Premier League: Uma análise cuidada aos “Down 4”

José Nuno QueirósOutubro 11, 201711min0

Premier League: Uma análise cuidada aos “Down 4”

José Nuno QueirósOutubro 11, 201711min0
Numa altura em que chegamos à segunda paragem nos campeonatos para compromissos internacionais, é tempo de olharmos para o mais competitivo dos campeonatos, a Premier League.

Com todos os olhos focados no topo da tabela da Premier League e no sensacional arranque das equipas de Manchester ou no desapontante início do Everton, aqui vamos olhar bem para o fundo da tabela e analisar as 4 equipas que ao fim de 7 jornadas ainda só festejaram, no máximo, por uma vez a vitória.

Uma análise ao que correu mal e onde podem estas equipas melhorar para sair do fundo da tabela classificativa.

Leicester City

Onde anda o Leicester campeão? Foto: TeamTalk

 

Que saudades da equipa que surpreendeu todo o mundo há duas temporadas atrás ao conquistar o título da Premier League! É que a equipa de Shakespeare esta época está na 17ª posição, apenas um lugar acima da linha de água, e com apenas 5 pontos (ou seja menos de um ponto por jornada, em média).

O Leicester conquistou a sua única vitória na Premier League na segunda jornada (vitória por 2-0 sobre o Brighton) e está, portanto, no quinto jogo consecutivo sem ganhar.

No entanto nem tudo é negativo: basta um olhar mais atento para o calendário para se verificar que das quatro derrotas já averbadas, as quatro foram para clubes que são crónicos candidatos ao titulo em Inglaterra (Arsenal, Manchester United, Chelsea e Liverpool) e a juntar a isto o Leicester ainda se mantém na Taça da Liga onde, aliás, eliminou o Liverpool.

Aquilo que parece preocupar os adeptos do Leicester são os jogos fora de casa contra equipas que, no papel, seriam mais frágeis, mas onde se registaram os dois empates da temporada (Huddersfield e Bournemouth), e a falta de jogadores que façam a diferença com golos no ataque, uma vez que esta equipa depende, e muito, de Vardy e Okazaki, responsáveis por 8 dos 9 golos na liga. Podemos perguntar o que é feito de um velho conhecido em Portugal, Islam Slimani, decisivo na campanha até agora na Taça da Liga, mas que no campeonato conta com apenas 92 minutos… A isto juntamos uma equipa que parece rodar à volta de apenas 16 jogadores (se contabilizarmos quem tem pelo menos 90 minutos jogados), sendo que, regra geral, 14 participam em cada jogo da equipa.

No geral, esta equipa do Leicester parece desesperar por dois jogadores. Em primeiro lugar Mahrez, que está demasiado longe da forma das ultimas épocas onde a sua velocidade, o seu um para um e facilidade e colocação de remate faziam a diferença. Para já 0 golos, 2 assistências e o direito a ir para o banco na última partida do Leicester. Os adeptos desesperam pelo jogador que explodiu há dois anos em Inglaterra.

O outro homem que tarda em chegar é o reforço Adrien Silva. Contratado ao Sporting em Agosto mas com um ligeiro atraso na inscrição que fez com que fosse inscrito só em Setembro, pelo menos no entender da FIFA que proibiu essa mesma inscrição, e mesmo que, segundo as notícias, o caso não esteja encerrado, ao que parece Adrien só vai ser reforço em Janeiro.

Depois da perda de Drinkwater, tem sido Ndidi a ocupar aquela posição, mas o defesa (adaptado ao meio campo) de 20 anos não tem as características necessárias para empurrar a equipa para a frente, nem tem a presença física para ocupar os espaços mais avançados como o faz Adrien e faziam dantes Kanté e Drinkwater.

O próximo jogo é em casa frente ao WBA e apesar das dificuldades, os “foxes” querem regressar às vitórias.

