AEIS Agronomia), Hugo Aubry (AS Béziers-Hérault), Lucas Martins (Agen), Raffaele Storti (Stade Français), Steevy Cerqueira (Orléans) e Samuel Marques (AS Béziers-Hérault) reforçando a equipa com jogadores experientes e que estiveram envolvidos nos trabalhos de preparação para o Mundial de Rugby 2023, ou que jogaram mesmo nessa competição. A chamada mais significativa é a de Samuel Marques, com o formação a poder voltar a vestir a camisola de Portugal depois do seu último encontro há mais de um ano e um mês. Samuel Marques está num excelente momento de forma, com nove jogos a titular nesta temporada o que já se transmitiu em 101 pontos (25 penalidades e 13 conversões), um número alto e que demonstra a importância do nº9 no Béziers-Hérault.

Lucas Martins que depois de ter surpreendido os adeptos portugueses entre os meses de Fevereiro e Abril, com cinco ensaios concretizados pelos Lobos, volta a estar nas chamadas da selecção nácional sénior. O ponta está a atravessar um dos melhores momentos da carreira, com dois ensaios marcados, cinco quebras-de-linha e doze defesas batidos nos cinco jogos em que começou pelo Agen. Hugo Aubry também está no grupo de trabalho, isto após ter falhado Julho devido a uma lesão grave, sendo o momento perfeito para voltar a vestir a camisola verde-e-vermelha.

Para fechar o capítulo dos regressos mais significativos, Steevy Cerqueira. O segunda-linha passou por um período cinzento, com uma lesão gravíssima sofrida ao serviço do Chambéry, que acabou por não renovar o contrato e a deixar o Lobo sair, com o futuro a ficar em dúvida até assinar pelo Orléans da Nationale 2. Neste novo clube encontrou uma segunda vida e é considerado um dos melhores jogadores da Nationale 2, especialmente na influência que tem na avançada do Orléans.

As principais ausências passam por Anthony Alves, Francisco Fernandes, David Wallis, Rodrigo Marta, Joris Moura (a atravessar um dos melhores momentos de forma da carreira), isto em comparação aos atletas convocados em 2024. Rodrigo Marta e Vincent Pinto estão de fora por lesão (4 a 5 semanas), enquanto Francisco Fernandes também está a contas com um problema físico. Joris Moura, ao que foi apurado por nós, ficou no clube a pedido do mesmo, uma vez que a luta pela manutenção na Pro D2 passa pelos próximos 3 jogos.

No geral, esta é uma das melhores convocatórias de Portugal e que olha para o futuro, sem deixar de lado alguns dos melhores jogadores do passado. Com uma linha de 3/4s que procura produzir soluções para o par de centros – Gabriel Aviragnet está na linha de sucessão, assim como Rodrigo Marta – e um bloco de avançados que tem de encontrar consistência nas fases-estáticas e na defesa ritmada, os Lobos têm soluções para todas as posições, algo extremamente importante para o que se segue em 2025, 2026 e, claro, 2027.

Importante dizer que certos atletas deverão regressar aos clubes após o primeiro jogo, a pedido dos clubes em França. Apesar de ser uma situação complicada, o objectivo máximo passa pelo apuramento para o Mundial de Rugby 2027, com os jogos contra a Alemanha e Bélgica a serem mais importantes que estes de Novembro.

Lembrar também da agenda dos Lobos para este Novembro: dia 9 de Novembro em Coimbra pelas 17h00 e dia 16 em Edimburgo pelas 15h10.


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS