António Salvador e o SC Braga fizeram um ataque público a Rui Duarte, treinador que foi estranhamente despedido no início de época após ter somado uns poucos resultados acinzentados, com a reacção da Associação Nacional de Treinadores de Futebol a realizar um total de… zero comunicados. Zero comunicados públicos. A honra de Rui Duarte foi colocada em causa, com o emblema bracarense a fazer uma espécie de extorsão ao ex-treinador numa tentativa de que este prescinda dos seus direitos. João Pereira é o escolhido para assumir o lugar de Rúben Amorim ao leme da equipa sénior masculina do Sporting Clube de Portugal e… processos judiciais à vista. Do nada, a ANTF sai da escuridão e assume uma atitude agressiva na defesa dos direitos dos treinadores, exigindo que o Sporting CP abdique de escolher o seu treinador, seguindo o manual à risca sob pena de ser levado à UEFA e a todo o tipo de tribunal desportivo e administrativo.
Dois pesos e duas medidas, é a única e possível forma de qualificar o pensamento da ANTF. Já quando foi Rúben Amorim a assinar pelo Sporting de Braga, a instituição qualificou de ‘vergonha’ e que iria lutar pela justiça desportiva até ao limite, numa demanda que facilmente se compara às cruzadas religiosas realizadas na Idade Medieval. O tom é exagerado e transpira de uma arrogância superlativa que deveria chocar o adepto comum.
Ninguém está a dizer que João Pereira não deve terminar os referidos graus da UEFA Pro, já que essa é a vontade demonstrada pelo agora técnico principal dos “leões”. Ninguém está a dizer que o Sporting CP, SL Benfica, FC Porto, FC Famalicão, ou qualquer outro clube têm permissão para saltar por cima de regulamentos e leis. Porém, quando a ANTF e a instituição que administra os cursos de treinador não estão dispostas a facilitar horários e arranjar soluções que resultem para todos, então devemos questionar a agressividade das palavras proferidas pelo responsável máximo pela organização que vela pelos direitos dos treinadores.
Quando voltamos a olhar para a situação de Rui Duarte e a falta de voz da ANTF para mover um processo contra António Salvador, a única reacção possível é de revolta e choque. Como é que a liderança da ANTF está mais preocupada com João Pereira do que Rui Duarte? Como é que se permite ao SC Braga fazer o que lhe apetece do seu antigo treinador sem sequer emitir um comunicado? Por isso, a preocupação da associação é que as pessoas tenham as ‘habilitações necessárias’, e uma vez que esse objectivo tenha sido alcançado, estão entregues ao Mundo. Uma habilitação académica não é sinónimo de sucesso ou competência, e a ANTF achar que basta isso para estar tudo bem encaminhado, demonstra o mesmo tipo de comportamentos que a Ordem dos Advogados ou Psicólogos, dois órgãos que estão só preocupados em fazer dinheiro.
Mas se o leitor pensa que não existe este universo de dois pesos e duas medidas, sugiro o seguinte exercício. Pesquisem no Google por “Miguel Afonso, Famalicão, ANTF” e deixem nos comentários quantos resultados encontraram. Irão encontrar um par de notícias, e apenas um par de frases do presidente, José Pereira, a dizer que uma investigação é necessário e que os suspeitos devem ser punidos. Mas de resto, nada mais se ouviu. A ANTF que devia ter levado a cabo uma luta total pelos direitos das mulheres, optou por lançar uma aglomeração de palavras que deverá ter sido escrita num escritório qualquer de advogados. Quando se dá mais importância ao facto de um treinador tem ascendido a um lugar de importância – e que deverá tirar o curso, como Rúben Amorim o fez também – do que a um que está sobre ataque do seu antigo clube, ou de um sujeito que abusou sexualmente de atletas, fica tudo dito da sua importância para a sociedade civil portuguesa.
Não há duas sem três: sabe como terminaram as outras queixas da ANTF contra treinadores do Sporting? https://t.co/GqYvY1aL4x
— Record (@Record_Portugal) November 14, 2024