 

Swansea City

A equipa onde atua o português Renato Sanches ainda só conseguiu uma vitória até agora e está neste momento na zona de descida da Premier League com apenas 5 pontos. Só que, ao contrário do Leicester, a equipa de Swansea ainda só jogou contra dois dos candidatos ao troféu: foi goleado por 4-0 frente ao United de Mourinho e conseguiu um empate em Wembley frente ao Tottenham. A par deste impressionante resultado, apenas conseguiu empatar com o Southampton e ganhar ao Crystal Palace, equipa que está abaixo de si na classificação e de quem também se irá falar neste artigo.

Apesar da razoável performance defensiva da equipa, sofreu 8 golos e metade foram impostos pelo sensacional Manchester United, estando longe das equipas com pior defesa na liga (está inclusive acima de Liverpool e Watford, sétimo e oitavo classificados), é o ataque que mais deixa a desejar. 3 golos marcados e o segundo pior ataque da liga, apenas acima da desastrosa equipa do Crystal Palace, o mesmo Palace que encaixou 2 dos 3 golos marcados pelo Swansea.

Conseguirá Renato inverter o ciclo do Swansea? Foto: RTP

 

A equipa reforçou-se com dois nomes sonantes (Bony e Renato Sanches), mas tem sido o jovem de 20 anos Abraham que mais se tem destacado nesta equipa com dois golos marcados, o que, até ver, tem desiludido os adeptos do Swansea, que também se podem queixar de falta de sorte (ou concentração) da sua equipa que já por duas vezes viu o empate fugir com golos depois dos 90’ contra o Watford e o West Ham, tendo também perdido para o promovido Newcastle com um golo nos últimos 15 minutos de jogo. Isto demonstra que a equipa quebra muito na parte final do jogo, muito por culpa da perda do meio campo onde os três homens (Carroll, Sanches e Fer) não são muito fortes defensivamente, gostando de ocupar posições mais ofensivas, juntando-se assim a Ayew e aos dois pontas de lança, deixando os quatro homens da defesa bastante sós, como se viu no golo que dá a vitória ao Watford: um mau passe a provar a desconcentração e uma débil transição defensiva onde apenas os quatro defesas agiram e com pouca agressividade, permitindo que um jogador sozinho passasse por toda a defesa.

Depois de duas derrotas difíceis de digerir, segue-se agora uma dupla jornada com jogos em casa que começa com o Huddersfield e no qual é esperada uma vitória.

 

AFC Bournemouth

Depois de quatro primeiras jornadas para esquecer com quatro derrotas no campeonato, a equipa de Howe parece ter reagido e nos últimos 3 jogos arrecadou os primeiros quatro pontos da competição, só tendo perdido com o Everton fora de casa.

Neste momento, a equipa conta com 4 golos apontados (sendo que 3 desses 4 golos foram apontados nas três últimas jornadas) e 11 sofridos e aparece no penúltimo lugar da liga.

Numa equipa que entrega a Defoe e King toda a criatividade ofensiva e prefere olhar para o seu setor recuado tentando povoá-lo mais, tendo até já utilizado cinco defesas com o Manchester City e Arsenal, os golos parecem não aparecer e a defesa não se tem provado eficaz.

O treinador parece ter percebido isso e mudou a estratégia, passando de “tentar não sofrer golos”, para “procurar marcar mais golos”, abdicando de colocar tanta gente atrás. Com esta mudança foi premiado, conseguindo logo ganhar ao Brighton e empatar com o Leicester, mostrando que pode competir de igual para igual com equipas do seu nível e tentar apagar a imagem deixada no início do campeonato, com WBA e Watford, onde não foi capaz de marcar golos.

Ao largar tanta gente atrás, o técnico conseguiu ganhar linhas de passe em zonas mais adiantadas do terreno e dar outro apoio aos homens da frente, para aparecer mais vezes. Prova disto mesmo é as tentativas de golo da equipa, média de 7,5 nas quatro primeiras jornadas contra 14 nas três últimas, quase o dobro!

Resta agora saber como esta equipa vai lidar com adversários mais fortes, sendo, por isso mesmo, interessante o embate contra um Tottenham em forma e na casa do adversário, para perceber como vai reagir o Bournemouth a este melhor momento que também atravessa.

Defoe é o nome mais sonante dos “Cherries” Foto: oGol

 

Crystal Palace

É a pior equipa da Premier League e também a pior equipa se analisarmos os principais campeonatos europeus. Os números no futebol podem-nos enganar muitas vezes, mas, neste caso, não tem nada que saber: 7 jogos, outras tantas derrotas, 0 pontos, 0 golos marcados (pior ataque na liga) e 17 golos sofridos (pior defesa da liga)

A entrada não podia ser pior quando, logo na primeira jornada ,viram o promovido Huddersfield ganhar por 3-0 contra todas as previsões nas casas de apostas e logo em casa do Palace, ao que se seguiu o desaire com o Liverpool.

Nestes dois jogos a equipa alinhou num estranho 3x4x2x1 mas onde os médios ofensivos Townsend e Loftus-Cheek (emprestado por Chelsea) nunca conseguiram unir a defesa ao ataque, onde se encontrava um homem bastante só, no caso Benteke. Também se denotou fragilidades defensivas graves fruto do pouco suporte defensivo que a equipa tem, onde coloca apenas 3 homens.

De Boer tentou mudar este sistema, dando um companheiro na frente a Benteke, mas continuou a demonstrar fragilidades com os 3 homens atrás e acabou derrotado pelo Swansea, apesar de ter tido muitos mais lances de ataque, que surgiram simplesmente por dar mais apoio ao ponta de lança. 16 tentativas de golo contra as 4 do jogo com o Liverpool e as 14 do Huddersfield (que surgiram já em desespero e maioritariamente na segunda parte). Ainda assim o acerto com a baliza foi pobre, com uma média de 3 a 4 remates enquadrados por jogo.

De Boer finalmente adotou um sistema com 4 defesas (o tradicional 4x3x3) para o Burnley, mas um golo a abrir foi suficiente para dar a vitória ao Burnley e pôr um ponto final na carreira de De Boer ao serviço do Palace (começam a ser demasiados os despedimentos deste treinador nos últimos tempos, sempre a apresentar um futebol muito pobre), e onde a eficácia voltou a fazer a diferença: 4 tentativas de golo para o Burnley, dois remates enquadrados e um golo marcado, 23 tentativas para o Palace, apenas 4 (!!) foram enquadradas e zero golos novamente. Para uma equipa com homens fortes na frente, como o experiente Benteke, ou Cabaye no meio campo, é difícil de explicar.

Chegou então Hodgson, mas até agora nada mudou, 3 jogos e mais três derrotas e se a primeira foi difícil de aceitar num jogo muito equilibrado contra o Southampton, com o mesmo número de oportunidades para cada lado e onde mais uma vez os homens do Crystal Palace desiludiram ao não serem eficazes, os dois últimos foram autênticos atropelamentos proporcionados pelas equipas de Manchester (chapa 5 do City e chapa 4 do United), que deixaram bem patentes as dificuldades da defensiva do Palace (Rashford passou por Ward como se estivesse a jogar contra uma equipa de amadores). no entanto seria algo já expectável visto serem dois confrontos contra as duas melhores equipas até ao momento em Inglaterra e que não colocam em cheque o novo treinador, que tem, no entanto, muito trabalho pela frente se quiser salvar esta época.

É no ex-selecionador inglês que o Palace deposita agora as esperanças Foto: ITV.com

 

Segue-se agora o Chelsea e, apesar de, no futebol não haver resultados decididos à partida, esperam-se novamente muitas dificuldades contra o campeão e prevê-se um aumento no número de derrotas e os mesmos 0 golos sofridos no campeonato. Nada fácil a vida para o Palace.



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